10 Perguntas Inéditas para Fábio M. Barreto, autor de Filhos do Fim do Mundo...

Galera, estréia hoje no blog uma seção que se vocês gostarem, pretendo manter com mais frequência. Não fugindo das listas, mas trazendo informação diferenciada, entraremos em contatos com autores, para de um modo peculiar, e com certa dose de humor tentar surpreendê-los com perguntas inéditas, irreverentes, sempre do modo exclusivo do Listas Literárias produzir conteúdo. E para estrear a seção, uma entrevista com o autor e jornalista Fábio Madrigal Barreto, autor de Filhos do Fim do Mundo publicado pela editora Fantasy - Casa da Palavra.  Depois de conferirem esta entrevista que está muito bacana, não deixem de ver a resenha do livro, e também se gostarem da premissa do livro, comprar no Submarino por um preço bem bacana.



1 - Seu livro Filhos do Fim do Mundo revela um apocalipse muito original, através de um grande infanticídio, onde os recém-nascidos inexplicavelmente morrem. O que o Fábio faria no meio de um cenário como este?


Fábio: HAHA! Nunca parei para pensar. Tentar voltar para o Brasil e ficar com a família seria uma ideia, mas imediatamente, por saber o que sei sobre comportamento de grandes massas em momentos de privação, sair de Los Angeles seria a primeira atitude. É mais fácil conseguir sobreviver num ambiente menor e com menos competição do que num grande centro. Sou o "calmo" aqui em casa, então tomaria alguma atitude antes e entraria em pânico depois. Mas é tudo achismo. Esse é o barato de imaginar o "fim", pois não há certo e errado, há a sua reação perante o problema.

2 - Sabemos que a jornada de um autor é árdua, quantas vezes já pensaste em desistir,ou isso nunca lhe vei o à cabeça?



Fábio: Desistir? Eu mal comecei! rs E sempre vivi baseado no conceito de que desistir não é uma opção. Nunca desisti (em alguns casos deveria te-lo feito, mas só percebi depois) e uso todos os artifícios necessários para cumprir minhas missões e objetivos. Cada um se comporta como deseja, eu escolhi encarar cada desafio como o último fazer acontecer. Quer um exemplo? Até hoje insisto em ser jornalista, mesmo com um mercado moribundo, a ausência de demanda pelo trabalho de correspondente internacional (morto pela facilidade de se conseguir entrevistas, normalmente fúteis, online). Para quem conhece, basta citar o Comandante Quincy Peter Taggart: Never Give Up, Never Surrender!

3 - No mundo atual, onde os avanços tecnológicos são exponenciais, a escolha pela ficção científica pode ser um risco?



Fábio: A escolha pela ficção científica sempre é um risco. Esse é o único gênero literário cujo sucesso depende única e exclusivamente do nível de risco tomado pelo autor. Asimov se arriscava. Clarke se arriscava. Heinlein se arriscava demais. E Neil Gaiman se arrisca tanto que você acredita em qualquer coisa que ele escreve! Arrisquei muito em "Filhos" e, mesmo deixando alguns leitores frustrados, já plantei a semente de um estilo marcante e que só tende a crescer nos próximos livros. Quanto à tecnologia, a FC não é necessariamente ligada apenas aos cacarecos, pois esse é um dos gêneros mais socialmente efetivos da literatura. O objetivo da FC é compreender os homens de diferentes momentos, sociedades e condições, estar num planeta distante povoado por ostras sapientes ou num submarino secreto no fundo do Atlântico é só a roupagem. Mas, claro que adoramos brincar com invenções malucas. "Filhos" tem um avião ultramoderno - que inclusive está sendo transformado em maquete pelo plastimodelista Giovani Araújo, de Fortaleza - e fiz o que bem entendi com ele. No meu estilo de FC, vou trabalhar muito mais a projeção tecnológica, assim como Roddenberry, do que com o invencionismo arbitrário. Ficarei na Terra nos próximos livros, acho que ainda é cedo para encarar o espaço. Da maneira como estruturei esse início de carreira, a FC mais próxima da realidade é mais efetiva com o público. Quando estivermos mais familiarizados uns com os outros - eu e os leitores - podemos alçar voos mais ousados.

4 - É mais simples, ou os riscos de criar um personagem com a mesma profissão do autor pode se transformar em armadilha?



Fábio: O único risco que vejo é o da especialização tão extrema, que só você - ou seus colegas de profissão - vão se identificar. Tomei o cuidado de evitar isso e acredito ter construído um protagonista crível. Lembrando que a profissão não o define, suas ações sim.

5 - Quantos dias foram necessários para escrever Filhos do Fim do Mundo, e quanta cafeína foi consumida neste período? Aliás,café ou Coca-cola na hora de escrever?


Fábio: Não gosto de café. Mas deveria medir a quantidade de barris de Coca-Cola! Foram muitas noites e dias de dedicação. Em dias, não sei a conta. Gastei entre 6 e 8 meses na redação principal, e mais uns 3 meses com correções e adaptações. Por ser treinado na profissão, escrever em si é rápido, o mais complicado é estruturar a trama antes de executar.

6 - O que você poderia dizer sobre "ficção nacional não ser boa de vendas"?

Fábio: Os leitores deveriam responder essa. Nós escrevemos, eles fazem a escolha. Qualidade temos. Autores bons não faltam. Mas ainda falta algo mais próximo do nosso leitor. Seria a necessidade de ter que ser essencialmente comercial, com romances, seres feitos sob medida para leitoras(es) jovens que consomem mais livros que o pessoal mais experiente? Existe um certo orgulho entre os autores. Escrevemos o gênero mais complicado, e problemático, do mercado nacional. Tentamos criar obras de relevância e profundidade social. Aí vem um gringo com um (insira aqui o ser sobrenatural do momento) e um romance simples e vira bestseller. Será que há um abismo tão grande assim entre o que os autores de FC escrevem do que o público quer? Ou o mercado condicionou tanto esse público a apenas comprar os enlatados que a FC não consegue entrar? Nessa vou ter mais perguntas que você. Meu trabalho é escrever boas histórias, garantir sua relevância, criar meu estilo e acreditar num bom resultado. Filhos está indo muito bem, aliás. ;) Acho que fiz alguma coisa certa.

7 - Existe mesmo literatura culta e comercial, ou isso é balela?

Fábio: Claro que existe. Essa visão não é chancelada, mas é bem real: existe o escritor comprometido com a alta literatura, com a criação de novas estruturas gramaticais, figuras de linguagem, com o ato de escrever como técnica; e existe o escritor que gosta de contar histórias. Não que um mesmo cara não possa ter as duas características, mas no mercado brasileiro atual, pelo que eu acompanho, esse cenário é bem claro. O engraçado é que o novo autor nacional é cobrado dessa forma, por não ser "culto" ou "falar sobre gêneros comerciais demais", mas, novamente, aparece o autor estrangeiro, vende horrores e ponto. A crítica não se dá ao trabalho de destruir, pois está acima dela. O público também não escutaria. Parecem dois mundos. Aparentemente, essa geração que escreve bem e está preocupada em contar histórias, em vez de ser laureada pela crítica, encontrou o caminho da popularização da leitura. Esses caras deveriam ganhar medalhas por ter se tornado sucesso de vendas e referência sem o aval dos grandes jornais ou especialistas acadêmicos. Novamente, é preciso falar entre aproximação e a necessidade por um meio termo entre o que é culto e o que funciona. Qualquer dia a gente chega lá.

8 - Perguntar sobre seus autores preferidos seria fácil, por isso que tal contar aqueles que te decepcionaram, e você decidiu afugentar de suas estantes?



Fábio: O problema dessa pergunta é que dar nome aos bois é complicado. Outro dia li um livro nacional que parecia interessante, mas não passava de uma fanfic gigante (chamar de plágio é forte demais) de uma série famosa. Não consegui engolir, fica artificial demais. E, um que é público já, foi George Martin. Ainda vou tentar Game of Thrones, mas pensamos de forma muito diferente sobre honra, lealdade e sobre a importância de descrições. Abandonei o primeiro livro. Voltarei a ele em breve, mas, até agora, o espírito não bateu. E isso, de forma alguma, implica em eu dizer que o livro é ruim. É uma diferença pessoal, logo, daí a validar ou não a importância de uma obra seria injusto, errado e arrogante da minha parte. Ele é um senhor muito simpático. Conversei com ele na Comic-Con mesmo sem saber quem ele era e foi gente boa. Depois descobri e fiquei com cara de bobo. :p

9 - No livro os eventos apocalípticos acabam não sendo explicados quanto a sua origem. Isto seria um presságio para alguma sequência?



Fábio: Há espaço para uma continuação sim. O argumento existe. Porém, há dicas sobre o que aconteceu. O Diretor conversa a respeito disso (risos). O ponto da ausência de uma explicação mais "explícita" tem a ver com o objetivo do livro. Quando se pretende entender quem é o personagem e como você se veria naquela situação, dar respostas de mão beijada seria a pior escolha possível, pois o leitor - imediatamente - julga aquela resposta, aceita ou recusa, e toda a história passa a ser julgada a partir daquela informação. Entendo que as perguntas certas são mais efetivas, nesse cenário. O leitor pode se fazer as perguntas, comparar com as ações e reações do personagem, fazer suposições e ponderar os efeitos. Propor um diálogo com o leitor, ali, na hora, me pareceu algo muito mais válido e produtivo do que ficar enxertando o livro com decisões arbitrárias. Leitores mais jovens são especialmente ávidos por respostas, mas, para se entenderem, é preciso saber quais as perguntas certas. Uma resposta para mim, aos 34 anos, é completamente diferente do que seria para uma pessoa de 16 anos. Não que isso seja o modo certo. Foi a melhor maneira de transmitir o conteúdo de "Filhos". Sem contar o fato de que a literatura apocalíptica está repleta de tragédias sem explicação. Basta ler "A Estrada", de Cormac McCarthy, por exemplo, para ver o exemplo máximo desse cenário. Um cientista e paleontólogo amigo meu, Jack Horner (que inspirou o personagem de Sam Neil em Jurassic Park), me disse uma vez: se você entra na ciência procurando respostas, é melhor você virar um político; ser um cientista é, essencialmente, buscar novas perguntas e acumular conhecimento. Transponha isso para a literatura. O que procuro com um livro? Acumular conhecimento sobre um assunto e meu assunto predileto é "quem sou e como posso melhorar?".

10 - Afinal,qual é o nome do repórter?

Fábio: Isso fica a critério de cada leitor!

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