10 Livros para não celebrar a guerra

A guerra é certamente uma das instituições humanas mais presentes na abordagem cultural. Em grande parte, a despeito de todos os horrores de uma guerra, na literatura, no cinema e nas artes como um todo a guerra é observada por uma perspectiva positiva, nesses casos ressaltando valores como o heroísmo. A literatura infantil e juvenil que o diga, está cheia destas narrativas que glorificam a guerra. Trabalho mais difícil, porém, é não celebrar esta instituição, mas as obras que o fazem quase sempre geram impacto e "conquistam" inimigos. Neste post selecionamos 10 livros que não celebram a guerra, confira:

1 - A Pele, de Cúrzio Malaparte: O autor esteve imerso nas ideologias que espalharam sangue pelo mundo na primeira metade do Século XX. Isso refletiu-se nessa obra como um verdadeiro grito de desespero e impotência do homem perante à história e à guerra. Com um cinismo provocativo e um sarcasmo desesperado, o romance pela expansão de suas imagens, é um das mais dolorosas narrativas a por a guerra em xeque;

2 - Os Cus de Judas, de Antonio Lobo Antunes: A narrativa envereda-se ao misto de autobiografia e romance e carregará as experiências do autor durante a guerra de Portugal contra Angola, e cuja descrição desta guerra questiona toda sua legitimidade enquanto instituição. É também narrativa forte, dura, e que retira da guerra os mantos da romantização dos valores que prega, deixando nua a insensatez dos homens e suas guerras;

3 - A Peste, de Albert Camus: Considerada a principal obra da biografia do autor, o romance parte também para o existencialismo realizando questionamentos de questões humanas, além de ser visto como metáfora de discussão dos horrores da Segunda Guerra. A obra muitas vezes é analisada comparativamente ao romance de Malaparte, ou colocando ambos em contraponto. As obras se interseccionam pois que originalmente o romance de Cúrzio se chamaria A Peste, alterado em virtude da obra de Camus;

4 - 1984, de George Orwell: Poderíamos dizer que a obra de Orwell foca sua desconfiança e desagrado de fato contra o poder, especialmente os totalitários e autoritários. Mas a bem da verdade toda obra que questiona o belicismo questiona o status quo do poder. De todo modo, 1984 é uma narrativa que não celebra a guerra, pelo contrário, apresenta-a como ferramenta para usos e joguetes do poder. Nisso revela um de seus únicos e perversos sentidos, o de dar sustentação política a tiranos e déspotas;

5 - Sentimento de Mundo, de Carlos Drummond de Andrade: A poesia possui grande capacidade de impacto, e essa obra de Drummond, particularmente, trata com melancolia e tristeza o mundo impactado por duas grandes guerras num só século. As poesias do volume em grande parte trazem esta perplexidade com o que as pessoas são capazes de fazer;

6 - Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg: As memórias do impacto e do alcance da guerra e dos totalitarismos a todos é o aprendizado desta narrativa, que embora de um olhar burguês e um tanto distante dos maiores horrores do fascismo e do nazismo que dominaram a Europa é interessante leitura para não se celebrar a guerra;

7 - É isto um homem? de Primo Levi: A pergunta no título deste livro com tons autobiográficos retrata das atrocidades de uma guerra, em particular da Segunda Guerra Mundial, e narrativas como essas deviam nos servir de alerta, entretanto, desconfio que "cães de guerra" não sejam adeptos à leitura;

8 - Crônica do Pássaro de Corda, de Haruki Murakami:  A guerra aqui não está na abordagem principal deste romance que preza pelo estranho e que aborda uma série de questões, nelas, presente os reflexos e fragmentos da Segunda Guerra Mundial vistos sob uma ótica crítica;

9 - Quando As Pombas Desapareceram, de Sofi Oksanen: Das obras desta lista é a mais peculiar por tratar-se de romance histórico, estes que em geral vão glorificar os feitos de heróis. Este ao escolher protagonista pouco peculiar acaba discutindo a própria relevância dela e das artimanhas e horrores feitos pela sobrevivência, além claro, a presença permanente do medo, independentemente da linha de frente que esteja à sua porta;

10 - A Segunda Pátria, de Miguel Sanches Neto: Ao criar uma versão alternativa de história do Brasil e do mundo, o autor trata dos ódios e rancores que estão semeados, bastando uma rega mínima para que aflorem tornando a todos inimigos a ser combatidos. O crescimento desses ódios leva à guerra, e a guerra, como no desfecho do romance é a tragédia humana plena.    

1 Comentários

  1. Caros,
    Ao escolher este post já pensei em Primo Levi. É Isto um Homem? é o livro definitivo sobre os horrores da guerra. Parabéns pela lista.
    Cristina

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