10 Considerações sobre O grande desafio, de Pedro Bandeira ou se metendo onde há perigo...

O blog Listas Literárias leu O grande desafio, de Pedro Bandeira, publicado pela Richmond e integrante do PNLD Literário. Neste post confira as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro:



1 - Publicado originalmente em 1996, O grande desafio de Pedro Bandeira é um livro que pretende despertar o desejo pela leitura através do mistério e da ação, muito mais da segunda, é bem verdade, tendo como protagonista um menino cego visto sob um prisma de todas as suas potencialidades a despeito dos desafios de sua realidade;

2 - Estamos falando de Toni, aluno do nono ano de uma escola tradicional - e privada - que revela-se bastante curioso quanto talentoso, especialmente com os novos equipamentos tecnológicos. Toni é  a espécie de príncipe encantado que graças à sua paixão por Carla, se envolverá numa investigação a respeito do envolvimento de diretores da escola num escândalo econômico;

3 - E aqui já devemos ponderar dois elementos importantes. Ao jovem leitor de hoje da obra talvez seja interessante tratar da época de escrita do trabalho por causa dos anacronismos que podem saltar aos olhos, como a relação tecnológica, que no caso específico dessa edição pode causar certa confusão devido aos paratextos, especialmente as ilustrações, contemporâneas com direito a selfie, entretanto, sem que isso seja possível no tempo que se passa a narrativa. Consideramos as ilustrações dessa edição um problema pelo fato de que elas podem levar os leitores a enganos, o que causaria estranhamento, por exemplo, na falta de intimidade de Marta, mãe de Toni com os computadores do trabalho;

4 - Aliás, falando em paratextos, os resumos e apresentações dos personagens no princípio do livro são spoilers que tiram o mistério da leitura, que poderia se tornar mais interessante e instigante se eles. Como proposta detetivesca tão mais interessante seria suprimir algumas das informações ali presentes;

5 - Um segundo elemento que gostaríamos de destacar são determinados aspectos contraditórios na composição de Toni, que se visto por outro prisma, poderia sair um tanto quanto prejudicado. Ocorre que no princípio da narrativa, a bem da verdade, quase metade da obra, percebemos que o talento nato para xeretar do menino, por outro lado pode esconder comportamentos questionáveis. Explicamo-nos: ele entra de cabeça na investigação pelo fato de o contador preso ser o pai da menina que tanto ama, Carla. Há nessa relação platônica do menino um cadinho de comportamento stalker, que visto numa perspectiva negativa poderia causar preocupações tamanhas intromissões feitas por ele;

6 - Logicamente tais elementos serão levantados por leitores com maior experiência, talvez aí um problema, a possibilidade do comportamento do "herói" naturalizar posturas que se radicalizadas ou insistentes podem ser um problema. Não é bem o caso de Toni, mas fica-se um caldinho de desconfiança;

7 - Dito isso, ao enfim aproximar-se de Carla, Toni mais seu cão, Chip, vã se jogar numa investigação na tentativa de provar a inocência do pai da menina. Um investigação, claro, carregada de perigos e aventuras de tirar o fôlego isso porque ao cabo dos acontecimentos estarão envolvidos com grupos mafiosos e em uma luta contra a especulação do capital imobiliário;

8 - Nesse sentido, é um livro bastante atrativo e dinâmico, marcado pela ação e por cenas que têm como proposta descarregar adrenalina mediante o suspense e os perigos envolvidos. Deste modo a ação prepondera a qualquer outro elemento já que trata-se de um enredo consideravelmente simples, cujas peculiaridades da narrativa estão na constituição das características de Toni num chamado à inclusão e a mensagem de que somos capazes de fazer o que quisermos a despeito dos nossos desafios e diferenças individuais;

9 - Por outro lado, e não se trata aqui de validar as censuras ocorridas que que nos últimos tempos envolveram obras de Pedro Bandeira em polêmicas, já que nenhuma censura é válida, é preciso destacar que há na narrativa a gratuidade de certa cena que não faz muito sentido e nos causa estranhamento em sua inclusão. Por ser algo deslocado, o uso da palavra, o ato escorregadio quase passado a lanço, aos mais atentos gera incômodo, não pelo fato de ali estar descrito, mas pela gratuidade e desnecessidade da passagem que pouco tem a ver com o que lemos em toda a obra;

10 - Enfim, O grande desafio é um livro divertido, com uma história movimentada, mas de um caricato que não se assume assim. A bem da verdade, a este leitor o problema é que trata-se de algo muito distante da realidade dos jovens leitores brasileiros, já que em sua origem sempre foi algo que teve como alvo os jovens leitores de escolas particulares onde Pedro Bandeira reina há duas décadas, pelo menos. Ao estudante de um escola pública a narrativa talvez se mostre um tanto distante. Aliás, conceitos acerca da educação suavemente naturalizados na narrativa poderia gerar um bom debate. Ou seja, tem sua diversão, mas tem também suas contradições e problemas este livro.

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