10 Considerações sobre Érica - relatos de conspiração, de Larissa Barros Leal ou sobre espiões peculiares

O blog Listas Literárias leu Érica - Relato de conspiração, de Larissa Barros Leal publicado pelo selo Talentos da Literatura Brasileira da Novo Século; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - A leitura nos promove situações muito interessantes, peculiares, distintas uma das outras. Já comentei aqui alguns casos de obras em que obras promissoras sofrem o impacto da demasia de deslizes gramaticais dos autores; outras situações, a despeito do domínio do autor ou autora sobre sua escrita, sobre a gramática bem correta, no entanto cujos mecanismos literários acabam não nos pegando; ou convencendo. Érica tem um pouco desta segunda questão como veremos neste post;

2 - Mas antes de adentrarmos às questões que nos pareceram um tanto problemáticas, o livro é uma tentativa de thriller juvenil de espionagem. Trata-se de uma espécie de Pequenos Espiões, só que protagonizado por jovens, em especial a protagonista, Érica que acaba se envolvendo em uma estranha rede de espionagem e perigos globais;

3 - Num sentido mais positivo, a autora procura manter um ritmo dinâmico e fluído a sua obra, sempre marcado pela intensa movimentação e pela ação comum a este tipo de narrativa, o que faz da leitura uma possibilidade rápida e urgente, pois é marcada por tal intensidade frenética cheia de alternativas;

4 – Por outro lado esse mesmo ritmo frenético acaba ampliando as distorções e as incongruências que acabam vindo à tona na narrativa, pois ao cabo, o livro acaba se revelando um tanto confuso, especialmente se for o caso de leitores experientes no gênero. Tudo isso porque ao leitor com maior volume neste tipo de narrativa, os elementos que não parecem fazer sentido ficarão muito evidentes;

5 – Na verdade o problema maior seja o somatório de quebras de verossimilhanças internas no romance. É difícil o leitor convencer-se dos personagens, todos padecendo de certa irrealidade, jovens numa trama por vezes demasiada infantil a despeito da abordagem supostamente adulta da trama, com morte, violência etc...

6 – E quando falo de inverossimilhança destaco em especial as que fazem os personagens um tanto quanto frágeis, mesmo Érica que de uma hora para outra se torna espiã a partir da morte dos pais. Sua incursão neste mundo é um tanto difícil de convencer o leitor, além disso, a narrativa parece desconhecer o padrão comum dos relacionamentos entre pais e adolescentes, pois no romance por mais serviços secretos e importantes que exerçam os pais, tudo tranquilo eles acabarem compartilhando segredos de estado com os rebentos, o que faz gritar a inverossimilhança;

7 – Do mesmo modo as estruturas globais das relações de poder e espionagem acabam também não encontrando alguma possível proximidade com o palpável da realidade, algo relevante neste tipo de publicação, ainda que ela própria procure construir seus organismos internos;

8 – Além disso, há ainda as fronteiras delicadas entre a construção de uma organização terrorista perigosa e o antissemitismo. E não estou dizendo que ocorra, entretanto o livro corre sérios riscos de má interpretação. São fronteiras, como disse delicadas e perigosas, algo que parece estar no inconsciente visto os “dedos” que o assunto acaba sendo tratado no próprio romance, nas tentativas de amenizar a origem da organização terrorista da obra, tais “dedos” reforçam o terreno minado em que a coisas acontecem;

9 – A tudo isso soma-se a altercação dos focos narrativos ao longo do livro, o que parece buscar o dinamismo aqui discutido, mas que, acaba também dificultando com o que o leitor concentre o olho num fio narrativo, e mesmo que as coisas acabem se encontrando ao fim, há, parece-me desperdícios energéticos por causa de tantos saltos se que se construa uma identificação plena com cada núcleo;

10 – Enfim, embora bem escrito e algumas virtudes, Érica – relatos de conspiração no todo é uma narrativa improvável cujo maior pecado é o da inverossimilhança que torna um bocado difícil o leitor se convencer da história. Convencimento de que aquilo que está sendo contado é o primeiro desafio dos autores, pois é a condição fundamental para que os leitores se envolvam e passem a “acreditar” na narrativa.



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