10 Considerações sobre O senhor dos anéis: as duas torres ou sobre escolhas difíceis

 O Blog Listas Literárias está lendo O senhor dos Anéis, tendo passado já por A sociedade do anel,  chegando agora a O senhor dos anéis: as duas torres, de J. R. R. Tolkien; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro ou sobre as escolhas difíceis que se apresentam à Sociedade do Anel; confira:


1 - Talvez seja importante destacar a esta altura que como destacado na edição anterior, O senhor dos anéis não se trata de uma trilogia, mas sim de um livro publicado em três volumes, o que se mostra evidente não apenas pela sequenciação das páginas, mas pela sequencialidade da narrativa. No livro anterior temos os livros I e II da obra, enquanto As duas torres traz os livros III e IV e neles, algumas mudanças referentes aos anteriores, especialmente quando pensamos em foco narrativo;

2 - O livro III chega quebrando uma questão importante dos anteriores que até então tinham Frodo e os acontecimentos em seu entorno como foco narrativo da narração; o livro III, integrante de As duas torres, contudo, quebra essa centralidade, balanceando o foco narrativo entre os grupos que se dividem após os fatos acontecidos com Gandalf em Moria. No caso, os grupos de Aragorn e de Merry e Pippin. Assim, o livro principia com a partida de Boromir e então toda essa parte se concentrará na caçada ou busca de Aragorn aos dois hobbits, Merry e Pippin. É quando também começa-se a desenhar a guerra que avança entre as forças de Sauron e as forças que simbolizam "o bem";

3 - Poderíamos pensar nesse livro enquanto preparação da guerra, pois revela-se uma passagem marcada pelas questões de geopolítica da Terra Média. A bem da verdade, seja ou não pela experiência de seu contexto histórico, Tolkien desenha a guerra terrível a partir de uma série de fatos e acontecimentos que vão se interligando, o que reforça a ideia desse volume enquanto o volume das escolhas difíceis. que vão desde as escolhas que Aragorn precisa fazer, bem como, de tantas outras escolhas, como as feitas pelos ents e não sem a influência de Merry e Pippin, o que pode ser mostrar relevante para os andamentos do conflito, as escolhas de Saruman, as escolhas, de Rohan, enfim, temos aqui uma grande sequência de escolhas, muitas vezes sopesadas verbalmente por seus personagens embrenhados em dúvidas e inseguranças;

4 - Assim, por boa parte do segundo volume, sua metade mais ou menos, quase chegamos a esquecer da existência de Frodo, ainda que sua demanda seja sempre lembrada. O livro III narra séries de acontecimentos que acontecem ao largo da jornada de Frodo o que reforça, inclusive, aquilo que é a força de seu demanda aparentemente desesperançosa. Para Frodo e os nove o segredo de sua missão é a grande arma e de algum modo a atenção de Sauron e seus aliados às guerras narradas no livro III colaboram na demonstração e justificativa do fato de Frodo passar despercebido em sua jornada. Isso porque uma guerra se dá em múltiplas frentes e acontecimentos, como veremos nesta parte da narrativa;

5 - Se a questão das escolhas se destacam no livro III, isso se mantém no livro IV com decisões relevantes, mesmo quando não tomadas, quem sabe da melhor forma. Há quase que uma declaração da importância do acaso em alguns acontecimentos. Entre os momentos cruciais a respeito do tema escolhas, temos as escolhas de Sam nos túneis de Laracna ou mesmo o julgamento de Faramir. Isso sem falar nas escolhas de Frodo Bolseiro em relação a Gollum. Há em Frodo a tentativa de entender a vilania de Smeagól, certa esperança de haver nele alguma redenção. Aliás, Frodo nesse sentido mostra-se um herói um tanto curioso sob alguns olhares, pois que talvez nem todos os leitores de O senhor dos anéis convirjam com o pensamento de Bolseiro de sopesar o dano que o anel faz a Gollum quase vendo-o como uma "vítima do sistema"; A nós, essa é uma das características importantes do personagem que não cai em ideias simplistas, o que se vê em Sam, muitas vezes;

6 - O livro IV é o que narra toda a caminhada de Frodo e Sam até Mordor e também as reorganizações do trajeto. É quando Gollum une-se à dupla na constituição de uma temerária e frágil aliança. Vale destacar que a narrativa como modo de reforçar a ambiguidade de Gollum mostra a cisão das duas personalidades do personagem. A narrativa perpassa da travessia do pântano, a primeira olhadela para Mordo e o retraçar da rota, este bastante influenciado pelos planos e esperanças de Gollum em retomar o anel. Nessa mudança outros momentos relevantes, como o encontro do trio com os homens de Gondor liderados por Faramir, então um curioso personagem capaz de contrastar com o irmão, Boromir. Faramir revela-se um sábio e um intelectual a despeito de ser também um guerreiro; aliás, aqui abrimos espaço para refletir sobre duas questões que a nós mostraram-se importantes ainda mais pelo fato de surgirem em personagens que não estão no círculo de protagonistas;

7 - A primeira reflexão que consideramos importante surge de Faramir, um homem que está em guerra, que faz a guerra, mas apresenta um olhar lúcido e não totalmente épico-heróico da guerra. Isso porque Faramir concebe a guerra sob uma única forma e sob uma única justificativa, e ainda que se possa dizer que ele ao cabo aceita a guerra, mas o faz em termos que a qualquer um é difícil discordar, já que entende-a apenas em luta contra um inimigo invasor e destruidor. Isso, embora uma compreensão da guerra, é bem mais restritiva que a maioria dos olhares para a guerra que buscam justificá-la. Faramir em sua intelectualidade, inclusive, tenta afastar a ideia de qualquer glória que perdure para além da guerra, mostrando-se a seu modo crítico a concepções como heróis de guerra, um contraste com toda a narrativa, inclusive, cujas canções de feitos são elementos fundamentais na construção da mitologia da e na narrativa;

8 - Outra reflexão que consideramos relevante, e embora Sam possa soar como protagonista, nem sempre é assim, nos chega a partir do próprio rude e "menos" sábio mestre Samwise. A reflexão, parece-nos demarcar uma importante concepção da história para a narrativa. A conversar com Frodo sobre as aventuras ele diz "normalmente parece que as pessoas simplesmente caíram dentro delas [histórias/aventuras] - os percursos delas foram traçados assim, como o senhor expressou. Mas acho que elas tiveram montes de oportunidades, assim como nós, de darem meia-volta, só que não deram. E se tivessem dado, nós não iríamos saber, porque eles estariam esquecidos". Há pelo menos duas coisas muito importantes a considerar aqui. Falamos acerca das escolhas difíceis, conscientes ou não, no decorrer do volume e a frase de Sam relaciona isso com o processo histórico, reflete a possibilidade menos de uma predestinação que a história enquanto processo e fruto de tomadas de escolhas, considerando, inclusive, a não tomada de escolha, mesmo uma escolha. Não ir à aventura, por exemplo, trata-se de uma escolha. Além disso, as reflexões de Sam apontam para outro elemento da história, que escreve-a? Mesmo que pergunte-se em qual história estão, dos finais felizes ou da desolação, fica implícito a questão de que o vencer, os feitos grandes e menores no decurso histórico é que escrevem e permanecem na história. Cremos que tal passagem possa promover interessantes debates quanto a história em O senhor dos anéis, o que, todavia, demanda espaço mais amplo para essa discussão;

9 - Aliás, há na obra certa contradição nesse olhar de Sam à História e o olhar que parece pairar sobre toda a narrativa e especialmente a partir das frases enigmáticas de Gandalf, pois cabe a este o preconizar da ideia de predestinação, até porque o tempo para Gandalf é um tanto quanto único, com saltos entre passado, presente e futuro. Queremos dizer, na verdade, que o que Gandalf emana é a destinação de toda jornada, que fica explícita em sua crença no "cumprir seu papel nessa jornada". É como se o mago atuasse com certa resignação ao destino, para ele, todos têm um papel a cumprir na demanda, seja Gollum, Saruman ou seus associados. Isso significa que é retirado dos sujeitos a autonomia plena, um olhar com suas influências filosóficas e metafísicas que podem gerar diversos debates; Ou seja, em grande medida, há esse debate interno entre a autonomia das personagens ou suas sujeições ao destino, ao que lhes está programado, debates que reforçam o misticismo e as bases mitológicas que influenciam a narrativa;

10 - Enfim, embora volume de intensa ação, já que aqui se intensifica a movimentação dos personagens, bem como os acontecimentos da guerra, As duas torres abre-se também a uma possibilidade de reflexões que demandam e exigem recolhimento com destaque espacial à natureza das escolhas que fazemos; tudo isso enquanto a esperança cai - mas também renova-se - e as personagens avançam ao derradeiro encontro final entre as forças que colocam-se do lado do bem enfrentam enfim o grande mal, Sauron. Seguimos como Frodo às Montanhas da Perdição

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4 Comentários

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