Por quê? Mas por quê? 10 considerações sobre O que é a pergunta? de Mario Sergio Cortella e Silmara Rascalha Casadei

O Blog Listas Literárias leu O que é a pergunta? De Mario Sergio Cortella e Silmara Rascalha Casadei publicado pela Cortez Editora. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:


1 - Leitura de tiro curto e rápido, mas não menos essencial, O que é a pergunta? chega à sua 5ª edição, esta revista e ampliada, pela Cortez Editora na qual o renomado filósofo e educador Mario Sergio Cortella e a educadora Silmaria Rascalha Casadai buscam introduzir a filosofia a jovens leitores e partem justamente daquilo que mais é relevante na evolução humana: nossa infinita capacidade de perguntar, afinal, não são as respostas que criaram o mundo que vivemos, mas as mais inusitadas, incômodas ou pertinentes perguntas;

2 - Inicialmente precisamos dizer que trata-se de uma narrativa de caráter infantojuvenil com características didáticas - sem ser um livro didático - e introdutória ao universo da filosofia e da ciência, de modo que, no livro acompanharemos o despertar à filosofia a partir de uma linha básica com seus principais nomes;

3 - E para "vender" a filosofia aos jovens estudantes, os autores partem do velho e bom princípio de que aprendemos por meio das narrativas, dos contos, das parábolas, filmes, livro, etc... de modo que o livro narra o encontro entre um Menino e o Filósofo, cujo encontro levam-nos ao Reino das Indagações;

4 - Em síntese, a ação da narrativa dá-se pelo interesse comum nas perguntas, já que o jovem garoto mostra-se bastante questionador, mas também um pensador acerca de suas próprias perguntas. O encontro de ambos parte da réplica do Filósofo - um antigo professor da escola - ao garoto, "O que é uma pergunta?". A partir daí os dois passam a encontrar-se diariamente;

5 - Os encontros representam então um mergulho na história da filosofia, uma passeio por diferentes épocas e por nomes importantes e que tinham em alta conta as perguntas. Trata-se de uma viagem diacrônica linear em sua grande parte com breves pinceladas biográficas sobre importantes filósofos e filósofas da humanidade chegando até às discussões contemporâneas;

6 - Obviamente, por tratar-se de uma obra cujo objetivo é despertar o interesse pela filosofia e para a relevância das perguntas na constituição cultural da humanidade, é um livro com um caráter de iniciação aos principais conceitos da filosofia e um resumo superficial da biografia de um bom número de filósofos;

7 - Nesse sentido, a obra, portanto, assume certo papel nesse despertar e encontra na narrativa meio para tal. Além disso, a obra não necessariamente pode ser lida apenas por jovens estudantes, já que sua leitura também é relevante para educadores em distintas posições, visto que, há na narrativa essa forte vocação e olhar voltado ao processo educativo;

8 - E ditas algumas e importantes objetivas considerações, pensamos, entretanto, breves, mas pertinentes observações acerca da obra. Primeira questão é de que o diálogo disfarça de certa forma um monólogo, visto que, - e isso sou eu dizendo, nada que seja explícito no livro - O filósofo fala consigo mesmo. De certa forma o Menino também é o filósofo, e isso fica mais evidente no sentido idealizado de sua construção. Quando o Menino fala é o Filosofo que pergunta a si mesmo, o que não é problema, claro. Talvez o que poderia ter sido pensado é o gênero do interlocutor. O próprio Menino questiona a ausência de mulheres na filosofia - bem sabemos que não se trata de ausência, mas apagamentos - e o Filósofo traz algumas mulheres da filosofia, mas ainda poucas - aliás, há ausências em nomes que poderiam ter sido lembrados. Não teria sido interessante uma Menina enquanto protagonista?

9 - Todavia, as coisas que mais me fizeram pensar na leitura nem mesmo foi os jovens leitores, principal público da obra. Penso, que na verdade, o livro em pé de igualdade deveria ter como foco educadores. Cortella e Casadei trazem um olhar utópico e esperançoso para a obra, o que reflete inclusive no aluno idealizado que é o Menino. mas não é disso que quero tratar. Como educador e como um educador que pratica o verbo esperançar e que sabe a importância das perguntas, penso que o livro contrasta, infelizmente, com a postura de uma boa e significativa parcela de educadores: os do tipo que castram a curiosidade alheia, que podam as perguntas, especialmente as incômodas ou as que adentram uma especificidade que às vezes não estão prontos para responder. O Menino da narrativa seria visto pelos educadores desse tipo um problema, o chato que não para de perguntar, o esquisito, olha só, querendo saber de Bacon, Locke e Aristóteles. Considero esse cenário um dos mais dramáticos da nossa educação e quem convive em uma sala de professores bem o sabe que, infelizmente, não é incomum. Por isso, cremos que essa também seria uma ótima leitura de convencimento ou ao menos de lembrança de que ao educador nada melhor representa sua ferramenta de trabalho que uma boa e intrincada pergunta feita por algum aluno ou aluna do sexto ano; 

10 - Enfim, O que é uma pergunta? mais do que despertar o interesse na filosofia, tem na verdade a importância de reforçar e valorizar quilo que nos é mais caro, a inquietude humana e sua capacidade de renovar e encontrar novas e novas perguntas a se fazer. Foram perguntas que nos conduziram até aqui e serão novas (aliás, o final do livro adentra a questão presente da inteligência artificial) e difíceis perguntas que nos levarão adiante e adiante e adiante...

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