10 Livros brasileiros que mostram que há boa literatura longe das editoras tradicionais

Penso que talvez nem mesmo uma tese de doutorado hoje fosse capaz de dar conta suficientemente das complexidades dos sistema literário brasileiro diante das diversas e distintas plataformas de publicação, sendo geralmente cada uma deles um mundo bastante à parte de modo que nem sempre a chamada literatura comercial dialoga com a dita alta literatura, quiçá então os mundos próprios de autoria na internet. Nesse furacão F5 que ocorre na produção literária é bem provável que venhamos a jamais conhecer ótimas obras de ficção, ainda que todas elas ocupem seus espaços em seus respectivos universos. Essa lista de certa forma demonstra essa diversidade e reuni aqui publicações (em boa parte auto publicações, ou publicações mistas, ou sob demanda) que apresentam importantes e relevantes elementos literários revelando que nossas editoras - e talvez o público leitor - não dê conta de tantas boas novidades de nossa literatura, pois as obras aqui, embora publicações talvez não conhecidas, poderiam pertencer aos mais exigentes círculos literários. Confira:

1 - Travessuras da Minha Menina Má, de Otávio Bravo: Nos próximos dias publicaremos a avaliação desta saga em três volumes que é além de ambiciosa, muito eficiente no que se propõe, além de dar fôlego ao romance burguês que autores renomados nem sempre conseguem. Com forte influência da obra de Vargas Llosa e com um narrador marcante por sua subjetividade e pela nudez que narra a si mesmo tem ainda tem o mérito de trazer um Rio de Janeiro de modo peculiar cuja decadência corre paralela a do próprio protagonista. Publicado pela Chiado, cujo catálogo pode ser um tanto esquizofrênico, mas que tem melhorado, é uma romance que poderia sair pelos principais selos do país;

2 -  Depois do Fim, de Alex Bezerra de Menezes: Publicado pela Simonsen que atua através do crowdpublishing esse é um trabalho dos mais dignos da literatura brasileira por suas experimentações estéticas, pela linguagem oral e erudita convivendo num intercâmbio em que faz saltar nossas mazelas sociais tratando de uma época ainda negligenciada por nossos autores. Além disso é uma narrativa de compromissos estéticos e políticos, coisa que toda literatura de fato nos exige. Uma obra para o mais duro dos leitores acadêmicos ler e gostar;

3 -  Zon, O Rei do Nada, de Andrei Simões: Publicado pela pequena editora Empíreo, a narrativa ilustrada com traços significativos de Lupe Vasconcelos é uma viagem psicodélica e fragmentada de pendências humanas altamente filosóficas. É livro livro de leitura exigente e de ótima riqueza estética que não vê-se muito nos selos mais tradicionais, em parte porque esta é o tipo de obra que num mercado restrito às vezes não abre-se a experimentações ousadas;

4 - Selva! Amazônia Confidencial, de J. C. Toledo Hungaro: Confesso ter criado especial simpatia pelas publicações deste autor brasileiro radicado no Uruguai. Dele li também O Cambista do Cais do Porto e Sobre Caçadores, Vigaristas e Banqueiros Suíços, também muito bons. A obra do autor, embora encontremos um ou outro deslize, mas raros, tem um sumo de aventura como poucos e são narradas com grande propriedade. Esta obra específica, precede por exemplo a famosa novela Império, mas trata de tema semelhante, construindo um selvagem ambiente de riquezas e lutas na floresta por suas pedras preciosas;

5 - O Ladrão de Destinos, de Nanuka Andrade:  C. S. Lewis dizia que toda obra juvenil ou infantil escrita para crianças seria provavelmente ruim. Ainda que não o seja grande conhecedor do gênero sempre tive impressão que as obras nacionais para esse público sofressem com esse problema, o que não é o caso desta fantasia urbana de grande força narrativa e personagens elaborados. Gostei tanto que cheguei à época da leitura de sua primeira publicação pela Subtítulo a mandar e-mail para a Companhia das Letras indicando-a. Posteriormente a obra veio a ser publicada pela Novo Conceito, mas chegou numa hora ruim da editora, não fosse isso, creio que poderia ter tornados-se um grande sucesso de público a rivalizar com youtubers;

6 -   Circo, de Alckmar Santos: Publicado pela pequena InVerso (cujo catálogo é bastante literário) a narrativa revisita tempos sombrios do Brasil por meio de fortes referências estéticas de nossa literatura. Trata de uma Brasil diverso, rico e adepto da prosa solta num romance que tem um cadinho do português, mas especialmente a influência de autores nacionais. Trata-se de um romance vigoroso e de fortes aspectos literários;

7 - A Era de Ouro do Pornô, de Zeka Sixx: Chulo, sujo, e verborrágico, é uma obra verdadeira, em suas falhas e suas virtudes. Ainda que possa desperta dúvidas, sua narrativa é eficiente ao construir tanto seus protagonista quanto o ambiente pequeno burguês de um jovem porto alegrense que morou um tempo no exterior e agora volta ao cenário cultural noturno da cidade;

8 - Nove Tiros em Chef Lidu, de Paula Bajer Fernandes: Enquanto sátira do gênero policial a obra é divertida e deliciosa e talvez mais eficiente muita narrativa apresentada como policial em grandes selos. Para que gosta de literatura policial é uma boa pedida;

9 - O Viajante Imóvel, de Júlio Ricardo da Rosa: Publicado pela pequena editora gaúcha Dublinense, é destas obras nacionais que nos levam à exaustão, e entendam isso como mérito, visto que a proposta da narrativa é justamente a de dar voz à amargura e a rabugice de um personagem potente enquanto instrumento literário;

10 - Mosaico, de Nicolas Streisky: Outra obra publicada pela Chiado de grande qualidade. A obra reúne contos de Ficção Científica de alta qualidade e páreo às publicações da era de ouro do gênero em suas revistas pulp. De escrita forte e complexa enquanto premissas necessárias ao gênero, sem dúvidas está entre os melhores autores destas obras, no país;

*Logicamente este é um apanhado pequeno entre minhas leituras, algo que sempre limita nosso alcance. Por isso, compartilhe nos comentários outras sugestões de obras fora do círculo tradicional, mas que sem dúvida alguma poderiam enriquecer o catálogo de grandes editoras.

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