Premiações são sempre curiosas e carregadas de grande subjetividade, contudo, elas aí estão e acabam colaborando com a constituição de um cânone global dando ideia e corpo ao conceito de literatura universal. Nesse sentido, o Prêmio Nobel de Literatura talvez seja o principal exemplo de um prêmio mundial para escritores. Mas como todo prêmio, suas escolhas são abertas à discussão, as ausências serão sempre lembradas e mesmo que a premiação acabe, ao menos por algum momento, trazendo novos nomes ao panteão literário do mundo, esse cânone universal, ao mesmo tempo inesperadamente revela-nos que o tempo, sim, o tempo, será sempre o martelo final no prego do cânone universal. Isso porque muitos laureados, parece-nos, não resistem ao tempo, enquanto alguns esquecidos do Nobel se tornaram referência universal, caso de James Joyce, por exemplo e Kafka. Por isso, neste post selecionamos 10 escritores laureados com o Nobel que talvez você nunca tenha ouvido falar, ou quase isso:
1 - Rudolf Eucken: A literatura alemã viceja entre nós muitos nomes que permanecem abastecendo o imaginário coletivo, muitos laureados como Mann e Hesse ou Goethe (Obviamente muito antigo para um Nobel), mas não é o caso de Euckem cuja obra ou contribuição para a universalidade parece-nos bem pouca; por estas terras é provável que encontremos poucos leitores desse camarada que recebeu o prêmio em 1910;
2 - Winston Churchill: Sim, você sabe de cor quem é Churchill, mas é provável que não lhe venha à memória imediatamente que o moço é um Prêmio Nobel de Literatura. É possível, inclusive, que você não lembre bem quais livros do cara, enfim, como sabemos, muitas premiações vez ou outra ficam por conta da política e essa parece-nos um caso exemplar de como por vezes fatores além da escrita podem levar alguém à premiação;
3 - John Galsworthy: Assim como o exemplo alemão, o mundo é bastante influenciado pela literatura inglesa, mas não cremos que a literatura de Galsworthy esteja entre as mais estudadas e entre aquelas que capazes de influenciar outros autores ao redor do mundo de forma a constituir-se um modelo universal. Foi laureado em 1932 "pela arte distinta de narração de A família Forsyte", mas aí já se iam 10 anos da publicação de Ulysses, de James Joyce. Pois é, tem coisas que nem sempre fazem algum sentido;
4 - Sinclair Lewis: Não são muitos os livros norte-americanos que curtimos, e olha que nossa leitura de Lewis foi bem interessante, mas será que a ponto de um Nobel. Eis um autor também bastante esquecido, cuja diferença podemos falar que foram as mudanças do tempo que até o ressuscitaram já que a ascensão do ideário nazifascista dos últimos anos no Estados Unidos que voltaram a levar Não vai acontecer aqui ao topo dos mais vendidos. Fora isso, certamente estaria numa lista de esquecidos, mas laureados pelo Nobel;
5 - Mikhail Sholokhov: Quem é Sholokhov na fila do pão da literatura russa? Pois é, provavelmente quase ninguém lembra ou sabe quem é o camarada cuja justificativa do prêmio foi "pelo poder artístico e integridade com a qual, em seu épico Don, ele deu expressão a uma fase histórica na vida do povo russo"; bem sabemos que se procuramos pela fase histórica na vida do povo russo não será o nem a vir-nos à mente;
6/7 - Karl Adolph Gjellerup e Henrik Pontoppidan: O sueco e o dinamarquês foram laureados em 1917, mas na boa, já ouviram falar deles? Aliás, quem lembra de alguma contribuição universal da literatura sueca ou dinamarquesa que pudesse rivalizar com A metamorfose, de Kafka, publicada dois anos antes. Não podemos negar que o Nobel deixou passar muitos nomes relevantes para a literatura global;
8 - Saint-John Perse: Mais uma vez um desconhecido em literatura tão conhecida e importante para o mundo. Vocês com certeza já leram muitos escritores franceses e leram muitos escritores leitores de escritores franceses, mas provavelmente Perse não é um deles. O poeta foi laureado em 1960, cinco anos após a publicação de Pedro Páramo, de Juan Julfo, uma das obras mais importantes da literatura latino-americana e do mundo e quatro anos após a publicação da obra que deveria por justiça nos trazer um Nobel, Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa;
9 - Patrick White: Embora a justificativa em 1973 de que o autor australiano teria trazido a literatura de um novo continente ao mundo, o provável é que o tempo tenha apagado essa literatura e é bem possível que White tenha hoje poucos leitores ao redor desse mundo;
10 - Peter Handke: Das premiações mais recentes, é provavelmente um dos menos conhecidos embora o laureamento do escritor austríaco em 2019 tenha se dado "por um trabalho influente que, com engenhosidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana"
Sacanagem colocar o Peter Handke nessa lista.
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