10 Considerações sobre A Fantasmagórica Noite de Hugo, de Bertrand Santini ou os fantasmas se divertem

O Blog Listas Literárias leu A fantasmagórica noite de Hugo, de Bertrand Santini publicado pela editora Melhoramentos; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Entre fantasmas, zumbis e vilões ambiciosos, A Fantasmagórica Noite de Hugo é uma onírica narrativa em que o real e imaginoso se encontram num ritmo alucinante e numa noite literalmente eletrizante. Uma divertida e reflexiva aventura juvenil para todas as idades;

2 – Ainda que com pouca relação com a estrutura dramática, a fantasia de Bertrand Santini está dividida em três atos (que sem prejuízo algum poderiam ser chamados de partes) que na soma de suas partes narram de forma linear a estranha experiência (e quiçá tenebrosa e cheia de aventuras) do garoto Hugo no espaço de tempo de uma noite, e quando as fronteiras do real de da fantasia entrecruzam-se;

3 – O jovem hugo vive numa bela propriedade ao sul da França com seus pais, uma famosa escritora aparentemente inspirada em J. K. Rowling e o pai, um botânico idealista que descobre uma planta aparentemente extinta. Nesse local e moradia idílica o dia (ou melhor) a noite de Hugo acaba sendo invadida pelo elemento fantástico num plano fosco que não sabe-se bem se nascido dentre os zumbis desejosos por irromper a superfície, ou pela ambição dos homens cujos olhos do lucro brilham com a descoberta de petróleo na propriedade. Ao fim, talvez possamos crer que seja a soma dos dois;

4 – Aliás, aqui já podemos fazer uma breve discussão estética da obra, especialmente quanto ao gênero. A fantasia em seu pleno, o maravilhoso, o mundo das fábulas é em geral porta comum para estas narrativas de modo que a fantasia é sempre uma certeza. Contudo, no trabalho de Santini o autor dá vazão para discussões teóricas como a abordagem de Todorov em sua clássificação do gênero fantástico, o qual o crítico e linguista coloca como “o tempo da incerteza”. Este livro, no caso, menos uma fantasia típica, caminha para esse “tempo da incerteza” do fantástico de Todorov, o que acaba somando à ação juvenil uma aspecto de leitura também mais comprometida com todas as idades;

5 – O digo isso porque A fantasmagórica noite de Hugo vai trilhar caminhos por entre as tênues e estreitas fronteiras entre o real e a fantasia dos sonhos, que no caso de Hugo também poderiam ser descritos como pesadelos. Como discute Todorov em seu trabalho, a jornada do jovem protagonista estará sempre envolta pela “suspeição” entre a experiência concreta e a experiência onírica, ainda que o desfecho final carregado de certa utopia penda para a simbiose das duas coisas;

6 – Caberá então aos leitores definir onde começa e termina uma e outra experiência, e assim julgar tais limites entre o sonho e os acontecimentos concretos. Todavia tal decisão não apaga o fato de que ou numa dimensão onírica, ou numa experiência factual, Hugo acaba vivenciando a jornada plena, e esta jornada independentemente do gênero, trata-se duma aventura fantástica pela qual o garoto passa por situações incríveis;

7 – Depois de um dia aventurando-se pelo velho cemitério no interior da propriedade, Hugo à noite, descobrirá então que o lugar é habitado por curiosos personagens, sim fantasmas um tanto divertidos e rabugentos. Claro que a descoberta-se pelo fato que nas diferentes camadas intermediárias de suspeição provocadas pela estética do livro, o jovem num meio termo de vida e morte encontrará não somente estas estranhas – mas simpáticas – figuras, os astutos e perigosos zumbis, e também um ardiloso plano que coloca sua família em grande perigo;

8 – Com isso a imaginação abre as portas às preocupações do jovem e também dá vazão a possíveis traumas (ou experiências sensoriais inexplicáveis) que hugo carrega e que a fértil imaginação juvenil pode transformar num tecido de tramas a constituir o enredo de sua jornada fantástica, que ao passo das novas descobertas é carregada de ação e movimento, mas sempre pairando sobre ela o espectro do sobrenatural, que em determinados momentos soa mais ou menos assustador;

9 – Além disso, nessa curiosa jornada pelo mundo de fantasmas e zumbis, do outro lado da fronteira, na dimensão humana, temas como ambição e ganância estarão subjacentes à trama pensada – ou vivida – por Hugo. Isso faz da leitura, não só uma envolvente entrega à leitura, mas uma oportunidade de pequenas reflexões promovidas pela diversão e pela adrenalina da leitura do romance;

10 – Enfim, A Fantasmagórica Noite de Hugo é uma experiência divertida para todas as idades e com todo o potencial que as histórias de fantasmas possuem de nos tirar do lugar-comum. É uma narrativa comprometida com questões estética, com uma aura capaz não só de agradar jovens leitores, mas qualquer um que procure além da diversão, um pouco mais em sua leitura. Além disso, da sua trama bem tecida, é ainda um livro cujo protagonista nos conduz com agilidade e cujos personagens da dimensão sobrenatural são literalmente umas figuraças.



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