O Blog Listas Literárias leu RevoltZ, de João Paulo Hergesel publicado pela editora Jogo de Palavras; neste post as 7 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Na apresentação do livro Hergesel comenta das experimentações na literatura juvenil brasileira, desde já argumentando em favor de sua escolha, um experimento que na verdade retrocede no tempo, abandonando a narrativa para apresentar em livro formato quase típico do drama, entretanto, não em sua forma clássica, o teatro, mas um roteiro, identidade da obra publicada, um roteiro pensado para o cinema e para a televisão, escolha, claro, que terá suas influências nos leitores;
2 - É importante ressaltar tal questão aos leitores, pois tal informação pode ser importante quanto ao contrato de leitura de modo que alguém que procure pela leitura de um romance não se frustre quando da descoberta do gênero. Dito isso, enquanto dramatização a obra lembra um pouco Sing, entretanto, aqui, protagonizado por adolescentes envoltos em diferentes problemas, da sexualidade a questões e dramas pessoais e familiares;
3 - Nesse sentido a palavra drama não diz respeito apenas ao gênero, pois a trama é dramática e tensa em suas diferentes pontas, sofrendo seus personagens diferentes revezes e infortúnios. Digamos que trata-se de uma história um tanto carregada, uma verdadeira jornada a dores e anseios, algo bastante típico em produções juvenis, uma espécie de Diários de um adolescente e Kids, só que sem protagonismo das drogas;
4 - A bem da verdade, nesta história - ou histórias que se entrelaçam, grande parte da tensão está ligada à sexualidade e às imposições e cobranças sociais nesse sentido. Contudo, embora apresente e problematize tais questões, a obra em certo grau parece confusa sobre qual mensagem deseja passar, talvez por justamente expressar tamanha confusão que o conflito cria sobre personagens específicos;
5 - Todavia, quanto ao universo de intolerância e violência que tais conflitos criam, a mensagem é bastante clara. Hergesel mostra o quanto estamos longe de avançar na compreensão e tolerância das opções individuais de cada pessoa. Por isso, muitos de seus personagens sofrem um bocado em relação à sexualidade, não raro impactados por comportamentos patológicos da parte de quem acaba não sabendo lidar consigo mesmo;
6 - Aliás, a obra nesse sentido reúne virtudes e problemáticas, pois que muitos desses comportamentos patológicos parecem vir com certa distância de uma maior verossimilhança clínica. Não que seja inverossímil, pelo contrário, contudo, fica-se com certa sensação de estranheza, de algo deslocado em tais andamentos da dramatização. Além disso, no caso deste leitor, as fugas esotéricas muitas vezes encontradas por personagens acaba ampliando certo mal-estar;
7 - Enfim, bem escrito e carregado de propósitos e intenções - cada qual com seus riscos e novidades - RevoltZ é um drama bastante tensionado e cujas discussões recairão sobre as escolhas e a estética escolhida pelo autor. Há nele um jogo entre profundidade e superficialidade que nos causa certo desconforto, pois ao mesmo tempo que encontramos muitas virtudes, saltam-nos algumas inquietações, e isso cria certa sensação carregada de névoa pois tais inquietações não são fáceis de explicar. É um trabalho correto, ambicioso, mas tem uma "mas" que parece ficar escondido. Talvez a estética atrapalhe observar a complexidade de seus personagens, talvez o exoterismo e algumas simplificações... há um jogo no texto que não fica bem claro, pelo menos a este leitor.
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