10 Considerações sobre O Forte, de Bernard Cornwell, ou como mergulhar na podridão sombria da zona de guerra...

*Embora mínimos, algumas considerações podem conter spoilers, por isso, esteja atento e tenha certeza de prosseguir a leitura.

1 – O Forte é uma leitura pulsante, assim como sãos as guerras, e deste modo o romance histórico mergulha no período de nascimento dos Estados Unidos da América, trazendo através da literatura umas das batalhas mais desastrosas entre americanos e ingleses;

2 – Embora o romance construído no ambiente ficcional, a maior parte é embasada em dados e fontes históricas, e essa junção nos proporciona atitudes de seus personagens no mínimo questionáveis, e em muitas passagens o leitor mergulha no livro, intencionando em bater na cara dos atrapalhados rebeldes americanos;

3 – O bacana é que Cornwell numa detalhada nota histórica ao final do livro nos mostra o que foi fruto de sua imaginação, e os fatos concretos (ou não tão concretos) que recolheu dos documentos históricos para unir a sua ficção. E essa nota, inclusive nos ajuda a compreender a construção de seus personagens, e a forma como ele acaba tratando figuras da história americana, como Paul Revere, e Peleg Wadsworth;

4 – O Forte reflete um período turbulento, e tece teorias sobre a expedição Penobscot, e ganha vida na frente do leitor através da narrativa clara e precisa de Bernard Cornwell;

5 – Em O Forte, o narrador se torna imparcial, e parcial, ao mesmo tempo, pois a admiração pelos personagens valorosos e valentes, de ambos os lados está evidente na construção de cada um deles, e assim como um guerreiro que prefere lutar contra outro guerreiro tão forte e perigoso, o leitor durante o livro levado pelo narrado acaba se admirando pelas virtudes de combatentes de ambos os lados, como Moore e McLean entre os ingleses, e Wadsworth e Welch entre os americanos;

6 – Bernard Cornwel faz-nos sentir o cheiro podre da morte. Nos permite ver o cenário dantesco de uma guerra. Ao passo que sua narrativa detalha a batalha pela tomada do Forte George, ele nos faz engasgar a seco com seus pedaços de corpos dilacerados por canhões de 18 libras, e baionetas assassinas. Quem está acostumado com a morte sensível apresentada nos cinemas, é melhor estar preparado para ossos expostos, e perdas irreparáveis;

7 – A melhor passagem do livro é a que justamente Cornwell empresta todo seu talento ficcional, e toda ela embora não tenha existido, deveria. A conversa criada entre o General McLean e Wadsworth é sensacional, num diálogo com um fino e requintado humor, que além de suavizar a trama, também permite que Bernard Cornwell explicite seus pensamentos sobre a guerra;

8 – Tem outra passagem que é hilária, e mesmo entre embates ferozes não consegui conter o riso. O grande problema é que os americanos tinham um MacDonald entre eles, e os Campbell podem ser mortais atrás de um MacDonald. Cada um motiva as tropas como pode.

9 – Como resgate histórico, O Forte ainda busca desmistificar lendas, como Paul Revere, cujas atitudes apresentadas no livro, inicialmente não nos incomoda, mas ao andar da carruagem passamos a detestá-lo.

10 – Enfim, O Forte é uma leitura imperdível. O texto é denso, especialmente durante as batalhas, e além de nos ajudar no resgate histórico de um período importante para todo o território americano, é um romance que vibra a cada página, e ao seu final o leitor gostaria de continuá-lo a ler.



1 Comentários

  1. Parabens pela resenha meu caro! Cornwell é formidável, já li quase todos os livros dele! Depois deste, fui pesquisar + sobre a guerra entre EUA e Inglaterra... Tamojunto!

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem