10 Considerações sobre Onde a Luz Cai, ou cuidado com vossas cabeças

O Blog Listas Literárias leu Onde a Luz Cai, de Allison e Owen Pataki publicado pela editora Gutenberg; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – No limites do romance histórico e da ficção de história alternativa, Onde a Luz Cai é um romance marcado pela tensão, pela ação, e pelo romance, ao incluir numa época de efervescência política uma história de amor, vilões característicos e protagonistas idealistas que encarnam o perfil do herói literário nas principais características que marcaram o heroísmo virtuoso;

2 – Ambientado durante a revolução francesa ao período de ascensão de Napoleão ao poder, os irmãos Pataki nos apresentam a quatro personagens que eles inserem nessa época de grande agitação e mudanças que mudaram o mundo para sempre. Para isso, inspirados como os próprios autores avisam em nota, e figuras possíveis daquela época, seus quatro protagonistas, André Valière, Sophie, Marie e Jean-Luc, todos eles dotados de grandes idealismos e virtudes que remontam ao heroísmos romântico, que aliás, há algum tempo não tem vigorado na literatura, pois hoje mesmo nos “heróis” os leitores já descobriram haver sombras;

3 – Jean-Luc, dos quatro, parece concentrar um pouco mais de protagonismo na narrativa, um jovem e idealista advogado que servirá como espécie de espelho crítico da própria revolução, visto que na Paris do livro, os autores procuram transparecer ao máximo o caos e a sede de vingança e por sangue. Todavia, os outros três, cujas vidas interligam-se num quarteto coeso de virtuoses, completa-se com o valente e corajoso Capitão Valièrie, um herói de batalha mas com passado na nobreza, algo como uma certidão de óbito, sua amada Sophie, uma jovem viúva que possui grande força e perseverança, além de Marie, esposa de Jean-Luc que se menos na ativa, não deixa de guardar seus segredos revolucionários e idealistas;

4 – Para rivalizar as virtudes destes quatro heróis, os autores elaboram então vilões que menos ligados ao poder, são impulsionados mais pelas pequenas mas gigantescas deficiências humanas, sendo movidos pelo ciúme, inveja, vingança e uma grande dose de orgulho que os levam a praticar maldades com muita obstinação;

5 – Assim, nesse fundo histórico importante, em nota explicativa ao final do romance, os autores abordam as inspirações e a natureza ficcional destes personagens que dividem os núcleos protagonistas e antagonistas ao mesmo tempo em que ocupam espaço de grandes figuras e vultos históricos;

6 – A partir daí temos então que realizar algumas observações que nos remetem àquela proximidade com diferentes gêneros. Leitores de maior conhecimento do acontecimento histórico, de primeira perceberão a distância com a história, algo que os próprios autores abordam como “liberdade poética”. A discussão sobre esse ponto é relevante, especialmente porque tais liberdades poéticas afastam um bocado a narrativa de qualquer compreensão como romance histórico, pois se este fosse o caso, poderia causar certa desinformação, de modo que deve-se partir ou então de uma narrativa de história alternativa, especialmente pelas mudanças aplicadas não só a eventos ou a personagens históricos. Na verdade, penso que o ideal é partirmos mesmo da leitura de apenas um romance, dadas tantas liberdades poéticas;

7 – Além disso, para o viés histórico, temos de considerar ainda que os autores acabam incluindo no fundo histórico personagens muito próximo das grandes figuras da Revolução Francesa, especialmente entre seus vilões, de modo que qualquer uma de suas ações acaba conduzindo a eventos alternativos. Somados a isso, e aqui posso estar levando uma rasteira da tradução, tanto o narrador em terceira pessoa, mas principalmente seus personagens, acabam trazendo para suas vozes muitos elementos contemporâneos em termos linguísticos;

8 – Mas enfim, temos até algumas considerações acerca dessa narrativa de ritmo intenso e febril, entretanto, de todas estas observações, talvez a mais aparente aos leitores será o contraste entre a avalição que grande parte de nós faz hoje da Revolução Francesa, em geral vista positivamente, e o ambiente autoritário, violento e tomado pela barbárie descrito pelos irmãos Pataki;

9 – Na verdade o enredo e os acontecimentos com os protagonistas não deixa de fazer saltar críticas aos rumos perdidos da Revolução num processo de mera substituição de tiranias de forma que o romance é muito duro para com a revolução trazendo à luz a sede de sangue, mas também a incapacidade da condução democrática, que não se esperava, vindo dos ideais do conhecido lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Nesse sentido, o livro aborda sobre manipulação das massas e como a despeito de algo que parece sonho, pode para alguns, ou a todos, criar verdadeiro pesadelo;

10 – Enfim, Onde Cai a Luz traz na superfície um romance quase com todas as características do próprio romantismo, e ao fundo, ou não muito ao fundo, a sua construção de ambiente, bem como a desilusão e desencanto refletido no próprio Jean-Luc ao cabo de sua experiência, elabora crítica de certa potência e penetra na barbárie e no autoritarismo, questões que volta e meia ressurgem no mundo.



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