6 Razões porque não faz sentido uma lista com melhores livros do séc. 21

No decorrer da semana fez muito barulho lá fora e aqui, afinal, brasileiro adora repercutir e dar ibope para norte-americano, a lista com uma seleção do The New York Times com os 100 melhores livros do séc. 21. Neste post compartilhamos 10 razões porque não faz sentido algum realizar esse tipo de lista agora, confira:


1 - O séc. 21 é um devir, não um já foi: fazer uma lista sobre algo pressupõe-se avaliar e englobar toda a totalidade do tempo que se propõe, por exemplo, 100 livros do séc. 20. Ocorre que o séc. 21 é ainda um infante, nem chegou à sua metade, na verdade um gigantesco devir com muita água a passar sob essa ponte chamada séc. 21, então como definir melhores livros de um século que ainda não foi?

2 - O tempo e a literatura tem seus compassos: Um detalhe muito importante: essas faixas divisórias ajudam e são construídas por nós, mas bem sabemos que suas fronteiras podem até mesmo se esgarçar com comportamentos e características entrando século adentro. O que queremos dizer é que muitas obras ali, mais do que compor um quadro do séc. 21 podem na verdade trazer ecos do século que se foi, ou seja, do séc. 20. Middlesex, por exemplo, ali inserido vai remontar muito mais às questões do séc. 20 que o séc. 21. Há outros que vão na mesma toada;

3 - Lista que nasce incompleta: Partindo das duas questões anteriores uma razão fundamental, portanto, é que essa é uma lista que a despeito de seu título nasce incompleta e não dará ideia das "caras" do séc. 21;

4 - Retrato parcial e superestimado: A lista do The New York Times além, portanto, de entregar-se totalmente parcial, ao não se aguardar a plenitude do tempo que pretende abarcar, ainda adentra ao risco de trazer um recorte composto por obras, algumas delas, superestimadas. The undeground railroad, por exemplo, é um bom livro e traz relevante temática, mas para além disso, é difícil encontrar elementos que o coloquem num círculo literário das grandes obras da literatura; Mesmo o renomado e aclamado Não me abandone jamais, do Ishiguro é um tanto complexo se pensarmos sobre o que faz uma obra uma obra literária díspar. O pintassilgo é outra narrativa integrante da lista que por vezes consideramos muito superestimada;

5 - Visão imperialista: Obviamente iremos aqui nos referir especificamente da lista do The New York Times. Obviamente bem sabemos das tantas características das listas, das suas subjetividades, incompletudes e transmissão de determinados olhares, contudo, a origem de onde vem, para o bem e para o mal causa um grande impacto no mundo todo por sua capacidade de influência. Por isso mesmo é preciso destacar isso, esse visão de certa forma imperialista repercutindo as práticas de leitura, obviamente norte-americana, o que torna a lista extremamente imperfeita. Primeiro que, em razão disso há uma grande quantidade de narrativas norte-americanas, quiçá uma das literaturas mais superestimadas do mundo já que o poder geopolítico do país importa mais que as pretensas qualidades para essa arte que é a literatura. Para a literatura norte-americana, convenhamos, falta criatividade, falta ambição e capacidade contestadora que renova o fazer literário. Por exemplo, metade daquela lista não ataria as chuteiras de um Cidade de Deus, por exemplo. E mesmo que traga exemplos de literatura estrangeira, o quadro é reduzido o que faz daquela lista uma grande desnecessidade;

6 - Nomenclatura correta: A bem verdade, se desejamos tentar compartilhar um olhar sobre as produções literárias desses tempos mais recentes, melhor proveito e com maior correção seria nomear "100 melhores livros das duas primeiras décadas do séc. 21". Além de fazer mais sentido, é mais correto já que bem sabemos, tal lista é provisória porque é provável que daqui a 70 anos os integrantes dessa lista de 100 talvez sobrevivam em relevância uns 10, não muito mais que isso. Aliás, nessa nossa lista de 10 melhores da última década há pelo menos 1 que poderia estar entre estes 100.

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