10 Observações sobre O último gozo do mundo, de Bernardo de Carvalho ou sobre literatura e pandemia

 Mais uma publicação da nossa parceria com estudantes da UFPEL. Neste post Luana Volter Marques e Tainá Alves Costa Moreira abordam a literatura de Bernardo de Carvalho em tempos de pandemia. Confira: 


1 - O ano de 2020 foi marcado pelo inicio da pandemia de covid-19 no Brasil e assim como na vida social houveram diversas mudanças, na literatura não poderia ser diferente. O presente texto destina-se a discutir a interferência da covid no âmbito da literatura brasileira sob a perspectiva da obra de Bernardo de Carvalho intitulada “O último gozo do mundo”;

2 - Escrito por Bernardo de Carvalho e publicado pela editora Companhia das Letras no ano de 2021, O último gozo do mundo traz em suas 141 páginas o retrato do isolamento social  ao qual fomos acometidos. O livro cujo primeiro capítulo é intitulado “o fim do mundo como eles conheciam” conta a história de uma professora de sociologia que vê seu casamento de vinte anos indo por água abaixo  enquanto o mundo se depara com uma pandemia que obriga-a a parar, escolas são fechadas, restringem-se a circulação de pessoas e o medo pelo contágio faz com que a população tenha que se trancafiar dentro de suas casas;

3 - Com o registro de 412.880 mortes por Covid-19 no ano de publicação do livro (2021), o autor traz para a trama a questão do divórcio durante a pandemia, relatando o término do casamento da professora sendo que segundo o site Agência Brasil, 2021  registrou o maior número de divórcios até então, onde foram registrados 80. 573 divórcios no país;

4 - Bernardo dá grande ênfase à angústia de quem perdeu familiares para doença quando coloca em evidência que além de ter de enfrentar os obstáculos do confinamento com um filho pequeno, a professora perde os pais para doença, bem como introduz no texto que os noticiários  não param de noticiar mais e mais vidas perdidas para a pandemia;

5 - Também é importante ressaltar a introdução de elementos destinados ao resgate de memórias que o autor  engloba ainda à narrativa, se por um lado ele visa mostrar pra um leitor que não viveu nesse contexto  de que modo o mundo teve que conviver com a pandemia e ir se moldando a partir dela para o inesperado que viria pós esse período;

6 - Por outro lado, ele enfatiza uma preocupação com a memória a busca pois do meio para o fim do livro ele vai se deter a preencher as páginas com relatos da memória dos personagens, o medo da perda de memória como se dá com familiares dos mesmos dentro do livro ( uma consequência confirmada em 80% do casos de pacientes recuperados da covid) e a busca dos personagens por um velho que perdera a memória após a infecção e predizia acontecimentos futuros, reforçando a ideia de uma necessidade de explicação para o que acontecia na vida deles tanto que se apegam a uma crendice de alguém que não tem memória poder prever o futuro,  mostrando que na aflição a esperança é buscada até mesmo em coisas sem muito sentido;

7 - Mas, para a infelicidade dos que procuram alguma resposta e para o vazio do fim da narração, o velho recupera a memória e não pode mais relatar o futuro: "Na trama, a pandemia ocupa lugar de um estado de consciência radical da realidade, o que implica em posturas sociais múltiplas";

8 - Se Bernardo de Carvalho obteve uma promoção do seu livro às custas da pandemia não tem como afirmar que sim ou que não, mas a proposta de escrita dele é no mínimo interessante...

9 - No livro ele aborda o que o mundo inteiro viveu durante os últimos dois anos, o estresse do confinamento, o rompimento de relações afetivas através do estresse diário, mostrando como o medo e incerteza do amanhã mexeram com a vida do ser humano;

10 - Enfim, o autor foi feliz em sua escolha de deixar registrado o processo de passagem da pandemia trazendo isso pra dentro da literatura uma vez que o mundo como conhecíamos não é mais o mesmo dos dias atuais e a literatura não pode ficar indiferente a isso, assim como tudo é evolução o processo literário vai ter de acompanhar essas transformações e essa passagem de sentimentos conflitantes para dentro dos livros, de uma narrativa composta por angustias e incertezas é resultado de novos aspectos englobados numa literatura pós pandêmica.

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