10 Perguntas inéditas para o escritor Marcos Macedo Barros

No post de hoje compartilhamos entrevista com o escritor Marcos Macedo Barros que lançou em dezembro de 2022 na Universidade Católica de Brasília seu primeiro livro, Casos inacreditáveis de Coribe, obra em que relata casos curiosos e carregados de algum mistério marcantes na cultura popular da cidade. Confira nossa conversa: 


1 [LL] - Para começar nossa conversa, nos chamou a atenção que você abriu mão de atividades seguras para se dedicar à escrita, de que modo se deu essas opções? O que o leva a se dedicar à escrita?

Marcos M. B.: O principal motivo é que o trabalho do escritor termina, mas o resultado não. O resultado a que me refiro é o alcance da obra, bem como o que ela causa nas pessoas. Isso jamais é finalizado. Em outras atividades que eu desempenhava, sempre procurei fazer um trabalho de excelência, mas o tempo vai passando e você vai percebendo que muito do que fez ficou para traz e vai sendo esquecido. Na escrita isso não acontece, pois o que é feito fica registrado, podendo ser apreciado por tempo indeterminado. Aqui vai apenas um exemplo: Machado de Assis publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas” em 1881 e até hoje a obra é lida e relida por inúmeras pessoas. 

2 [LL] - Nesse sentido, quais têm sido os desafios enfrentados? Sabemos que a atividade de escrita, num país como o nosso, exige esforço. Como você enfrenta os desafios que se apresentam?

Marcos M. B.: Concordo plenamente e entendo que o sucesso nesse meio depende da criatividade para fazer livros inovadores que despertem a curiosidade em um público específico. Nesse sentido, o público do meu livro são pessoas que gostam de causos. Depois que o lancei, tenho percebido que até mesmo muitas e muitas pessoas de alto grau de escolaridade apreciam estórias bem contadas. Fiquei muito feliz com os feedbacks recebidos até o momento.

3 [LL] - Casos inacreditáveis de Coribe como título indica retrata causos e acontecimentos populares que instigam o imaginário. O que te levou a reunir e escrever tais casos?

Marcos M. B.: Sou de Coribe e quis homenagear os bons contadores de causos de lá. Mas o motivo vai além disso. Como disse Machado de Assis, “digamos os motivos que me põem a pena na mão”: é que vivemos em um mundo repleto de problemas e quando ouvimos ou lemos um bom causo, isso nos leva a uma distração positiva. Assim, quando as pessoas estão tristes ou preocupadas, muitas procuram por coisas engraçadas e leves... nesse sentido, acredito que meu livro pode ajudá-las. E para quem não quiser ou não puder lê-lo, mesmo assim poderá apreciar os causos gratuitamente, pois de pouco a pouco vou lê-los e disponibilizá-los no YouTube e Instagram. Se isso vai fazer cair a venda dos exemplares, não me importo, pois meu objetivo é fortalecer a cultura do meu município e levar diversão para as pessoas, sem me preocupar com dinheiro. Assim, todo brasileiro merece ouvir os bons causos de Coribe!

4 [LL] - Aliás, como veremos em certa confissão no livro citando Roberto Carlos, podemos presumir que há muito da vivência do autor em tais estórias?

Marcos M. B.: Sim, com certeza! O causo que cita uma canção de Roberto Carlos é justamente a minha história de vida que eu quis colocar no livro para servir de exemplo para alunos e mostrar que mesmo com dificuldades financeiras e de transporte, é possível obter sucesso nos estudos. Basta ter interesse! Basta querer! O resto é consequência disso!

5 [LL] - De que modo os relatos selecionados na obra podem contribuir para a identidade de toda uma região?

Marcos M. B.: É muito interessante observar que a cultura de municípios limítrofes tende a ser parecida. Obviamente, existem exceções, mas apesar de algumas diferenças, percebe-se que em muito se parece os costumes e sotaques dos municípios da região baiana onde está situado Coribe. Resumindo bastante essa questão, Coribe/BA já pertenceu a alguns municípios vizinhos, como Santa Maria da Vitória, existindo assim heranças culturais. Dessa forma, busquei adotar no livro uma escrita que reflita a cultura de toda aquela região. 

6 [LL] - Falando em identidade, há um cuidado seu de trazer para os relatos a linguagem popular. Como você coleta tal linguagem e qual a importância para as narrativas de respeitar a voz vinda diretamente do povo?

Marcos M. B.: A linguagem adotada faz parte da essência do livro. Se eu o escrevesse com rigor gramatical, respeitando fielmente todas as regras do português e com palavras obscuras, fugiria a um de seus propósitos, que é poder ser lido e entendido também por pessoas humildes, que eram, inicialmente, o público-alvo que eu havia escolhido quando iniciei a escrita. Sobre a coleta da linguagem, posso dizer que é a voz dos contadores dos causos e, por conseguinte, do povo. Tive que ser fiel a isso para a obra alcançar o objetivo de levar os causos originais de Coribe para todo o Brasil.

7 [LL] - Por que você acha que em tempos tão tecnológicos e num mundo muito racional, causos como os do livro permanecem vivos?

Marcos M. B.: A resposta para essa pergunta entra na seara de inspiração e motivação que tive para fazer o livro. Dessa maneira, posso estar exagerando, mas ao estruturar a obra, a parte 2 eu imaginei capítulos de novelas e a parte 1, cenas de filmes de terror. Não que eu tenha em meus planos levar isso para emissoras de TV. Mas usei como inspiração. É claro que se um dia algum dos causos forem fonte para tais produções de televisão, a alegria e satisfação serão imensas. Entretanto, em termos de motivação, a ideia foi no sentido de que se tantas pessoas assistem novelas e filmes e se divertem com estórias de ficção, porque os causos não podem ser apreciados também? 

8 [LL] - Saindo um pouco da obra em si, como tem sido a recepção ao trabalho? 

Marcos M. B.: As pessoas do município têm achado muito interessante e inédito o trabalho. Já as que não conhecem Coribe têm demonstrado curiosidade para conhecer a obra. De uma forma geral, a recepção tem sido bastante satisfatória. 

9 [LL] - Além das vivências e da escuta curiosa, como a literatura, enquanto leitor, reflete no seu eu autor?

Marcos M. B.: Por ser um livro com forte aspecto cultural, deixei me levar pela cultura regional ao escrever o livro. Mas tenho outros em andamento que refletem a literatura a qual estamos acostumados a lidar no meio acadêmico. Nesse sentido, nos trabalhos futuros como escritor, a minha referência literária principal é o autor que mais aprecio e me inspiro, que é Machado de Assis.  

10 [LL] - Para finalizar, o que você espera com a publicação de "Coribe" e seus próximos passos na escrita?

Resposta: Espero que quem o ler, o caracterize como um livro “divertido de se ler”. Espero também que, caso as pessoas realmente gostem do livro, numa possível segunda edição, eu seja procurado por outros contadores de causos que queiram ver seus relatos serem lançados num livro. E se quiserem, eu identifico na obra o nome deles com maior prazer. Além disso, causos bons que levem alegria e distração para as pessoas em um mundo repleto de problemas não merecem ficar no conhecimento de apenas meia dúzia de pessoas. Se assim for o desejo de seu contador, é interessante que sejam contados para um público gigante que venha apreciá-los. A razão disso é que a cultura brasileira é bela e deve ser fortalecida a cada dia. Por fim, em relação aos próximos passos na escrita, pretendo lançar outros livros com variados temas, porém, esses refletirão mais a literatura acadêmica.  


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