10 Considerações sobre D. & o Procurador, de Fauno Mendonça ou sobre novas histórias de velhos conhecidos

O Blog Listas Literárias leu D. & o Procurador, de Fauno Mendonça. O livro é uma publicação independente e neste post você confere as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:


1 - Partindo da tradicional estória de Drácula, Fauno Mendonça recria a trama dando seu próprio olhar ao personagem, bem como, em seu trabalho levando ao gótico da narrativa a introdução do caráter de romance histórico que ganha mais força nessa publicação. Nesse sentido, D. & o procurador partem de velhos conhecidos - mas também novos personagens, para construir o olhar peculiar do autor sobre a conhecida narrativa;

2 - O título do livro parte justamente da aproximação do Conde ao personagem próprio de Mendonça, o procurador Connor Burke que será constituído procurador dos negócios de Drácula. Entretanto, no decorrer da narrativa o Conde mais será um mestre, um mentor, orientador que propriamente um cliente. Mas antes de tratarmos disso, compartilhamos algumas considerações necessárias quanto à obra;

3 - Primeiramente faz-se necessário o leitor compreender o caráter independente da narrativa. Tal característica estará mais evidente na produção do "objeto" livro, com um material não muito comum às principais publicações. A obra carece de uma diagramação profissional, embora não atrapalhe a leitura. Todavia a disposição estranhas das páginas - a bem da verdade é provável que a obra tenha sido impressa a partir de um documento .doc -, a disposição do projeto gráfico, todo ele é um tanto estranho, especialmente a leitores contumazes. A qualidade do material e do papel também podem prejudicar a durabilidade. Enfim, consideramos relevantes citar tais questões, porque a produção transparece certo amadorismo que contrasta com o principal, a boa qualidade do texto;

4 - Não entremos ainda nos riscos de tal escolha, ou seja, construir uma história alternativa a uma trama canônica. Esse é outro elemento. Aqui destacamos em contraste com os ares amadores (diga-se que é possível uma produção independente do mesmo nível que produção de grandes editoras com algum conhecimento das etapas, até elogiamos alguns casos aqui no blog) da obra, o texto de Mendonça que é bem desenvolvido e com desvios pontuais já que estamos falando de uma obra de certo volume. Ainda que exista gralhas e alguns problemas textuais que escapam, de modo geral, o texto do autor é bem desenvolvido e bem organizado, até por isso é que destacamos que uma boa produção só melhoraria as possibilidades da narrativa;

5 - Agora adentremos à obra em si. Mais de que isso, aos riscos assumidos ao tratar de ou recriar personagens canônicos de complexos, caso de Drácula. Isso inicialmente demanda que se traga algo novo e Mendonça fica preso na tentativa de conciliar a figura histórica e o mito gótico de um conde que quando manifesta-se em sua voz em primeira pessoa procura todo o tempo convencer acerca de sua própria mitologia e figura, mas talvez, sem as camadas mais profundas que se exigiria para tal complexidade;

6 - Dentre os desafios de se fazer isso, como Fauno Mendonça opta por ambientar sua narrativa ao final do período vitoriano como no clássico, acaba sofrendo com os anacronismos, especialmente quando os próprios personagens usam a nomenclatura criada a posteriori. As divagações do conde sobre a era vitoriana constituem-se os principais exemplos, mas hão outros no decorrer da narrativa que chamam a atenção dos leitores;

7 - Além disso, no livro há uma problema a se considerar: o rebaixamento de Drácula. Fica difícil não considerar isso tamanha relevância dada ao procurador Burke, que concentrará, aliás, a grande parte das ações narrativas em sua viagem à Transilvânia, além da importância e dos elogios que se lhe destacam;

8 - Isso porque o protagonismo da narrativa é de fato do procurador. Ele é posto no espaço astucioso, ele vai sendo elogiado ao decorrer da trama e será ele que no decorrer da narrativa desempenhará realmente o papel do herói em juma jornada de aprendizado, de um despertar;

9 - E a importância de Connor Burke no romance se dá justamente pelo processo de despertar de uma consciência nacional que lhe pretende dar o autor, justamente pelo fundo histórico do romance, que aparentemente tênue, ganha relevância e status maior quando do desfecho do procurador entendendo-se então enquanto irlandês e a partir da consciência despertada com o aprendizado com D. vislumbra um por vir do seu papel a desempenhar na marcha histórica. 

10 - Enfim, D. & o Procurador tem seus riscos e suas potencialidades, mas o autor bem o sabe disso. Fauno Mendonça nesta obra apresenta bom domínio da escrita e nos entrega uma versão alternativa de Drácula, personagem marcado por tantas versões alternativas. Talvez por isso, aqui o Conde sirva de escada para o crescimento de um personagem cujas intenções é pintá-lo sob a ética da construção de uma identidade nacional ainda não resolvida na Bretanha. As estrelas abaixo se dão pelos fatores de produção citados acima e pelas possibilidades de avançar e melhorar a narrativa.

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