10 Considerações sobre A Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han

No post de hoje compartilhamos mais uma resenha escrita pelo leitor Jairan Roberto dos Santos Araújo. Dessa vez ele analisa o livro A sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han publicado pela editora Vozes. Confira:



1 - A obra Sociedade do Cansaço, escrita por Byung-Chul Han, é um breve ensaio sobre as principais mudanças sociais, culturais e econômicas do século XXI. Nesse sentido, o autor realiza uma análise sobre a sociedade do desempenho, que está sujeita a ser "melhor em tudo". Consequentemente, devido a esse excesso de positividade, ocorre um considerável aumento nos casos de transtornos mentais. Com isso, Byung-Chul Han tem como objetivo analisar o excesso de positividade e produtividade que se manifesta na sociedade, a qual acredita que nada é impossível.

2- No capítulo 1, "A violência neural", Han menciona que tudo se inicia pelo excesso de positividade. Essa intensidade se manifesta de forma generalizada em pequenas doenças neurais que ganham cada vez mais espaço na sociedade atual, tais como depressão, síndrome de Burnout, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Assim, a violência neural é diagnosticada pelo excesso de positividade, presente nas ações de superdesempenho e no consumo exagerado de informações pelas mídias sociais. Portanto, essa violência está ligada a um enorme vírus psíquico, cuja principal causa é o super esforço para alcançar o sucesso, deixando o indivíduo à beira de um colapso mental.

3-  Partindo para o capítulo 2, “Além da sociedade disciplinar”, ocorre uma analogia histórica construída a partir das obras de Michel Foucault, que aborda a sociedade disciplinar. Considerando que a sociedade do desempenho está associada à positividade, a disciplinar se submete à negatividade devido à rejeição da normalidade, marginalizando comportamentos divergentes, especialmente aqueles de pessoas que possuem doenças mentais. Dessa forma, com essa analogia, o autor evidencia uma transição da negatividade para a positividade. Esse modelo direciona o indivíduo a concentrar-se em lugares que proporcionam prazeres momentâneos. Segundo a visão de Foucault, a sociedade disciplinar não se adequa mais à contemporaneidade, devido às transformações tecnológicas e comportamentais. Ou seja, a sociedade evoluiu para um projeto motivacional voltado à mudança do sujeito para o desempenho.

4- No capítulo 3, “O tédio profundo”, com a sociedade do aceleramento, surgem diversos sofrimentos psíquicos na busca pelo desempenho esperado pelo novo modelo social. O modo de se relacionar, receber informações e realizar múltiplas atividades deixa os indivíduos com uma significativa deficiência visual em relação à sua própria saúde mental. Uma vez que estão tão concentrados em atender às suas demandas, eles carecem de uma perspectiva contemplativa sobre si mesmos e sobre os outros. O sentimento de liberdade fica submetido às redes sociais, uma vez que é por meio delas que o indivíduo encontra uma fuga para o tédio e experimenta sua liberdade paradoxal, decorrente de uma estrutura de rede inerente, mas que representa um constante adoecimento.

5- “Vita activa”, capitulo 4, em consonância com Hannah Arendt (1981) e em busca de uma afinidade com o conceito de animal laborans, realiza-se uma análise sobre os indivíduos que vivem de maneira dispersa e sacrificam suas vidas em prol da superprodução. Nesse contexto, a autora destaca que o conceito apresentado faz com que o indivíduo se torne ignorante em relação à vida. No entanto, Han observa que isso ocorre porque o indivíduo destina seu lazer e espaço ao trabalho, mas isso não implica que o sujeito seja alheio e cego a essa ação, uma vez que os sentimentos se manifestam diante dessas atividades.

6- Quanto ao capítulo 5, “Pedagogia do ver”, O autor aborda a vida contemplativa, mencionada por Nietzsche. Segundo ele, é fundamental que os educadores ensinem a ler, pensar e falar. Para que, assim, os olhos sejam utilizados de maneira contemplativa em relação à vida. O aprendizado desses aspectos é essencial para evitar a compulsividade e o adoecimento psíquico presentes na sociedade. Nesse contexto, a positivação da sociedade é o que a enfraquece e, como tudo existe em equilíbrio, o despertar da negatividade também acompanha os indivíduos, resultando em sentimentos de vulnerabilidade, tristeza e contribuindo para um vazio existencial sobre a vida, o que pode levar à depressão. Por isso, a importância do educar e ser educado.

.7- Segundo o capítulo 6, “o caso Bartleby”, Han analisa um caso de uma sociedade que vive constantemente doente, ligada ao esgotamento físico e mental gerado pelo excesso do indivíduo em uma sociedade de superprodução. Para o autor, esses esforços exagerados que só resultam em depressão e distúrbios são vãos, considerando que, independentemente do esforço e da conquista que o sujeito almeje para sua vida, suas ações só o levarão a uma morte angustiante e solitária. Diante disso, não faria sentido sacrificar uma vida tranquila para viver disperso e isolado, focado em um objetivo que prejudicará sua saúde mental e física, pois o único caminho aparente é a morte.

8 - No que diz respeito ao capítulo 7, e último, que dá nome a obra "A Sociedade do Cansaço", temos uma visão concisa de que a sociedade do desempenho produz tanto esgotamento quanto doenças mentais, devido à necessidade constante de repudiar qualquer negatividade, pois o que impulsiona o desempenho é unicamente a positividade. Contudo, muitos esquecem que o cansaço, a tristeza, solidão, dor e incapacidade, que são ocasionados pela positividade, configura-se como negatividade. Logo, isso é extremamente prejudicial, afinal, incapacita qualquer indivíduo de ter uma vida tranquila e próxima de um conceito de liberdade.

9- Além disso, a sociedade construiu um pensamento equivocado em relação à "liberdade", considerando que surge uma crença de que quanto mais ativo, mais livre se é. No entanto, em uma análise mais profunda, é possível notar que em uma sociedade na qual a maioria é vazia e inegligente em relação aos seus afazeres, uma sociedade que não consegue superar um simples tédio sem se afogar nas profundezas das redes sociais, não desfruta verdadeiramente da liberdade. Pelo contrário, o que observamos no século XXI é uma sociedade aprisionada em conceitos que lhe negam o melhor que a vida pode oferecer de maneira equilibrada, sem a necessidade de solidão decorrente do crescente egocentrismo.



10 - Em resumo, a obra "Sociedade do Cansaço" visa despertar a consciência de que vivemos em uma época dominada pelo discurso positivista, que não coincide com a realidade e leva ao esgotamento mental. Esse discurso está vinculado à necessidade de fazer as pessoas acreditarem que tudo é possível, caso desejem que seja. No entanto, ao confrontar a realidade, as pessoas se decepcionam ao perceber que nem tudo é realizável. Essa positividade sedutora faz com que se cobrem excessivamente, gerando ansiedade e angústia ao se compararem com os outros. Consequentemente, o sistema capitalista se aproveita dessa situação para aumentar o nível de produção e promover o consumo excessivo. No entanto, o resultado disso tem sido desastroso, pois a saúde mental de todos está chegando a um ponto crítico. Nessa disputa entre positividade e desempenho, o trabalho tem substituído a saúde e a vida, pois para muitos já não é mais a prioridade.

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