10 Considerações sobre Crônicas do invisível, de Douglas Alfini Jr. ou sobre como contar estórias...

O blog Listas Literárias leu Crônicas do invisível, de Douglas Alfini Jr. publicado pelo Clube de Autores; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:


1 - Antes de mais nada, é necessário dizer que o livro Crônicas do invisível surpreendeu em diferentes sentidos e de maneira muito positiva, e a principal questão que se precisa ressaltar é a melhoria de qualidade do próprio "objeto"livro, já que em outras experiências nossas com material do Clube de Autores esbarrava nos problemas de qualidade do material da publicação. O material deste livro demonstra um grande avanço do sistema, que no caso dessa publicação em específico, soma-se a própria qualidade do livro, longe de ser algo amador como na maioria das publicações "do Clube". É uma obra de grande qualidade, dessas que enfatizam nossa necessidade de estarmo sempre abertos a novas leituras;

2 - Alfini Jr. faz um interessante jogo com o título de sua aplicação ao utilizar a expressão crônicas, já que as narrativas que integram a coletânea tratam-se de belos exemplares de contos que passeiam por diferentes aspectos do gênero, especialmente o suspense e o horror, mas também com um ótimo exemplar de western, caso do conto que fecha o livro, (no total são oito contos) "A redenção de John Douglas" em que o autor constrói novos e consistentes personagens junto a tradicionais figuras do velho oeste americano;

3 - Há de sobretudo destacar-se que Douglas Alfini Jr. não apenas conhece, mas desempenha com virtudes a arte de construir e estruturar narrativas. Ainda que elas passeiem por temáticas aproximadas, é possível percebermos desde o princípio os jogos narrativos estabelecidos pelo autor e como ele procura em cada conto narrar cada um deles de um modo específico e próprio reforçando certa versatilidade do autor nesse sentido. Ademais, salienta-se, que geralmente incomum em obras autopublicadas, o trabalho do autor chama atenção pela a qualidade em qualquer sentido que se olhe, como, por exemplo, a excelente qualidade textual da obra, que de modo algum fica para trás de qualquer obra lançada por grandes casas editorias;

4 - E não é que o autor reinvente qualquer coisa o mesmo promova uma novidade, pelo contrário, a qualidade da obra está justamente no mergulho do clássico, em contar e narrar o horror de tal forma que embora possamos já ter visto algo semelhante, ele o faz com tamanha qualidade que dá vigor a novas-velhas histórias. É a narração do autor que sustenta sua literatura, mesmo que trate de elementos já tratados. Melhor exemplo disso é o conto que abre a coletânea "a última sopa" em que temos uma contagem regressiva contra o tempo em que a morte, a morte já tão surrada, é abordada pelo autor, tal como o tempo. Mesmo os personagens, mesmo que único, reverberam personagens que já passaram por semelhante situação. Isso sem certa dose de previsibilidade ao desfecho, e ainda assim, o encanto, a magia e a forma como a narração do conto capta o leitor dão fôlego e forças inesperadas ao conto. É um excelente conto cujas imagens parecem saltar diante dos leitores;

5 - Outro conto que reforça tais percepções é "presságio cigano" que parte da mitologia envolvendo esse povo e os possíveis azares de quem tem por eles atravessado co caminho. Não é nada novo, claro, mas da forma como o autor conta a estória o faz de tal forma que a narrativa se sustenta por si de modo que a estória ganha, portanto, sua própria vida em meio aos rancores que os homens estabelecem entre si;

6 - Falando em lembranças aos clássicos, poderíamos citar o conto "Entre suas entranhas" cujas camadas e acontecimentos são verdadeiramente dignos ao gênero estabelecido e renomado a partir de Edgar Allan Poe. Esse talvez seja um dos mais próximos aos clássicos do horror se pensarmos tanto em sus nós quanto no desfecho impactante ao final do conto;

7 - Alguns contos são mais subjetivos e carregados de implícitos, caso de "O jardim das geladeiras", narrativa carregada de não-ditos e com uma imagem carregada a la Tim Burton e que retrata das maldades inerentes à espécie humana e as tentativas de fuga a um tempo sem tempo em que a monstruosidade não nos alcance. Falando desse conto, poderíamos ressaltar uma característica que pode ser elevada aos demais: a força visual. As narrativas evocam e promovem imagens em nossa mente no decorrer da leitura, nos tornamos co-autores dos cenários, dos personagens. Em grande parte, os contos dos livros provocam essa espécie de "efeito cinematográfico" durante a leitura;

8 - Dentre os contos do livro, talvez os que menos tenham despertado nossas impressões e efeitos sejam "Mamute" e "A efêmera aparência do medo", o que não significa perda de qualidade, mas sim o fato de que talvez os outros tenham conseguido maior efeito sobre os leitores;

9 - Vale destacar ainda o conto "O antropófago" que inicia como narrativa policial que na verdade é o princípio de uma narrativa fantástica e de horror que vai ao âmago de questões importantes no processo da constituição da literatura brasileira jogando com os mistérios insondáveis da selva e com certo primitivismo que paira sobre esta nação. Nesse conto também a força das imagens e personagens de potência e fôlego que talvez só a narrativa curta de um conto permitam;

10 - Enfim, Crônicas do invisível mais do que uma grata surpresa foi uma experiência de leitura das mais interessantes que acima de tudo ressaltam a beleza de uma bela narração e a potência de um gênero capaz de ainda nos entregar estórias fantásticas e assombrosas, por isso, apaixonada e capaz de seduzir aos fãs do gênero. Quem gosta de boas estórias de horror e suspense não pode deixar de conhecer este trabalho.

:: + no Clube de Autores ::

 


2 Comentários

  1. O único aspecto negativo é que o autor é colaborador de uma página olavista (cultura de fato). kkkk

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    1. Em termos de literatura precisamos distinguir as coisas, autor e obra. Aqui tratamos da obra dele. A polêmica quanto a Vargas Llosa é um exemplo dessa problemática.

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