10 Considerações sobre O Feiticeiro de Terramar, de Úrsula K. Le Guin ou porque voar alto, Gavião...

O Blog Listas Literárias leu O Feiticeiro de Terramar, de Úrsula K. Le Guin publicado pela editora Arqueiro; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Uma das obras basilares da alta fantasia em O Feiticeiro de Terramar Úrsula K. Le Guin nos coloca diante das nuances e das sutilezas em que a jornada do herói dependerá justamente da capacidade de interpretar e compreender os pequenos detalhes que constituem o grande poder;

2 – Em suma, em meio a uma jornada repleta de encantos, criaturas fantásticas e grandes poderes o livro aborda essencialmente sobre a formação de caráter em que o indivíduo precisará lidar com sentimentos conflitantes como orgulho e vaidade, além de compreender os próprios erros como forma de formar-se não só como mago, mas também como pessoa;

3 – É o que nos conta este livro com as aventuras de Gavião, um mago destinado a ser o maior de todos os tempos, mas para se chegar até isso, portanto, seria fundamental narrar sua jornada inicial, a do jovem Ged, um verdadeiro aprendiz das questões da magia que nesta obra peregrinará numa verdadeira jornada pessoal de desenvolvimento e formação, tendo de lidar especialmente com sua imaturidade enquanto caminha para tornar-se aquilo a que estava destinado tornar-se;

4 – É então um livro em que a grande batalha dá-se nos recônditos internos da alma, e diferentemente de obras como Tolkien e Lewis, não há aqui conflitos bélicos ente nações, mas sim talvez a presença dos maiores e mais perigosos conflitos, ou seja aqueles que permanecem internos a nós mesmos, pois é a partir das pequenas aventuras e dos pequenos – mas talvez gigantescos – desafios que a jornada de Ged se revelará épica pois será necessário vencer a si mesmo para “salvar o mundo”;

5 – Todavia isso não quer dizer que não haja ação física e cenários deslumbrantes pelo caminho de Gavião, como dragões colossais, reinos misteriosos e portadores de forte magia, bem como seres tão sombrios e misteriosos que cumprem o papel de nêmesis do princípio ao final da narrativa salpicando a narrativa com a tensão necessária à aventura itinerante do mago;

6 – Contudo, a ação física é tão somente resultado da luta verdadeira de Ged, a luta interna em que acima de tudo é influenciada pela fibra moral presente no personagem, um mago poderoso porque é capaz de ter medo, mas que acima de tudo, durante sua jornada é capaz de dobrar a ambição ou mesmo o desejo da conquista fácil para descobrir que a vitória só viria com suas próprias conquistas;

7 – Além disso, o livro nos traz a clara mensagem da necessidade de enfrentamento aos medos pessoais, que é basicamente a grande missão de Gavião em sua jornada, na qual precisará inverter papéis deixando de se caça a passar a caçar seus monstros pessoais num desfecho final que poderá ser compreendido que às vezes tu és teu próprio e grande inimigo;

8 – Há porém um detalhe bastante curioso, ao menos a este leitor, que durante as páginas teve dificuldade de visualizar o jovem aprendiz de mago, pois as palavras e as ações de Gavião o tempo todo formavam uma visão clássica de mago, certa idade carregada de sabedoria e condições de lidar com qualquer perigo, talvez porque justamente o jovem mago da trama já possuía em si as características de um grande feiticeiro de tal modo que via-o sempre como Gavião, não Ged;

9 – E tudo isso será apresentado ao leitor numa narrativa que não salta às vistas, pois temos aqui uma narrativa delicada marcada pelo não dito mascarado por aparente simplicidade mas que na verdade nos colocam que a verdadeira reflexão não está na camada aparente, mas sim que é preciso ao leitor escavar um pouco mais para perceber as pequenas complexidades e discussões propostas pela obra, justamente isto, talvez um dos fatores que mantenha a atemporalidade da trama;

10 – Enfim, O Feiticeiro de Terramar é um clássico não à toa, pois com personagens únicos e uma trama capaz de fisgar-nos numa outra observação do poder e da magia, temos certeza de estarmos diante de uma grande jornada, narrada com certa melodia e contornos épicos dos tipos que criam mitos e lendas que não nos abandonam mais.



2 Comentários

  1. Eu tenho uma edição de bolso da Bantam Book, "A Wizard of Earthsea", já com as páginas amareladas. Maravilhosa e inesquecível leitura. A análise acima é bem fiel às impressões que tive da obra. Ursula K. LeGuin ganhou os prêmios Hugo e Nebula, e bem merecidamente. Outro livro dela que se destaca é "A mão esquerda da escuridão".

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  2. Já estava com vontade de ler esse livro. Agora, a vontade aumentou.
    Parabéns pelo post.
    André, do Garotos Perdidos
    www.garotosperdidos.com

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