10 Considerações sobre O Viajante Imóvel, de Julio Ricardo da Rosa, ou por que certas prisões são mais difíceis de fugir...

1 – O Viajante Imóvel é um romance inteligente escrito em três vozes (o narrador e terceira pessoa, o aventureiro Felix Kölderlin, e o escritor e tradutor Vitor Assis) que nos contam uma trama densa cheia de traumas e abdicações que em determinado momento se entrelaçam num plano engenhosamente bem elaborado;

2 – A narrativa construída nos trechos das aventuras Kölderlin, e também jogando luz sobre uma vida de fracassos de Vitor Assis cujo destino é viver de generosidade da ex-mulher é dinâmica e flui maravilhosamente bem durante a leitura, e quando os pontos de mistério se entrelaçam ficamos ansiosos por ver até onde os fatos irão desencadear;

3 – O personagem de Vitor Assis que vive de poucas traduções e do dinheiro e manutenção da ex-mulher além de emblemático mostra uma faceta de como as pessoas, por sua ação, ou inação, se permitem aprisionar de diversas formas a tal ponto de o futuro tornar-se obscuro e cinzento.

4 – Aliás, um dos pontos altos de O Viajante Imóvel são exatamente os complexos perfis psicológicos de seus personagens, com suas condutas no mínimo questionáveis a trama se desenvolve a partir de ações muitas vezes deploráveis, inclusive do protagonista, Vitor Assis;

5 – O Viajante Imóvel é uma leitura que viaja pelo tempo, passando pelos anos 80, e 90, bem como apresenta uma rica e cultural lista de referências, principalmente no cinema e na literatura, especialmente o gosto de Vitor Assis por George Simenon;

6 – Por outro lado, a ação se desenvolvendo em tempos distintos, há uma parte específica durante a década de 90 que acabou não me convencendo por completo visto a maneira simplificada que o autor tratou as movimentações bancárias pela internet, mantendo aquela sensação de facilidade e agilidade do Internet Banking atual. Como naquela década a internet ainda engatinhava, e estávamos longe da disseminação dos computadores, este trecho em si não me conectou com o tempo e espaço proposto;

7 – Vitor Assis é de longe, uns dos personagens mais ranzinzas que conheci numa leitura (e isto não quer dizer que não tenha gostado, é justamente o contrário) revelando em seus atos e provocações todo seu desgosto contra o mundo e as pessoas, mas muitas vezes incapaz de ver o que estava a sua frente: seus próprios erros;

8 – Por outro lado a capacidade engenhosa de Vitor Assis acaba colocando o próprio leitor contra a parede, e se perguntando se ele é realmente a vítima que parece ser;

9 – Também vale destacar o belo conjunto da obra, com uma capa bem elaborada e um projeto de design atrativo e bem desenvolvido no melhor padrão possível para um livro de qualidade;

10 – Enfim, O Viajante Imóvel é uma leitura inteligente e muito bem escrita, e que até o seu final é capaz de revelar surpresas e acontecimentos inesperados para o leitor. Com certeza é um ótimo presente para se dar a si mesmo, ou a alguém muito querido;


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