10 Considerações sobre A tradição do budismo, de Peter Harvey

O Blog Listas Literárias leu A Tradição do Budismo, de Peter Harvey, publicado pela editora Cultrix; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Provavelmente não é nenhum exagero quando o livro assume-se como "a obra mais abrangente sobre o tema já publicada em língua portuguesa" pois a publicação reúne extenso material percorrendo "a história do budismo [que] abrange quase 2500 anos desde sua origem na índia, com Sidartha Gotama, passando pela sua propagação para a maior parte de Ásia e, nos século XX e XXI, para o Ocidente";

2 - A obra publicada primeiramente em 1990, hoje tem sido considerada uma das principais referências de estudos sobre o tema e, de acordo com o autor, "a intenção do livro era oferecer um panorama geral e equilibrado sobre as várias escolas do budismo no mundo para estudantes, budistas e o público em geral";

3 - Tal intenção, aliás, se confirma nas páginas da obra, e mesmo que o autor dedique espaço às práticas e filosofias do budismo, está na construção histórica da religião e seus principais movimentos, talvez a característica mais notada na publicação, dando conta não apenas do surgimento do budismo, mas todos os desafios, avanços e quedas da religião até os dias presentes, quando não restringe-se apenas ao Oriente, mas também com muitos adeptos no Ocidente;

4 - Aliás, vale ressaltar que na abertura do livro Harvey indica suas intenções mais amplas para com a obra numa lista de 12 itens, indo desde essa intenção de apresentar o panorama, as ideias/práticas/desenvolvimentos fundamentais do budismo, bem como mostrar a dinâmica global de como o budismo funciona levando em conta as diferentes visões dentro do próprio budismo;

5 - Harvey mostra-nos então que "como "Buda" não se refere a um indivíduo único, o budismo se concentra menos na pessoa de seu fundador de que, por exemplo, o cristianismo. A ênfase do budismo é nos ensinamentos do(s) Buda(as) e no "despertar" da personalidade humana ao qual eles parecem conduzir";

6 - Aliás, vale destacar que um dos levantamentos interessantes da obra é quando trata na parte final do livro sobre o espraiar do budismo para além do Oriente, no caso sua chegada ao Ocidente, especialmente a relação e a influência da filosofia budista sobre intelectuais como Schopenhauer, e embora Harvey não cite, em ficções como o clássico O Jogo da Amarelinha, de Cortázar, em que o budismo exerce certo fascínio sobre os personagens. Vale dizer ainda, que como em todo o volume, o livro não peca por falta de didatismo estatístico, já que o autor fornece uma grande quantidade de dados sobre o budismo fora da Ásia (também na Ásia, claro);

7 - Ao todo, além das introduções, são treze capítulos bastante amplos, sendo que nos primeiros desde "O Buda e se Contexto Indiano" tratarão dos contextos e da origem do budismo na Ásia, remontando historicamente o período de nascimento da religião e as condições que propiciaram tal despertar;

8 - Nos capítulos centrais veremos as primeiras divisões das leituras de textos, as diferentes escolas que começam a surgir, bem como "A história posterior e a propagação do budismo", sendo que do miolo para a parte final do livro estarão os capítulos que discutirão mais enfaticamente as práticas budistas;

9 - A bem da verdade, tal conjunto não apenas envereda-se pelas doutrinas e ensinamentos do budismo, tratando de suas crenças, de sua filosofia, mas também do processo político e histórico da religião, inclusive com muitos períodos de perseguições à religião, além é claro das contradições e debates internos inerentes ao próprio budismo. Deste modo, Harvey em seu panorama oferece-nos uma visão, o que também me parece ser no caso de outras religiões, de um budismo enquanto coisa viva, resistindo e se adaptando não apenas ao avanço do tempo e da história, mas também das diferentes leituras e interpretações que vão surgindo, um processo, talvez inerente às religiões e às suas sobrevivências;

10 - Enfim, A tradição do budismo é boa leitura tanto para os que desejam conhecer mais sobre esta religião, esta filosofia, e também de sua história, nesse quesito, com informações fartas. Uma publicação com potencial e qualidade não apenas de esclarecer sobre esta crença, mas de estimular seus praticantes, que no caso do Brasil reúne bom grupo.



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