Será? 7 Considerações sobre Melhor Que Sexo, de Luiz Cláudio Siqueira

O Blog Listas Literárias leu Melhor Que Sexo, de Luiz Cláudio Siqueira, publicado pela editora Autografia; neste post as 7 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Em termos de produção, Melhor Que Sexo é um bom conjunto, desde sua capa interessante às boas ilustrações que acompanham as crônicas do livro. A respeito, no caso deste trabalho, no gênero mais brasileiro de todos, o autor demonstra domínio na escrita com a qual busca pincelar com humor (especialmente na crônica anedótica que dá nome ao título) e transpor sua filosofia para suas crônicas, e será justamente esta filosofia que demandará boa parte das discussões deste post;

2 - O livro é composto por dezenas de crônicas que em sua maior parte pretensamente buscam refletir relações cotidianas, em sua maioria a partir das relações sociais e familiares, que aqui estão fortemente marcadas pela ética pessoal do autor, o que não seria problema algum, não fosse os ares doutrinários e a ambição de conterem as verdades absolutas, afirmação bastante recorrente das crônicas ao falarem dos amores, da fé, etc...

3 - É que o grande problema do conjunto das crônicas integrantes do livro é sua capacidade de exclusão somada à pretensão de verdade única. Por ingenuidade ou poder mesmo, as crônicas embebidas nas crenças pessoais do autor (e mais uma vez, até aí não é problema) passam de algo construído para si e para seus semelhantes a uma força dotada de intolerância implícita, porque ao afirmarem-se como verdades e possibilidade única de visão de mundo, perdem muita a possibilidade de leituras mais amplas;

4 - E o que caracteriza tudo isso é justamente o caráter afirmativo das crônicas escritas, como se fossem receitas (e únicas) para uma boa existência, uma vida digna e boa, e justamente por isso passam a não observar todo o resto. Ademais, vale sempre lembrar que toda reflexão pressupõe o questionamento e não a afirmação, visto que esta é amiga íntima dos ideais totalitários ou autoritários justamente por buscarem construir um modelo que deve ser seguido à risca;

5 - Além disso, ao optar por esse caminho, a desconsideração do todo complexo dos temas que as crônicas tentam abordar, além de revelar certa ingenuidade, restringe o alcance da obra, pois ao fim acaba apenas tendo efeito em doutrinados iniciados, ou então numa camada pouco reflexiva ou de baixa instrução, visto que as fragilidades dos argumentos expostos em cada crônica não seria levado a sério entre pessoas de maior conhecimento, pois acabam reunindo nada mais que clichês e a respeito de temas bem mais complexos do que apresentam as crônicas da obra;

6 - Com isso, busco dizer que a obra fica portanto, bastante restrita, pois ao leitor minimamente crítico, as fragilidades, as ingenuidades e mesmo as arrogâncias contidas na boa parte dos textos que compõe o livro, tudo isso se tornará irrelevante diante dos tons fanatizados com os quais as crônicas leem o mundo;

7 - Enfim, Melhor que Sexo ao fim apresenta como um conjunto de crônicas intensamente moralizante e de viés religioso que até pode funcionar entre leigos, fanatizados ou doutrinados que ainda imaginam num mundo tão vasto, haver apenas sua própria verdade. Da forma como se apresenta, todo o pensamento divergente do que elas se propõe estão exclusos, pois o caráter afirmativo que apresentam-se, acabam por se tornar excludente de tudo aquilo que é visto ou imaginado de outra forma. Assim, a despeito de sua boa apresentação, o domínio técnico com que é escrita, as crônicas do livro perdem interesse justamente naquilo que importa: o campo das ideias, dos conceitos e da filosofia. Nesses quesitos, infelizmente tudo soa bastante pobre ao leitor com criticidade.



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