10 Considerações sobre Copacabana, de Marco Casanova ou tempo, tempo, tempo...

 O blog Listas Literárias leu Copacabana, de Marco Casanova publicado pela editora Via Verita. Neste post, as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:



1 - Não há como não lembrar da canção Oração ao tempo no decorrer da leitura deste livro, afinal, afinal "Compositor de destinos/Tambor de todos os ritmos" é o que encontramos no adentrar à vida de um grupo de amigos em tempos distintos que interligam a utopia de um futuro possível, sonhado, à distopia da experiência vivida em suas agruras e desencontros;

2 - E o tom do livro é bem esse, de um intimismo banhado por certa nostalgia em que o bairro, Copacabana, é posto quase enquanto personagem, cenário de esperanças e desilusões narradas em diferentes tempos em que o autor constrói espécie de ponte para seu olhar ao agora e ao outrora. O desencanto e a desilusão das promessas não vividas reverberando nos tons nostálgicos de um tempo já ido;

3 - E aqui deve-se dizer da grande qualidade do livro, escrito com muito domínio e carregado das mais ousadas e pretensas ambições. Uma narrativa alicerçada em personagens críveis, quase como se fossem os vizinhos de alguém, numa tessitura que os costura habilmente numa colcha de tramas e estórias cujo centro do vórtice será sempre Copacabana;

4 - Se vale uma ressalva apenas, nada tem a ver com a qualidade narrativa da obra, contudo, o projeto gráfico do miolo do livro não mostra-se fluído ao ponto de não incomodar o leitor, não deixa a leitura agradável a alternância de fontes e tampouco seus tamanhos entrelinhas. Isso, contudo, é um detalhe técnico que independe do autor, mas que pode atrapalhar a experiência de leitura;

5 - Feita essa pequena ressalva, podemos prosseguir em nossas análises acerca do que realmente importa, a narrativa. Por meio de uma narrativa em terceira pessoa, o romance segue diferentes amigos que constituem um pequeno círculo que carrega esperanças e frustrações, isso tudo numa cambiante passagem entre os anos da década de 80 e a década passada;

6 - Na verdade, parece-nos uma narrativa do arrebatamento e do susto de uma obra que tem, na década passada, especialmente o ano 2013, o pano de fundo do desenlace das estórias, dos sonhos e esperanças de uma década que agora nos enche o imaginário, 1980;

7 - A bem da verdade, o livro parece compartilhar o susto de certa parcela da sociedade brasileira com o irromper das manifestações que têm sido chamadas de Jornadas de Junho. Em parte suas personagens espelham a estupefação que anestesia parte de nós sem entender a convulsão social de uma classe média às ruas. Não há centralidade de tais passeatas, mas lá estão elas, como um assombro que chega mesmo à Copacabana. Em não querer explicar nada sobre aquilo ou afirmar o que ainda precisa ser deglutido, é uma das obras mais exitosas em trazer tais cenários à literatura;

8 - Isso porque, entre a desilusão e a esperança de sonhos realizáveis, suas personagens precisam se encontrar, compreender o que lhes aconteceu nas últimas décadas, debater o que o tempo fizera com aqueles jovens rebeldes mas animados e cheios de promessas dos anos 80;

9 - Nisso, claro, os personagens que desfilam por essa Copacabana são multifacetados e tal como o bairro vão sendo tocados pelo tempo, alguns de forma irreversível, de modo que nada mais é um retrato desse passado. Tempo, tempo, tempo. Todavia, a despeito dos dramas e tragédias que os chega, é obra que ao fim resiste em pensar que a utopia e as promessas ainda são possíveis. E aqui ou reside ingenuidade ou reside a tentativa de dobrar o tempo e as coisas à força dos amores que nos movem;

10 - Enfim, Copacabana para além de uma narrativa que percorre o famoso bairro é romance que procura adentrar ao íntimo de suas personagens numa prosa dotada de muita lírica e momentos em que o poético assume a narrativa. É um belo e eficiente trabalho esse que Marco Casanova nos apresenta,

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