11 Estrofes para interpretar o conto "Sem deixar rastros", de Ana Maria Machado ou um poema chamado "Sem vestígios"

 Já falamos aqui no blog de nossa parceria com a disciplina ministrada pelo prof. Dr. João Luis Pereira Ourique, Narrativas Brasileiras Contemporâneas, da UFPEL. Além de trabalhos interpretativos, digamos, convencionais, os estudantes da disciplina também estão interpretando as leituras de um modo muito interessante. Aliás, interpretar uma narrativa não ocorre tão somente pela resenha, pelo artigo, por exemplo, a ilustração, o desenvolvimento de uma capa também constitui-se como processo interpretativo. Assim, a escrita criativa é outra possibilidade.

É o que faz Júlia Melo dos Santos que utilizou da escrita criativa para propor uma paráfrase do conto Sem deixar rastros de Ana Maria Machado. O resultado são as 11 estrofes do poema "Sem vestígios", que compartilhamos abaixo:



Sem vestígios

Cauteloso que era, o homem não deixava rastros

Não havia material que lhe deixasse lembranças,

Sem fabricação de recordações, nem nada documentado.

Todo cuidado era pouco para sua insegurança.


Dava apenas flores sem cartão, cerejas na mão

E quando a presenteava com bombons,

Não havia lindas embalagens e caixas a serem guardadas,não.

Apenas presentes que consumiam e sumiam.


Quando ela resolvia lhe cortar as unhas, 

Juntava todas como peças de quebra-cabeça.

Contava sempre uma por uma,

Só para ter certeza.


Reunia todos os seus fios de cabelo,

Aqueles que ficavam no travesseiro 

E até os do box do chuveiro.


Não sobrava nada na toalha, 

Todos que ele encontrava, juntava

E depois, jogava na privada.


Logo que ela começou com uma pergunta mais pessoal,

Não tinha dúvidas.

Aquele era o seu sinal!


Desconfiado, ele sumiu.

Sem deixar vestígios.


Sem marca, nem traço.

Sem cheiro, nem rastro.


“E Ela?” ,

Ele se questionou.


Grávida, ela sumiu.

Sem deixar vestígios.



Sem marca, nem traço.

Sem cheiro, nem rastro.


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