10 Considerações sobre O Poderoso Chefão, de Mario Puzo ou por que é na bala que se resolve

O Blog Listas Literárias leu O Poderoso Chefão, de Mario Puzo republicado pela editora Record; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Recente relançamento da editora Record O Poderoso Chefão é uma daquelas obras que algum dia você terá de lê-la, pois reúne todas as condições e elementos para ser o clássico que é com sua narrativa dura mas não menos realista sobre as nuances das mais diferentes formas de poder;

2 - Há diferentes elementos ou características que podem elevar um livro a algo necessário, muitas vezes se observa a questão estética e estrutural, contudo, Mario Puzo constrói um exemplo de obras em que a aparente simplicidade estética é superada pela força da trama e de seus personagens como O Poderoso Chefão, pois aqui o que nos mantém grudados ao romance e o torna brilhantemente importante é justamente sua trama e seus personagens;

3 - E não deixa de ser um olhar duro, mas talvez importantemente sincero sobre as relações de poder. A narrativa perpassando por dez anos dentro da máfia ao narrar a saga da família Corleone, embrenhada numa disputa envolta por sangue, bala e corrupção, onde a despeito de qualquer avaliação moral nos coloca diante de um universo brutal mas não sem seus próprios conceitos de ética, que traz à tona um olhar menos ingênuo sobre nosso estranho mundo;

4 - É que não se pode aqui praticar julgamento prévio pois o romance nos coloca que a escolha pela máfia pode ser bem mais complexa estar do lado certo ou errado, além disso o romance põe inclusive em xeque o lado oficial da lei ao expor suas próprias incongruências a partir de uma pressuposta legalidade e legitimidade talvez mais corrupta e mais covarde do que a própria;

5 - E aí talvez esteja um dos perigos do livro, afinal ao longo do livro tenderemos a compreender os argumentos de Don e Mike Corleone a respeito de sua organização, mesmo que obviamente discordamos de seus métodos. Ainda assim, lá estão eles de alguma forma rebelando-se contra um sistema podre sem utilizar máscaras denunciando de algum modo que permanecemos bárbaros.

6 - Aliás, e há aí um elemento controverso que é também o organização social de povos imigrantes que embora nos remeta a certo determinismo, não deixa de reproduzir como se estabeleceram as diferentes etnias em solo americano, incapazes de integrarem-se totalmente ao novo país ao mesmo tempo que não conseguem abandonar as raízes, especialmente os velhos rancores e ódios que os mantém em eterna vigilância;

7 - Portanto caberá ao leitor com suas convicções buscar observar a narrativa com o distanciamento necessário na tentativa de compreender as ações desencadeadas a partir de muita violência e de uma corrupção total do estado, contudo sendo contrabalanceada com um código de ética específico da máfia talvez até mais elaborado que o da sociedade na qual estavam inseridas as famílias. Todavia, este código com princípios bárbaros do velho olho por olho dente por dente que entregam então ao leitor muita violência e crueza através de um olhar senão misógino, mas representativo de uma casta social em que os homens comandam com muita testosterona e armas;

8 - Entretanto, apesar de uma obra da e na máfia é interessante observar os valores familiares e mesmo empresariais de Vito Corleone que retirando a parte na qual ele pratica seus crimes, muitos elementos devem ser observados com atenção, especialmente como ele lida para arregimentar apoio, algo que exemplifica também que quando o estado falha abre-se as portas para este tipo de populismo visto que, ainda que dura, a visão de que o poder está nos homens que lideram homens persistes há muito tempo em nosso mundo;

9 - Assim, então, temos uma leitura que caminha da mesma forma que o filme gerado a partir de sua adaptação, pois ambos são produtos de extrema qualidade que ao narrar as ações da máfia nos anos quarenta vai além de um mero romance violento com sangue e tiroteio porque mesmo em sua aparente simplicidade estética e estrutural é uma obra que as camadas abaixo desta superfície produzem um texto complexo e recheado de discussões postas que alicerçam toda a grandiosidade do romance;

10 - Enfim, com personagens tão convincentes e complexos que poderíamos crer reais e uma narrativa densa, tensa e profunda, O Poderoso Chefão além de um registro de época ao abordar questões humanas como valores morais, corrupção e poder não se desgasta com o tempo porque justamente carrega e explicita problemas não resolvidos da sociedade, até porque assustadoramente não há vilões numa obra que é protagonizada pela máfia, e isso por si só pode ser impactante e expressivo para mostrar o quão ainda precisamos avançar.


 

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