10 Considerações sobre O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco, ou por que não mexer com os Templários

O Blog Listas Literárias leu O Pêndulo de Foucault, republicado recentemente pela Editora Record; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Não é a toa que O Pêndulo de Foucault, publicado pela primeira vez em 1988, é considerado um dos grandes clássicos recentes da literatura. Com sua narrativa única, trama inteligente, personagens vívidos e originais, além da congruência de teorias conspiratórias, o livro é um dos poucos e raros casos capazes de agradar o público em geral, quanto aos críticos, pois alia intelectualidade com a boa e velha narrativa de crime, tudo isso com a qualidade que talvez Umberto Eco fosse um dos poucos autores a conseguir;

2 – O livro ainda é uma grande oportunidade – quiçá desleal – para se traçar comparativos com obras que vieram muito depois dele, como o bestseller O Código Da Vinci, contudo aqui a trama envolvendo Cavaleiros Templários, Rosa-Cruzes e uma infinidade de grupos e simbologias concentra um nível extraordinário de conhecimento e uma abordagem que perpassa por toda história dos mistérios da humanidade;

3 – Entretanto, é um livro mais complexo do que a mera ação e tensão, tampouco parece-nos uma busca barata por alguma espécie de segredo. O Pêndulo de Foucault é uma teia intrincada e muito exigente, pois o nível intelectual de seus personagens é sublime, e por muitas vezes colocará o leitor diante teorias e conceitos acadêmicos que se por um lado exigirão sua atenção, por outro contribuirão para seu conhecimento sobremaneira;

4 – Falando em personagens, Causabon, Belbo e Diotallevi então naquela categoria de personagens que desconfiamos ser reais, tamanha caracterização de complexidades presentes, imbuindo-os de identidade tão significativa que não podemos deixar de admirar tais criações. Seus diálogos e ações os tornam íntimo dos leitores, que é como se estivéssemos dialogando teorias perigosas na mesma mesa que o trio;

5 – Da mesma forma, não só o conteúdo da obra, entremeado por intrigas, mistérios e tensão aliados com uma grande carga de informação acadêmica, dá a aparência acadêmica do romance, pois a estrutura de seus capítulos com suas citações assemelham-se de fato à construção de uma grande tese, reforçando o caráter acadêmico de seu narrador, Causabon;

6 – Aliás, Causabon é um exímio narrador conseguindo descrever cenas em diferentes momentos de tempo, trazendo o suspense de quem esconde-se à noite num espaço exíguo ao mesmo passo que suas memórias retrocedem temporalmente colocando os leitores a par de como ele colocou-se naquela situação de perigo. Assim, entre retornos na história e insigths do por vir, mantendo-nos sempre atento à obra;

7 – Além disso, Umberto Eco consegue neste livro descrever seu olhar de autor sobre um período de intenção agitação política no mundo, e através de seus personagens consegue refletir suas incoerências ao mesmo tempo que seu herói, Causabon sobrevive à sombra de tais agitações, ainda que sempre tenha tal poder de síntese, em alguns momentos dotadas de certa desilusão. Isso tudo faz do livro uma dessas leituras necessárias e obrigatórias, porque ali o leitor poderá observar uma representação crítica de mundo que vai além do mistério de sua trama, pois temos nesta obra uma análise da humanidade não só contemporânea à trama, mas ao longo do tempo; Essa observação da humanidade, dá-se então a partir de sua cultura, suas simbologias, suas crenças, suas interligações etc… E assim, o leitor vai compondo um interessante quadro cuja companheira será a paranoia;

8 – Há ainda dois elementos interessantíssimos que creio ser muito relevantes para nossa observação. O primeiro é o interessante olhar do autor para com o Brasil e sua cultura afro, e o faz de uma forma vívida e intensa que nem sempre vemos em nossos próprios autores nacionais, pois enquanto Causabon peregrina pelo Rio de Janeiro e Bahia somos colocados diante de uma riqueza de cenários, personagens entre outros detalhes que fazem desse olhar de Eco sobre o país, provavelmente uma das melhores e mais qualificadas observações do Brasil feitas por autores estrangeiros;

9 – Já a segunda questão que creio ser um registro histórico é o espanto e a recepção do mundo tecnológico em que uma série de questões sobre a escrita e a tecnologia é posta em debate pelo narrador e pelos editores da Garamond. Num mundo como o de hoje que a tecnologia e os softwares são tão banais, ler o início desse processo e as reflexões nascida de personagens que questionam a escrita, disquetes e programas editores de texto é deveras interessante, fazendo da obra, nesse quesito um grande marco definindo o momento em que os livros começam a abandonar as máquinas de escrever para serem digitados e editados nos computadores;

10 – Enfim, sem digo da importância de se ler da fonte, e se você além de ser fãs de romances de qualidade, com ação e mistério, também fanático por teorias conspiratórias, sociedades secretas e segredos que devem ficar obscuros, esse livro sem dúvida alguma é mais do que obrigatório, deve ser sua porta de entrada (ou saída) do mundo de Templários, Rosa-Cruzes, etc…




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