Segue rendendo a lista do New York Times com melhores livros do século. Nós falamos disso aqui. Entre as tantas questões levantadas, entre os críticos, especialmente, o problema da lista excluir dela tudo aquilo que não esteja em língua inglesa. De fato, a lista é bastante concentrada no olhar míope dos norte-americanos, nós, aqui, por exemplo, teríamos obras nacionais que poderiam estar numa lista dessas, inclusive com melhores qualidades. No post de hoje selecionamos 10 livros brasileiros que entrariam fácil entre os melhores do séc. XXI [pelo menos até agora]:
1 - Cidade de Deus, de Paulo Lins: Talvez seja o grande romance nacional desde Grande sertão: veredas. Uma obra que na forma e na temática traz olhares relevantes sobre questões caras ao que é o Brasil em todas suas complexidades. Da gentrificação ao racismo estruturado num país de miseráveis que esperam um devir que nunca lhe chegará. Um livro de impactos literários, sociológicos e filosóficos que não temos receio algum de dizer que bem melhor que boa parte da lista do NYT;
2 - O avesso da pele, de Jeferson Tenório: O livro nacional mais perseguido em tempos recentes. Isso porque desnuda com uma qualidade poucas vezes vistas o racismo estrutural numa sociedade que ao longo do tempo finge não ser racista. Todavia esse é mais um dos elementos importantes da obra, mas lembramos que suas qualidades são tantas, da estética de uma narração capaz de cooptar os leitores a partir da primeira linha a narrativa é literatura em todos os seus aspectos primorosos;
3 - Desesterro, de Sheyla Smanioto: Esse é um livro que temos em muita alta conta aqui no Blog. Vencedor do Prêmio Sesc quando ele ainda era digno, a narrativa é dessas coisas que só encontramos no Brasil. A aridez da existência feminina numa terra muitas vezes seca e hostil nos chega por meio de uma narrativa completa de camadas e com uma estética que apenas a boa literatura pode nos entregar. É provável que poucas vozes no mundo sejam capazes de trazer com tamanha força a existência feminina em um mundo bem hostil às mulheres;
4 - O cheiro do ralo, de Lourenço Mutarelli: É bem conhecido dos leitores aqui do blog nosso apreço por Mutarelli, certamente um dos autores mais singulares da literatura mundial. Muitos de seus livros são superiores a muitas obras presentes na citada lista e Mutarelli é destes autores que entrega-nos literatura em máxima potência com sua maestria de jogar com questões estéticas e de linguagem das narrativas, a utilização de fontes populares e eruditas em seu jogo de referências e polifonia, sem falar no alto grau de debate e reflexão filosófica contida em suas obras, como nessa sua obra de estreia;
5 - Como Se Estivéssemos Em Palimpsesto de Putas, de Elvira Vigna: Outra voz relevante desse século na literatura brasileira, o olhar de Vigna para as coisas é único. Com uma linguagem carregada de metáforas e no caso desse livro o centro no não, nos não acontecimentos que vão constituindo a persona tornam a obra uma das grandes narrativas nacionais;
6 - Marrom e Amarelo, de Paulo Scott: Outro baita romance de uma literatura nacional que cada vez mais centra o foco em nossa busca de identidade centrando o olhar no que em boa parte da literatura nacional foi sendo escondido ou retirado do cânone, a questão racial. Um romance contemporâneo mas cujas raízes do que trata são profundas. Além disso, a obra traz com muito equilíbrio o quão complexo é pensar a questão racial num país como o Brasil;
7 - Orelha lavada, infância roubada, de Sandra Godinho: Entre a canção e a poesia, entre a prosa e o lírico, uma obra em que tudo e fluido quando se pensa em estética. A narrativa joga com as fronteiras por vezes mais ou menos estabelecidas na literatura. Aqui um retrato cruel de como se trata a infância neste país. Godinho estabelece magistralmente o contraste entre a ingenuidade da infância e a crueldade com que o mundo trata essa infância;
8 - , O verão tardio, de Luiz Ruffato: Uma narrativa da vida comum, por isso bastante intensa. Ruffato certamente está entre os grandes autores brasileiros e esse romance traz um retrato de um país em mudança e permeado pelas condicionantes éticas em suas mais distintas camadas. Um olhar interessante do que constitui as pessoas;
9 - Assim na terra como embaixo da terra, de Ana Paula Maia: Consideramos Ana Paula Maia uma as autoras mais impactantes da literatura brasileira e seu projeto bastante ambicioso. Capaz de retratar uma natureza cruel, as obras da autora são demarcadas por um naturalismo dilacerante. Muitos de seus livros poderiam estar nessa lista, colocamos este de uma violência atrás e de um espaço e enredo capazes de dar aos leitores o estranhamento que tanto é caro para a boa literatura;
10 - Delacroix escapa das chamas, de Edson Aran: A literatura brasileira sempre nos entregou experiências com linguagem de vanguarda, caso desse distópico e satírico trabalho de Aran que vai tratar com imenso sarcasmo os alicerces de uma sociedade que se baseou apenas pelo consumo, a única identidade possível numa sociedade de consumo. O livro é meio que uma alucinação, mas cada vez mais uma alucinação que se forma reflexo.