10 Considerações sobre Anjos e Demônios, de Dan Brown ou sobre aquela velha guerra...

O Blog Listas Literárias leu Anjos e Demônios, de Dan Brown publicado pela editora Arqueiro. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro ou sobre aquela velha guerra travada entre a religião e a ciência, confira:

1 - Dan Brown explodiu em sucesso para o mundo com O código Da Vinci, romance que incluiu-o no seleto hall de megasellers. O sucesso foi tanto que não raro é comum as pessoas imaginarem ter sido esse grande sucesso a estreia do autor na literatura, contudo, a fórmula dos thrillers que o alçaram à fama inicia justamente com esse romance que principia as aventuras de Robert Langdon, Anjos e Demônios, uma obra peculiar em alguns sentidos, aliás, mas que traz o básico de seus livros: símbolos antigos, acenos às teorias da conspiração, códigos e ação vertiginosa desencadeada num limite muito curto de tempo cujo risco é um cataclisma global capaz de destruir tudo o que conhecemos;

2 - Mas comecemos nossa análise considerando um aspecto relevante e que nem sempre é creditado às narrativas de Brown (que aliás, também é autor de Fortaleza Digital): sua aproximação com a Ficção Científica. A despeito de que toda a ação em Anjos e Demônios esteja centrada na solução do mistério a partir da arte de Bernini, velhos símbolos medievais que aventam aos Iluminattis, arquivos do Vaticano, etc, não seria exagero dizer que o romance traz certa prevalência da Ficção Científica em sua narrativa. E não são poucos os elementos que podem sustentar nossa proposição, especialmente o fato de que todo o romance está centrado na possibilidade ou não da explosão de um artefato explosivo de antimatéria. Além disso, os traslados de Langdon entre os Estados Unidos e o CERN e ao vaticano estão nitidamente marcados pela presença de um objeto de Ficção Científica e um tipo de aviação que até então não passa de protótipo, tanto que as viagens espetaculosas terão reflexões por parte de Langdon;

3 - E faz bastante sentido a aproximação com a Ficção Científica, já que a narrativa toda está centrada no velho embate, nascido pelo menos desde o Ilumismo entre ciência e religião, como se estas travassem uma guerra mortal marcada por intrigas, perseguições, assassinatos e grupos secretos. No romance essa velha querela está representada pelo CERN e suas experiências com partículas atômicas, um local dirigido por um áustero Max Kholer e onde um padre e cientista e sua filha, Vittoria Vetra, desenvolvem uma perigosa pesquisa com antimatéria. É Kholer que chama Langdon ao CERN com o objetivo que ele auxilie no caso de assassinato de Leonardo Vetra cujo corpo foi marcado à fogo com uma simbologia Iluminatti;

4 - É justamente esta ida de Langdon ao CERN que insere-o numa espiral vertiginosa cujo prazo é vinte e quatro horas. Especialista em simbologia, ele torna-se consultor de Kholer e então acaba indo a Roma e ao Vaticano, onde um espécime de antimatéria é utilizado em um suposto plano Iluminatti de vingança contra a religião. É esta investigação que coloca Langdon no centro dos acontecimentos, ao lado de Vittoria, que não só pela responsabilidade de com o pai ter criado o artefato, parte ainda em busca de vingança pelo assassinato de Leonardo. Os dois terão então de seguir uma velha trilha de códigos que os leve a um lugar secreto onde supostamente se reuniam os Iluminattis;

5 - O clima vertiginoso de thriller então é estabelecido por vários aspectos. Primeiro que há a contagem regressiva iniciada pela ameaça de destruição do Vaticano pela antimatéria. Além disso, o suposto grupo que declara esta vingança quer fazer de tudo um ato extremamente midiático, e ameaça matar quatro cardeais da igreja católica em diferentes altares illuminatis espalhados por Roma. Na tentativa de salvá-los, Langdon e Vittoria estão sempre correndo contra o tempo enquanto precisam desvendar códigos de um velho pergaminho de Galileu que os indique os locais em que os cardeais serão mortos por uma assassino de longa linhagem;

6 - Tudo isso, claro, com o pano de fundo de uma das tradições mais misteriosas, enigmáticas, tradicionais e por isso, claro, popular: o conclave. Enquanto Langdon e Vittoria lutam para encontrar o artefato, ao fundo está ocorrendo o conclave devido a morte - suspeita - do papa. O rito e a prática são trazidos à baila no romance, além, é claro, de que este fato não só torna tudo ainda mais emergente, como coloca todos os principais nomes da Igreja num local prestes a explodir, além de também trazer suas intrigas e velhos problemas;

7 - Aliás, estamos evitando spoilers nesta nossa resenha, entretanto, muitos dirão que o filme torna tudo muito popular e reconhecível. É bem verdade que a quem assitiu ao filme de 2009 alguns elementos importantes são entregues, contudo, precisamos dizer que há muitas e significativas diferenças entre um e outro (sairá uma lista posterior) de modo que quem assistir ao filme perderá aspectos muito importantes do livro, em especial, a profundidade com que é tratado o embate entre religião e ciência e ainda uma terceira margem, a daqueles que tentam aproximar Deus e a ciência, caso dos Vetra. É nisso que se dá a centralidade da narrativa, o divórcio entre o conhecimento e o saber da fé e dos mitos religiosos. Um embate antigo e marcado por crimes e intrigas, como veremos;

8 - Nesse sentido, vale dizer que mesmo Dan Brown nos trazendo aspectos históricos sob este manto da popularidade paranoica ou espetaculosa das sociedades secretas, há no livro aspectos relevantes para pensarmos sobre essa querela toda, especialmente o papel das religões no ataque ao conhecimento e à ciência; e mesmo que haja um dourar de pílula e tentativas de aproximações, é inegável o aspecto de demonização do saber e o atirar esta ciência ao luceferianismo. Assim, mesmo que não se possa dizer que o romance preze por um aspecto acadêmico dos estudos simbologistas e históricos, pode-se dizer de certo modo que ele pode ser uma porta importante para estudos mais pronfundo, até porque, ainda que não aparente, há um bocado da questão fáustica que erige o mito, neste romance que vale a pena maiores estudos. Deste modo é quase como se o romance fizesse uma intermediação de linguagem mais sedutora e familiar a assuntos mais complexos;

9 - Logicamente, não buscamos aqui afirmar que o romance tenha mais intenções das que nos apresenta, ou seja, de ser uma obra focada no divertimento e na ação, o que nos entrega de sobra. Mas há nele, de todo modo, elementos que podem nos levar a pesquisas mais aprofundadas, obviamente, especialmente, porque a despeito de sua natureza popular, traz embates acadêmicos sérios que permeiam a ação. Aliás, tudo o que o leitor terá aqui é um verdadeiro jogo de espelhos devido às velhas intrigas que, se por um lado parecem nos levar ao citado embate, no fundo, sob um olhar mais acurado, há filiação a um lado da batalha, pois trata-se um romance muito mais do desepero - ainda que individualizado por um personagem - daqueles que observam a erosão de poderes antigos que os alçam a uma supremacia de dominação das mentes humanas, já que tudo acaba revelando-se a tentativa do embuste de nos aprisionar a velhos e perigosos medos e monstros - ou melhor, aos velhos modos de ver o demônio;

10 - Enfim, Anjos e Demônios marca a estreia de Dan Brown na literatura e nele o mesmo sistema - ou fórmula - empregada em seus romances posteriores, caso do megasucesso de O código da Vinci. Ação e energia voraz alicerçado em velhos códigos e segredos e, claro, gente disposta a matar para mantê-los assim: segredos. Além disso, traz uma discussão relevante no que se refere ao embate entre ciência e fé, uma discussão que parece-nos tomar novas proporções duas décadas após a publicação do romance. Certamente uma grande pedida e uma leitura rápida e voraz.

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