No post de hoje selecionamos 10 diferenças [e elas são bem consideráveis] entre o livro e o filme, no caso, Anjos & Demônios, de Dan Brown. Confira:
1 - A questão do CERN: Aqui temos o maior aspecto de mudança entre o livro e o filme, a redução do papel do CERN e de seu diretor, Maximilian Kholer na trama. No filme a mudança é radical, especialmente porque lá é o vaticano que chama a Langdon para sua consultoria, enquanto no livro a narrativa é desencadeada pelo chamado que Kholer faz a Langdon [quase um sequestro na verdade]. É a partir do CERN que as investigações iniciam, tanto que o livro terá andado um bom bocado até que a questão do vaticano chegue à ação (no filme as imagens iniciais principiam com o conclave). Isso é uma mudança significativa, até porque toda a elucidação do caso passa por Kholer - cuja alternativa no filme parece-nos pouco convincente. Kholer sequer existe no filme e todas as implicações que surgem de sua presença;
2 - Menos ciência [e menos Ficção Científica]: Comentamos em nossa resenha sobre as relações do livro com a ciência e a Ficção Científica que no filme assim como a redução do papel do CERN, se perdem e ficam ao fundo. No livro o aspecto científico além de central surge em propostas típicas do gênero, como por exemplo as viagens no jato espacial que leva Langdon em 1h dos Estados Unidos ao CERN e outro pulinho ao Vaticano. A viagem é marcada por maravilhamento e estranhamento. Do mesmo modo, no filme não fica tão perceptível que o artefato de antimatéria é um artefato de Ficção Científica;
3 - Vittoria e Leonardo Vetra: Temos aqui outra diferença significativa. Leonardo sequer existe no filme o que auxilia ainda no empobrecimento da personagem Vitoria no filme, mera coadjuvante sem sal de Langdon. No livro é um tanto diferente, primeiro que, diferente do filme que traz uma equipe de pesquisa liderada por ela produzindo a antimatéria, no livro Vittoria está em campo e é filha de Leonardo, um padre que adota-a. Os dois vivem no CERN e dirigem secretamente a pesquisa com antimatéria numa tentativa de reatar a ciência e Deus. No livro é o suposto assassinato de Vetra, marcado à fogo pelo símbolo ambigramático dos Illuminatis que leva Langdon ao CERN. Aliás, a marcação no corpo de Vetra é bem mais dramática que o xerox chinfrim no filme. Outra questão que muda muito é o fato de que a relação de Vittoria com Leonardo a torna uma personagem mais relevante que no filme, já que sua busca por vingança contra o assassino do pai torna tudo mais conflituoso;
4 - O camerlengo: Bem, na resenha evitamos spoilers, contudo, quem chegou aqui já sabe assistiu ao filme e bem sabe o papel que ele desempenha enfim no filme - e de certo modo no livro. Eis o homem. Contudo, ainda que ambos sejam os antagonistas nas duas obras há diferenças bem suntuosas entre os dois, diferenças que não ficam só no nome, Patrick no filme e Carlo Ventresca no livro. O filme além de mudar o nome apaga completamente as relações shakesperianas entre Ventresca e o Papa falecido, além de no filme ele mostrar-se um tanto mais sumido e menos inteligente que no livro. Além disso, o desfecho de ambos embora supostamente parecidos, são distintos, já que no livro o sua expiração pelo fogo é feita diante do público ressaltando ainda mais os aspectos religiosos e os segredos que serão mantidos pelo Vaticano sob concordância de Langdon;
5 - Dois Langdons muito diferentes: O Langdon do filme é um Langdon parte II, ou seja, que tem em O código Da Vinci o primeiro Langdon e isso é citado, enquanto no livro temos o primeiro Langdon. Mas as diferenças são muito maiores, o do filme é mais um caubói norte-americano que age mais na sorte do que na decifração dos códigos, ou seja, além de tudo nos parece um Langdon mais burro e o pior, mesmo sendo um Langdon de ação e sorte, trata-se de uma ação bem inferior ao livro onde além de ter de demonstrar sua inteligência e sua capacidade de decodificar velhos símbolos, participa ativamente da ação chegando em muitos momentos à beira da morte. Dois exemplos disso são duas mudanças significativas no filme, como a cena no livro na fonte em que além de não conseguir salvar o cardeal Baggia, Langdon precisa fingir-se de morto e é ele que usa o tubo de ar da fonte. Outro aspecto fundamental é que o filme não faz de Langdon um matador, contudo, no livro é ele que dá cabo do assassino. Do mesmo modo, ele ainda estará na emblemática cena do helicóptero quando tão somente lhe cai a ficha de quem é realmente o camerlengo (aliás, no livro não tem nada do povo ver o padre cair de paraquedas, ele simplesmente ressurge como um Cristo). Langdon está no helicóptero e é deixado para a morte, da qual escapa graças a um atefato do CERN que estava no helicópetero;
6 - O assassino: Mais outro personagem que o filme estragou, pois no livro o assassino vem de uma longa linhagem de assassinos que aliás, é usado para tratar da etimologia da palavra. Trata-se de um assassino brutal convencido de estar dentro de um plano illuminati. No filme, além de um tanto burro, transparece mais ser um mero mercenário e mal tem embate com Langdon. Sem falar que no filme retira-se o sequestro de Vittoria por ele, que amplifica a tensão entre a disputa dele com Robert. Além da natureza intrínseca de assassino, a mudança radical é seu desfecho que o torna um tanto burro. O cara entra num carro em que estaria seu pagamento final e sem checar armadilhas? Que profissional seria este? No livro ele depois de muitas lutas com Langdon cai de um telhado;
7 - Os cardeais e o conclave: Como dissemos, o conclave é protagonista desde o início no filme, mas também nesse segmento temos severas mudanças. No livro o papel de cardeal mais velho a comandar o conclave é de Mortatti, velho e sábio. No filme hpa sempre a intenção de pô-lo em suspeição, inclusive com o fato de em certo momento colocar-se como elegível. No livro isso ocorre só após o desfecho de tudo, até porque, no filme, um dos preferidos é salvo por Langdon, o cardeal Baggia, de modo que no cinema ele vira papa. São dois aspectos muito diferentes entre uma obra e outra, já que no livro todos os quatro cardeais morrem;
8 - A cobertura midiática: Outro aspecto que é invertido em dois sentidos no filme é a questão da cobertura midiática. No filme o conclave é coberto com amplo interesse da mídia que em nenhum momento adentra ao íntimo da ação, diferentemente do livro, que no início demonstra como há pouco interesse da mídia no conclave. Além disso, o filme lima da película o protagonismo do BBC e seus dois repórteres do romance. Na verdade vemos microfones da CNN e da Reuters, nenhum da BBC no filme. Mas mais grave que isso é a exclusão da relevância da cobertura midiática em ação, no livro tudo é feito para atiçar a mídia, especialmente o assassinato dos cardeais e aí a informação privilegiada aos repórteres da BBC aos fatos que em certa parte meio que constroem uma espécie de reality show quando eles filmam Langdon e Ventresca nas catacumbas em busca da antimatéria. A mídia está sendo usada a serviço do plano e desempenha papel importante no livro, o que assim como a BBC, desaparece no filme;
9 - Onde foi parar o diamante Illuminatti?: O plano illuminati é o centro da narrativa do livro e ainda que permaneça no filme, parece-nos apagado (por que será?). Não há destaque amplo às marcações e ela nem mesmo ocorre no primeiro assassinato do filme, o que no livro é o peito queimado de Vetra que coloca Langdon na jogada. No livro e no filme há um quinto ferro de marcar e aí mais uma diferença, na película em vez do diamante ambigramático do livro (ver imagem) temos o símbolo do vaticano com o qual se queima o camerlengo. Aliás, uma escolha um tanto sem sentido do filme;
10 - A falta de tensão erótica e romântica entre Langdon e Vitória; Outro detalhe que o filme faz sumir é a tensão romântica e sensual que cria-se entre Vitória e Langdon. Aqui a culpa é obviamente de O código Da Vinci, pois o professor simbologista afirma-se recém casado. Contudo, como no livro temos o pioneirismo, aqui Langdon de um celibatário vai ao homem carregado de fome e desejo do capítulo final que encerra o romance com a sugestiva e provocativa fala de Vittoria Vetra: "Você nunca foi para a cama com uma mestra de ioga, foi?".