10 Escritores para irritar professores gramatiqueiros

A escola sem dúvida faz seu melhor, mas não raro há uma queima de energia em aulas de línguas - pensamos aqui em língua portuguesa - com uma exagerada preocupação com a gramática e pouco trabalho com as questões da linguagem e da língua de modo mais amplo. São anos e anos de, "saiba escrever um parágrafo", "não entende que substantivo próprio começa com maiúscula", "pelo amor de Deus, não se começa frase com pronomes" e por aí vai. Ocorre que no uso mais complexo de no campo de maior trabalho com a linguagem, a literatura, a verdade é que muitos escritores tirariam os cabelos de profes. de língua. Neste post selecionamos 10 exemplos de escritores para deixar gramatiqueiro de cabelo em pé, confira:


1 - José Saramago: Vamos começar chutando a porta com um Nobel de Literatura. Como todos nós passamos anos e anos em aulas de língua portuguesa, quem nunca foi cobrado por essa ou aquela questão de pontuação. Pois é, imagine as redações do Saramago, bobear em muitas aulas de língua não tiraria um 10 em redação. Quando se fala de usos não convencionais da pontuação ele sempre é lembrado por suas páginas e páginas sem uma única vírgula ou diálogos sem as marcações gráficas;

2 - Charles Bukowski: Professores dão bastante importância para a regrinha básica: começos de frases se começa com palavras maiúsculas. Diz isso pro Bukowski então. Muitos contos do autor conhecido como um dos últimos malditos da literatura tem como característica o não uso de palavras maiúsculas em princípios de frase, o que certamente tiraria os cabelos de profes de língua. Bem, no caso do Bukowski além disso, o vocabulário também não seria do agrado de professores gramatiqueiros, esses tem uma forte tendência de rechaçar a linguagem viva das ruas;

3 - Walter Hugo Mãe: Continuemos na questão das letras maiúsculas e outra regrinha clássica, aquela de que substantivos próprios sempre iniciam com letras maiúsculas. Bem, Mãe discorda disso e em suas obras evita esse uso justamente como escolha consciente contra a hierarquia presente na ideia da distinção criada pelas maiúsculas em nomes próprios;

4 - Virginia Woolf: Conhecida pelas narrativas que em muitos momentos adentram a um fluxo de consciência, a autora também é conhecida pelo uso não convencional da pontuação muitas vezes. Vejamos que o domínio e o uso não convencional da pontuação parece-nos estratégia dos grandes autores;

5 - Carlos Drummond de Andrade: No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha um Drummond no meio do caminho dos gramatiqueiros e o poema se imortalizou em grande parte pela provocação no uso do verbo ter de modo não usual pela gramática normativa. Sério, depois desse poema faz sentido muitos professores se desgastarem para defender regras gramaticais solapadas pela língua viva? Qual falante está preocupado se a gramática permite isso ou aquilo? Que gramatiqueiro responde, quando lhe batem à porta do banheiro, responde lá de dentro: há gente? Drummond em sua poesia valorizou a língua - inclusive a popular, para desespero dos gramatiqueiros;

6 - Oswald de Andrade: Se algo devemos aos modernistas é a defesa enfática da língua e o ranço que eles tinham com a gramática. E não há poema mais provocativo, enfático e esclarecedor que Pronominais do Oswald. Ain, mas não se começa frase com pronome diz a gramática diz é nada vai na padaria então e em vez de pedir me dá dois pão fale dê-me dois pães, por obséquio, inestimável atendente; Fico imaginando se ainda hoje professores retiram pontos de alunos que escrevam um poema ou um conto com pronomes iniciando frases?

7 - Lourenço Mutarelli: Não duvido que professores gramatiqueiros desmaiassem lendo Mutarelli. Não que ele agrida a gramática, mas poucos violentam a linguagem conscientemente como ele hoje em dia no Brasil. Ele vai da bricolage à mescla de gêneros. Em muitos trabalhos seus a prosa e a lírica fundem-se, ora parágrafo, ora verso. Em muitos trabalhos também o discurso é trazido de ponto, o leitor que lute para identificar a voz, quem disse que precisamos de travessões ou aspas? Mas o que mais irritaria certamente os gramatiqueiros é a sintaxe extremamente popular, das ruas, ornadas de palavras obscenas, contrações extremas, a fala como ela é;

8 - Guimarães Rosa: Trazemos aqui um nome contraditório porque os parecem gostar dele. Entretanto, se tem coisa que gramatiqueiro não gosta é de falar de variação linguística e Guimarães tanto em seus contos, mas especialmente em Grande Sertão: Veredas dá uma aula de variação linguística trazendo à luz falar das gentes com seus neologismos e seus arcaísmos. Difícil ver professor gramatiqueiro achando graça em neologismos estudantis, ô contradição;

9 - Hilda Hist: O palavrão é revolucionário, pendor da rebeldia, gramatiqueiros por sua vez gostam das caixas, das regras que parecem explicar algo, encaixotar tudo. Hist era afeita ao palavrão, mas além disso, seus poemas para além da liberdade de seus versos - que desde o Modernismo se consolidou - também é conhecida por romper com preceitos gramaticais normativos;

10 - George Perec - Bem não sei se os gramatiqueiros se irritariam, mas como eles gostam muito do alfabeto, pode ser que sim. Perec tem um livro - que queremos ler um dia -, O sumiço, que ele retira a letra e de suas páginas. Deve ter ficando bem interessante, mas pensa num trabalho?

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