O Blog Listas Literárias leu Fogo & Sangue, de George R. R. Martin publicado pela editora Suma; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 – Fogo e Sangue seria o que muitos chamam de spin-off do universo da série As Crônicas do Gelo e do Fogo, entretanto, nesse caso especificamente não sei se é bem o caso. A Bem da verdade, a obra (e aqui não discute-se o tino comercial de Martin) amplia a perspectiva na série e reforça a recursividade do autor ao construir hoje, talvez o maior universo ficcional da literatura, pois não podemos desprezar o gigantismo das diferentes obras e narrativas que a compõe, seja pelos múltiplos pontos de perspectiva, para as centenas de personagens, sendo que às dezenas de grande relevância, e também os diferentes modos de narrar a série para além dos romances que constituem como centro da obra, caso deste livro;
2 - Neste volume, Martin assume-se como mero transcritor dos testemunhos e registros de um velho meistre que produz um volume a apresentar a ascensão dos Targaryen e a constituição dos Sete Reinos de Westeros, uma história forjada à fogo, sangue, e batalhas cruéis como nos acostumamos com a saga dos tronos;
3 – Isso, logicamente dá-se de forma diferente ao que os leitores acompanham nos cinco volumes da série, pois a estética de transcrição faz da obra uma espécie de livro de história de Westeros, sob a ótica da ascensão Targaryen e os diferentes ciclos de poder dos dragões, chegando até ao terceiro Aegon de seu nome. Desta forma, como dissemos, amplia-se a forma de narrar o universo de Westeros, que já vimos por contos, e agora pela leitura a seu modo sendo intra-universo de Westeros. Com isso podemos dizer que trata-se de uma leitura interessante e a narração do meistre-narrador é de grande controle, mesclando a apresentação dos fatos históricos com uma e outra opinião acerca dos acontecimentos;
4 - E aqui, certamente uma virtude que talvez possa passar despercebida pela grande maioria dos leitores, mas que não só reforça mas demonstra toda a força teórica por trás da narrativa. Ao narrar a história dos Targaryen e consequentemente do Trono de Ferro, Fogo & Sangue usa não só dos conceitos de história, mas também compreende os conceitos do narrar a história e mesmo as armadilhas do tempo, e isso só se faz com um grande referencial teórico, o que parece ser o caso aqui;
5 – Podemos perceber isso na forma como o meistre-narrador trabalha e utiliza suas fontes para narrar a história, criando sempre um jogo em que caberá o leitor final decidir pelo ponto de equilíbrio ou pelo extremo dos “fatos”, pois que o narrador nos brinda com diferentes olhares de meistres passados às escandalosas crônicas do bobo Cogumelo. Esse jogo entre o que é fato histórico e o que de fato ocorreu e o quanto caberá a cada leitor definir entre as diferentes possibilidades é uma das questões mais encantadoras da obra;
6 – Afora isto, o livro revela-se de fato um grande panorama das guerras e das disputas entre os dragões quando da ascensão Targaryen e a conquista dos Sete Reino. Por isso não há de todo uma grande profundidade nos personagens, ainda que suas nuances de complexidade possam ser percebidas, especialmente nas fontes que servem de relatos para as narrativas;
7 – Além disso, podemos ver na obra a reafirmação de algo que já nos parece claro em toda a série de livros: Martin em sua narrativa mostra que a vida – e geralmente a morte – é um eterno jogo de atos e consequências, sendo que às esferas de poder este jogo mostra-se muito mais violento e perigoso;
8 – Por isso, os leitores de As Crônicas certamente não terão do que queixar-se neste volume, pois o passado de Westeros narrados aqui é tão conflituoso e trágico quanto os anos após a queda dos Targaryen quando se inicia A Guerra dos Tronos. Com esta publicação George R. R. Martin aumenta o arco de nosso conhecimento das coisas de Westeros, e fala especialmente que o jogo do poder não descansa nunca, tendo um e outro momento de águas calmas mas que em geral se dá – e provoca – por constantes conflitos, no caso deste universo sempre ao custo pesado da morte, do fogo e do sangue;
9 – E é de fogo, sangue, mentiras, conspirações, e, claro, muita luxúria, sexo e tabus (sim, e dragões) que a história dos Targaryen se eleva por sobre todos os Sete Reinos, esmiuçadas em pelo menos toda sua jornada inicial nesta narrativa que reforça a história como criatura andante e dinâmica que avança sobre nós, independente do quanto estamos preparados para a história e para a arte de jogar o jogo dos tronos, que lembremos, quando em agitação não leva somente a cabeça de reis, mas de qualquer um que por ventura a história resolva tocar seus punhos, que quase sempre portam espadas;
10 – Enfim, Fogo & Sangue é uma forma diferente de adentrar As Crônicas do Gelo e do Fogo, e não só traz elementos importantes para a compreensão da série de livros, mas constitui-se por si só elemento e peça de um intrincado e suntuoso projeto literário que acaba nos dando uma versão alternativa de universo tão rica e complexa quanto nossa própria realidade, que demonstra o caráter épico da obra de Martin mas com tratamento contemporâneo das contradições humanas redefinindo – ou rediscutindo – uma série de valores constituídos e desconstituídos de nossa sociedade. A obra de Martin é sem dúvida dentre aquelas de alcance de massa, a mais eloquente, vibrante e complexa jornada, que a despeito das interpretações que dela fazem, carrega em si muita, mas muita discussão e reflexão social.
2 - Neste volume, Martin assume-se como mero transcritor dos testemunhos e registros de um velho meistre que produz um volume a apresentar a ascensão dos Targaryen e a constituição dos Sete Reinos de Westeros, uma história forjada à fogo, sangue, e batalhas cruéis como nos acostumamos com a saga dos tronos;
3 – Isso, logicamente dá-se de forma diferente ao que os leitores acompanham nos cinco volumes da série, pois a estética de transcrição faz da obra uma espécie de livro de história de Westeros, sob a ótica da ascensão Targaryen e os diferentes ciclos de poder dos dragões, chegando até ao terceiro Aegon de seu nome. Desta forma, como dissemos, amplia-se a forma de narrar o universo de Westeros, que já vimos por contos, e agora pela leitura a seu modo sendo intra-universo de Westeros. Com isso podemos dizer que trata-se de uma leitura interessante e a narração do meistre-narrador é de grande controle, mesclando a apresentação dos fatos históricos com uma e outra opinião acerca dos acontecimentos;
4 - E aqui, certamente uma virtude que talvez possa passar despercebida pela grande maioria dos leitores, mas que não só reforça mas demonstra toda a força teórica por trás da narrativa. Ao narrar a história dos Targaryen e consequentemente do Trono de Ferro, Fogo & Sangue usa não só dos conceitos de história, mas também compreende os conceitos do narrar a história e mesmo as armadilhas do tempo, e isso só se faz com um grande referencial teórico, o que parece ser o caso aqui;
5 – Podemos perceber isso na forma como o meistre-narrador trabalha e utiliza suas fontes para narrar a história, criando sempre um jogo em que caberá o leitor final decidir pelo ponto de equilíbrio ou pelo extremo dos “fatos”, pois que o narrador nos brinda com diferentes olhares de meistres passados às escandalosas crônicas do bobo Cogumelo. Esse jogo entre o que é fato histórico e o que de fato ocorreu e o quanto caberá a cada leitor definir entre as diferentes possibilidades é uma das questões mais encantadoras da obra;
6 – Afora isto, o livro revela-se de fato um grande panorama das guerras e das disputas entre os dragões quando da ascensão Targaryen e a conquista dos Sete Reino. Por isso não há de todo uma grande profundidade nos personagens, ainda que suas nuances de complexidade possam ser percebidas, especialmente nas fontes que servem de relatos para as narrativas;
7 – Além disso, podemos ver na obra a reafirmação de algo que já nos parece claro em toda a série de livros: Martin em sua narrativa mostra que a vida – e geralmente a morte – é um eterno jogo de atos e consequências, sendo que às esferas de poder este jogo mostra-se muito mais violento e perigoso;
8 – Por isso, os leitores de As Crônicas certamente não terão do que queixar-se neste volume, pois o passado de Westeros narrados aqui é tão conflituoso e trágico quanto os anos após a queda dos Targaryen quando se inicia A Guerra dos Tronos. Com esta publicação George R. R. Martin aumenta o arco de nosso conhecimento das coisas de Westeros, e fala especialmente que o jogo do poder não descansa nunca, tendo um e outro momento de águas calmas mas que em geral se dá – e provoca – por constantes conflitos, no caso deste universo sempre ao custo pesado da morte, do fogo e do sangue;
9 – E é de fogo, sangue, mentiras, conspirações, e, claro, muita luxúria, sexo e tabus (sim, e dragões) que a história dos Targaryen se eleva por sobre todos os Sete Reinos, esmiuçadas em pelo menos toda sua jornada inicial nesta narrativa que reforça a história como criatura andante e dinâmica que avança sobre nós, independente do quanto estamos preparados para a história e para a arte de jogar o jogo dos tronos, que lembremos, quando em agitação não leva somente a cabeça de reis, mas de qualquer um que por ventura a história resolva tocar seus punhos, que quase sempre portam espadas;
10 – Enfim, Fogo & Sangue é uma forma diferente de adentrar As Crônicas do Gelo e do Fogo, e não só traz elementos importantes para a compreensão da série de livros, mas constitui-se por si só elemento e peça de um intrincado e suntuoso projeto literário que acaba nos dando uma versão alternativa de universo tão rica e complexa quanto nossa própria realidade, que demonstra o caráter épico da obra de Martin mas com tratamento contemporâneo das contradições humanas redefinindo – ou rediscutindo – uma série de valores constituídos e desconstituídos de nossa sociedade. A obra de Martin é sem dúvida dentre aquelas de alcance de massa, a mais eloquente, vibrante e complexa jornada, que a despeito das interpretações que dela fazem, carrega em si muita, mas muita discussão e reflexão social.
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Resenhas