10 Considerações sobre O grande dia, de Pierre Cormon ou a diferença entre tum chi tum e tim tchi tum

O blog Listas Literárias leu O grande dia: uma micro-odisseia carnavalesca, de Pierre Cormon. Confira neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro ou sobre olhares estrangeiros a um dos nossos maiores legados culturais:

1 - Escrito pelo autor suíço Pierre Cormon, antes de mais nada, O grande dia é o olhar estrangeiro para nós e para aquilo que tanto atrai olhares de fora e ao mesmo tempo (para despeito de parte de nossa sociedade), nos representa e muito, sim: o carnaval. E dá para perceber o encanto de Cormon pela cultura brasileira e pelo carnaval em sua narrativa que não deixa de ser uma narrativa de fã;

2 - O livro em sua proposta de micro-odisseia é realmente isso, perpassando cerca de 12 horas na vida de três personagens, narra as desventuras de três protagonistas num dia de carnaval. E aqui um elemento curioso e interessante do livro, já que os três personagens que compartilham as três partes do romance, embora tenham suas vidas ligadas indissoluvelmente, acabam não se encontrando no decorrer da narração, cada qual com sua micro-odisseia pessoal;

3 - Dandara abre a narrativa em sua busca angustiante pelo contato que lhe entregará a fantasia de carnaval com a qual desfilará por uma escola de samba. A paixão e a ansiedade por estrear na avenida, processo iniciado como plano de aproximar-se de um rapaz, tomam as páginas iniciais do livro com a garota encontrando uma série de percalços em busca de sua fantasia. Realmente uma odisseia de encontros e desencontros que ao cabo da parte em que o foco narrativo segue-lhe temos uma corrida contra o tempo estabelecida;

4 - Tainá por sua vez é responsável pela entrega das fantasias. Jovem que trabalha duro e usa a van do trabalho para realizar as atividades da escola de samba. Convive com uma tia com a qual possui muitas incompatibilidades, o carnaval, em especial, visto que a tia mostra-se religiosa fervorosa. Depois de acompanhar Dandara, retrocedemos brevemente para acompanhar a odisseia de Tainá que entre encontros amorosos inesperados - aliás, aqui talvez algo bem carioca na narrativa - tem seu dia de cão, com uma série de problemas atrapalhando seus planos e suas ações para o carnaval;

5 - A terceira parte personagens que ligar-se-ão às garotas de forma ainda mais inesperada e casual. Um acaso do destino que coloca Ronildo e Chico, primos, na linha do tempo das duas jovens, ainda que nunca se encontrem. Nesta parte o submundo carioca avança no romance, e os planos de ocasião de um Ronildo que viaja demasiadamente em seus planos otimistas. Ele e o primo, outro detalhe relevante da obra, pois abarca os diferentes carnavais do carnaval carioca, atuam no bate-bola e depois de uma noite de brincadeiras carnavalescas tentam de forma assodada resolver o problema com um agiota, já que estão sem grana. Aqui entra as relações perigosas que fluem pelas veias da cidade e Ronildo e Chico trarão à tona às relações perigosas e o crime;

6 - Tudo isso corre numa narrativa fluente. Rápida, mesmo. Como o livro percorre este prazo curto de tempo, a ação é constante, o movimento é a marca das personagens romanesca de Cormon. Mas não se trata de um movimento que espanta ou impossibilita ações mais reflexivas, já que a memória e a paixão pelo carnaval que emana de suas personagens vêm à tona nessa situação em movimento e como isso vão conseguindo dar conta dos objetivos do romance: homenagear a cultura do carnaval e das gentes que o fazem;

7 - E como dito, um carnaval que de maneira ou outra surge em sua multiplicidade, dos blocos às tradições populares e por vezes marginalizadas como o bate-bolas. Cada um dos protagonistas carrega suas visões pessoais e experiências com o carnaval, o que auxilia na multiplicidade desse olhar;

8 - Mas não se trata apenas de uma obra sobre o carnaval. Há o olhar estrangeiro para toda uma cultura urbana em todas as suas complexidades (alguns desfechos ampliam esse debate) de modo que parece-nos um olhar atencioso para nossas coisas. Isso porque há certos ares de retratos sociais e culturais na narrativa. Cormon olhar para o povo simples e mundano da rotina diária em seu romance, cada qual com seus sonhos, aspirações e divergências. Nisso entrega-nos um mosaico interessante desse caldeirão, de modo que para além do carnaval, temos um debate mais amplo que apenas o carnaval já que fala de questões relevantes de nossas experiências;

9 - Somando tudo temos uma narrativa bem redonda. Talvez poderia se dizer que o romance atenua algumas questões mais emblemáticas ou que ao cabo corra o risco de entrar em uma espécie de senso comum como nos enxergam. Não diria que bem o caso, ainda que o clima festivo e carnavalesco permaneça durante toda a narrativa, excetuando-se um evento de abordagem e reflexão mais dura. Talvez estes pequenos poréns advenham da simplicidade da obra e principalmente de sua protagonistas - não que sejam simples enquanto característica narrativa, todavia, parece-nos que essa é justamente a busca do autor, e aí se torna um aspecto positivo;

10 - Enfim, O grande dia tem muitas virtudes. Uma grata surpresa pelo empenho do autor ao retratar algo que lhe parece muito caro. Uma narrativa que agrada por seu ritmo, por seu tema e que ainda poderá trazer alguma surpresa ao final. Além disso, suas personagens compõem um mosaico interessante da diversidade da cultura não só carnavalesca, mas da própria sociedade brasileira. Vale a pena vocês conhecerem!.

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