10 Considerações sobre O Papel de Parede Amarelo, de Charlote Perkins Gilman ou porque a liberdade parece loucura

O Blog Listas Literárias leu O Papel de Parede Amarelo, de Charlotte Perkins Gilman publicado pela editora José Olympio; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo, confira:

1 - A narrativa eloquente publicada pela primeira vez em 1892 é um destes contos que de fato merecem seu resgate ao cânone, no caso deste livro uma redescoberta pelo movimento feminista que observou na obra um retrato opressor e realista do cotidiano das mulheres, algo que infelizmente encontra ecos e parâmetros similares nos dias atuais, e justamente por tais questões o leitor não deve subestimar seu tamanho físico enquanto livro, pois trata-se de uma grande e maiúscula leitura;

2 - Narrado por uma mulher envolta por seus problemas (que refletem s problemas de um conjunto), a protagonista-narradora nos relata sua vida em família, na casa que convivem, bem como sua relação com a sociedade, que mesmo insinuada nos mostra uma mulher que questiona seu mundo, mas que em determinados momentos consegue manter minimamente a aparência em recepções sociais que não merecem maiores divagações diante seus problemas maiores;

3 - Para tanto, a narrativa de Gilman é de um forte teor psicológico e dramático, uma verdadeira "viagem" pelos pensamentos "desconcertantes" da narradora que usa de técnicas primorosas para manter-nos ligados ao seu texto, num suspense anunciado que cada vez mais toma peso e força até seu desfecho impactante;

4 - Justamente por isso não são injustas as comparações deste seu trabalho com os de Edgar Allan Poe, e justificasse principalmente porque ambos conseguem impor no texto a complexidade de seus tormentos, que óbvio, são diferentes, contudo não deixam de dar vazão a um horror penetrante;

5 - Talvez por isso, por muito tempo a loucura foi o único modo de olhar tal conto, talvez por de fato a autora conseguir expressar toda a carga opressiva contra ela e contra as mulheres através de sua "heroína" de destino discutível, ou então, o que creio, pelo fato de a obra ser uma destas que justamente tocam naquelas verdades que grande parte da sociedade teima não enxergar e até mesmo resiste a vê-las;

6 - Além disso, o conto permite outras observações não menos interessantes como perceber a ação de determinados ambientes como forças catalisadores e impulsionantes a sentimentos e coisas que já estavam semeadas, como a casa em qual ficam e principalmente o papel de parede amarelo que se torna a grande obsessão da narradora e uma espécie de combustível para a publicização de suas dores e ressentimentos com a sociedade;

7 - Da mesma forma não é mera coincidência que justamente a nossa narradora não possua identidade no conto, como acontece com seus médicos, como nome, e até sobrenome. Creio que é nesse momento o maior panfleto da autora ao demonstrar através de seu conto que as mulheres sequer possuíam identidade, bastando um "minha, menina" "querida" "pobrezinha", pois ao papel que lhes era destinado a carência da identidade por meio de um nome é muito simbólica;

8 - Mais assustador ainda é a alternativa que o conto exibe para as mulheres que conseguiam observar as distorções da sociedade para com elas, a falta de identidade e um papel submisso a cumprir, ou então encarar a morte, numa escolha que Charlotte não opta pelo caminho de uma esperança utópica de uma heroína que salva-se a si mesma e ao mundo, mas sim um caminho verossímil e tenebroso que restava a suas mulheres contemporâneas que compreendiam a brutalidade do sistema que as envolviam, mas que ainda careciam de ferramentas para lutar contra isso;

9 - Por isso a loucura e o desfecho horripilante do conto são de fato uma denúncia do quão tortos eram os caminhos das mulheres, numa liberdade no caso da narradora conquistada com o maior preço que se pode pagar pela liberdade;

10 - Enfim, O Papel de Parede Amarelo é uma obra gigante escrita em poucas palavras mas que aborda um problema de forma impactante e assustadora, seja nos tempos de sua publicação, seja nos dias de hoje, e ainda que com avanços, continua a nos apresentar problemas comuns à narradora de Charlotte.


 

2 Comentários

  1. Mais um para a lista! Quando ler venho aqui dizer o que achei.

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  2. Mais um para a lista! Quando ler venho aqui dizer o que achei.

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