10 Considerações sobre Brida, de Paulo Coelho ou sobre encontrar seu dom

 O blog Listas Literárias salvou este exemplar de Brida, de Paulo Coelho da reciclagem e neste post compartilhamos as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:



1 - Em se tratando da literatura de Paulo Coelho, Brida é mais do mesmo, o que nesse caso significa justamente aquilo que seus leitores procuram no autor: muito misticismo, personagens em busca de seus dons e descobertas pessoais e uma boa dose de palavras carregadas na autoajuda que procura entender o mundo com os olhos da simplicidade;

2 - No livro encontramos a personagem Brida O'Fern, irlandesa moradora de Dublin que tenta encontrar sentido para a vida e para as coisas na vida. Na verdade, a personagem mergulha em busca de seu dom de modo que a narrativa trata da progressão da protagonista na bruxaria;

3 - Tudo isso depois de dois encontros que mudam sua vida, com o misterioso mago praticante da Tradição do Sol e de Wicca, uma mulher instigante, carregada de mistério e sabedoria que se tornará a grande Mestra de Brida na Tradição da Lua e nas práticas da bruxaria;

4 - Bruxaria aqui numa concepção céltica de profunda ligação com a natureza, com o mundo natural, uma concepção e crença tão forte capaz de resistir aos tempos sombrios (ou luminescentes e calorosos) das fogueiras e caça cristã, de modo que Brida penetra uma tradição antiga, muito antiga de tentar compreender o mundo, isso a partir de seus dons que despertam;

5 - Vale dizer aqui que Paulo Coelho em sua obra promove uma "salada de frutas", sem as frutas, mas com boas e generosas doses de uma boa diversidade de crenças e principalmente de fé, interligando do cristianismo à bruxaria, sem deixarmos de notar uma boa dose de kardecismo evidente nas reencarnações, todavia, vistas aqui de um modo um tanto diferente e não menos interessante de se estudar, como quando abora a Outra Parte;

6 - Aliás, cremos que isso possa resumir um pouco da literatura de Paulo Coelho, uma caixa de ressonância de culturas e crenças tratadas de modo simples e com o desejo expresso de compartilhar um modo de conceber e se portar no mundo. O livro é sobretudo marcado pela fé, pela gnose absoluta em sua proposição de salto no escuro. Paulo Coelho é um gnóstico fervoroso e usa sua literatura para demonstrar isto;

7 - Tudo isso dá essa sensação de autoajuda que de um lado é utilizada justamente para desprestigiar o autor. Isso porque seus personagens de certa forma são apenas bocas a dar voz ao autor e ao seus conhecimentos sobre "os mistérios" da existência. Tal sensação reforçada pelas frases de efeito, espécies de aforismos a propagandear suas ideias;

8 - E é justamente por tal razão que ao leitor que possa querer maior ação, poderá se decepcionar com a leitura. As personagens de Coelho estão mais para propagandistas de sua crença que propriamente personagens de uma literatura mais funda. Isso porque tais personagens, como Brida, navega em mar de superfície, sem maiores profundidades psicológicas. Além disso, o enredo é também propaganda, amarrado na ideia de mostrar a iniciação de Brida, um nó narrativo que pode mostrar-se frágil enquanto peça literária;

9 - Por fim, vale destaca que o livro é obra dos anos 90, o que justifica alguns olhares de sua época, como por exemplo, as doses de fetichismo presentes aqui e acolá no decorrer da trama. Do mesmo modo podemos falar do quanto sua ideia de Outra Parte ainda está moldada pelo binarismo, ainda que ao final da narrativa tenhamos uma provocação interessante nesse aspecto, mas que, no entanto, por aparecer justamente neste momento, não é aprofundada;

10 - Enfim, Brida é uma narrativa tipicamente de Paulo Coelho, entre a autoajuda e o misticismo, o autor usa de personagens (com os quais inclusive joga sobre o real ou não) para propagar sua concepção de mundo. Uma concepção fortemente gnóstica e que procura velejar pelos mistérios e misticismos do mundo, o que não deixa de ter seu valor, afinal, se é coisa que nos torna efetivamente humanos é nossa capacidade de constituir e crer em mitos numa jornada permanente em busca de respostas.

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1 Comentários

  1. Obrigado pela dica de leitura, estava mesmo procurando livros de autoajuda nessa pós pandemia.

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