10 Considerações sobre História Bizarra da Literatura Brasileira, de Marcel Verrumo, ou se...

O Blog Listas Literárias leu História Bizarra da Literatura Brasileira, de Marcel Verrumo, publicado pela editora Planeta; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - História Bizarra da Literatura Brasileira é uma leitura até que divertida, com uma proposta mais leve e uma tentativa de abordar a literatura nacional sob novas perspectivas, todavia, entre erros e acertos, aos minimamente conhecedores da literatura nacional, em alguns aspectos, a obra pode ser um tanto decepcionante;

2 - O livro, desde o seu título se propõe a um olhar pouco convencional das discussões literárias, buscando pretensamente realizar algo ainda não feito e quem sabe "jogar novas luzes" sobre a literatura brasileira, intenção que pode ser observada nos constantes questionamentos do autor do tipo "não compreendo como não se vê isso na escola". Para fazer isso, contudo, ele cria uma estrutura híbrida de intenso humor (às vezes exagerado) e linguagem descontraída disfarçada de ensaio ou artigo acadêmico, que no fim acaba não sendo nem um, nem outro;

3 - Desta forma, as virtudes do livro acabam ficando mesmo em seu humor mais escrachado e o descompromisso de uma maior seriedade com o refletir sobre literatura, além de uma ou outra informação que de fato sejam desconhecidas dos leitores. A isto, ainda, poderíamos somar a divisão previsível por escolas literárias que ao menos a alguns leitores pode ajudar na hora de identificar autores e períodos, mas saindo disto, temos muitas coisas a apontar;

4 - Primeiro que a própria gênese da obra acabada sendo de certa forma perdida, pois em sua ampla maioria, os casos narrados pelo autor são desconhecidos apenas da parcela plenamente leiga sobre a literatura, sendo que em alguns casos o livro exagera os tons de acontecimentos que deveriam (pelo menos em tese) ser de conhecimento de qualquer estudante de ensino médio, como a Carta de Pero Vaz Caminha em que o autor supervaloriza "o pedido de favorecimento", algo tão explícito que apenas a leitura do documento já é suficiente para que as pessoas saibam disto. O mesmo ocorre com a questão de Hans Staden, e por aí vai, numa tática contínua de dimensionar com exageros questões de conhecimento quase que geral;

5 - Agora, talvez o problema mais grave do livro sejam seus diversos "e se". Se o autor, por um lado tenta dar uma aparência acadêmica ao seu trabalho, por outro, acaba pecando no exagero dos "e se", de forma que há em seu texto vários artigos que o recurso é utilizado que mais do que apresentar uma versão bizarra da nossa literatura, ele apenas reforça processos de mistificação de acontecimentos sem qualquer comprovação, ou mesmo utilidade para os estudos literários ou históricos, de modo que soa muitas vezes como deslumbramento de uma história pintada com exageros, além, é claro, que a cada "e se" teremos um choque na credibilidade do livro;

6 -  Além disso, é preciso discutir o termo bizarro, que na maior parte dos casos apresentados provavelmente não se encaixariam, já que as abordagens dão conta dos dramas pessoais por qual muitos autores passaram, portanto, longe de qualquer bizarrice, mas sim histórias de vidas tocadas em alguns casos pelos dedos da tragédia;

7 - Além disso, há certos exageros do autor, como quando tenta levar para a discussão literária o que não lhe é de interesse. Como quando demonstra perplexidade ao não compreender como não se aborda a tragédia familiar de Euclides da Cunha nas escolas. Simples, porque não há razão alguma para isto. Primeiro, lógico que não propomos aqui apenas olhares formalistas sobre a escrita literária, mas qual seria a contribuição para a compreensão da obra de Euclides saber que ele morreu num duelo? Como curiosidade, ok. Mas pensar que é uma negligência, não faz sentido algum, até porque o fato encerra a carreira do autor, e tudo que precisamos para discutir isto precede sua morte;

8 - Mas há, todavia outras virtudes na obra, especialmente quando o autor introduz em sua obra questões da literatura LGBT que vão um tanto além do discutido, além de traçar certo panorama da literatura erótica brasileira;

9 - No geral, entretanto, a obra sustenta-se mais pela abordagem bem-humorada e descompromissada e um tanto dúbia entre o academicismo e o popular do que por qualquer relevância literária, até porque, para os estudos literários qualquer discussão que desconsidere a interpretação literária, que parece-nos o caso, não tem razão de ser, pois mesmo que hoje superamos as vertentes formalistas, e, claro, nos permitimos à leitura da literatura e sociedade, ainda assim o que deverá sempre falar mais alto é a obra do autor, será sempre ela que dirá (ou não dirá) a mensagem essencial de sua literatura;

10 - Enfim, esta é uma leitura que pode até divertir, principalmente leitores não iniciados na nossa literatura, mas qualquer coisa para além disso, saltarão dúvidas e críticas que não passam despercebidas dos conhecedores, mesmo que minimamente, da literatura brasileira.



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