Lá e de volta outra vez ou uma resenha em 10 considerações sobre O hobbit, de J. R. R. Tolkien

O Blog Listas Literárias leu O Hobbit ou Lá e de Volta Outra Vez, de J. R. R. Tolkien publicado pela HarperCollins Brasil (2019); neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Presente de um dos amigos secretos de final de ano, O Hobbit foi meu retorno à Terra-Média, dessa vez pela nova edição da HarperCollins Brasil que está bem bonita (tinha lido o livro anteriormente em versões Pirates Bay); e retornar à Terra-Média é sempre uma jornada fantástica - e grande pedida de férias - numa leitura que transpira aventura que a despeito de todo um gênero que veio depois influenciada pela obra, poucos conseguem captar; Ler O Hobbit é sempre uma experiência mágica;

2 - E, obviamente, falar de uma obra assim, tão presente no imaginário, seja pela literatura ou pelos filmes que vieram depois traz sempre aquele velho desafio de não chover no molhado; mas vamos lá; a essa altura vocês bem sabem que O Hobbit é em termos de publicação a abertura a todo o reino fantástico criado e pensado por Tolkien; Nele temos uma espécie de prelúdio ao ainda mais icônico O Senhor dos anéis e narra a fantástica jornada do pequeno hobbit junto à Thorin & Cia atravessando os cantos mais perigosos da Terra-Média na tentativa de reconquistar a velha glória e principalmente o tesouro dos anãos tomados pela gigantesca fera, o dragão Smaug;

3 - Pensando em O Hobbit como prelúdio de O senhor dos anéis temos não apenas a introdução a certos aspectos da Terra-Média como a apresentação de personagens importantes para a trilogia, especialmente Gandalf e, claro, Bilbo Bolseiro. Mais relevante que isso, porém, temos a colocação do anel, do precioso em jogo e que centralizará toda a trama futura; mas, eis que aqui falamos de O Hobbit, e voltemos a ele. A descoberta do anel será mais uma das tantas feitas pelo Bolseiro no decorrer de sua jornada em que passa de personagem desacreditado e figura de grande honraria e amigo dos povos. Aliás, um detalhe interessante é que a despeito do Sr. Bolseiro já possuir certa idade, não deixa a narrativa de carregar elementos bem fortes de romance de formação, já que o hobbit que parte para lá não e mais o mesmo que retorna outra vez;

4 - Nesse sentido vale destacar que parte da força e do encanto do livro está justamente em seus personagens. Há uma construção identitária para cada um e todos eles com maior ou menor profundidade, mesmo numa estória infantil, carregam talvez aquela espécie de aura ou encanto da qual Walter Benjamin passou a ressentir certa ausência no pós-guerra da 1º Grande Guerra, a transmissão de conhecimento de sabedoria e ensinamentos pelo poder da narração. Temos isso muito presente em o hobbit e talvez a maestria presente nessa transferência de conhecimento e sabedoria pelo narrar encontre ponto interessante no fato de sabermos que o livro nasce das aventuras que Tolkien contava para seus filhos;

5 - E aqui algo que em minha releitura parece ter ficado ainda mais evidente, um dos principais méritos do livro está justamente na técnica narrativa, na escolha do narrador e no espírito de menos narração e mais contação de estória que impregna toda a narrativa de O hobbit; O narrador que está mais para contador de estórias - e com justa razão - é o próprio Tolkien se observarmos o fronispício "que é o registro de viagem feita por Bilbo Bolseiro da Vila dos Hobbits. Compilado de suas memórias por J. R. R. Tolkien"; 



6 - Ocorre que essa narração consegue o efeito de simular um reunião entre narratário e o narrador em primeira pessoa que de modo geral às vezes lembra uma terceira. Há diferentes movimentos do narrador ao leitor - narratário e também ao futuro que o colocam nessa condição privilegiada de contador de uma história de modo que muitas vezes parece construir intimidade não apenas com a estória, mas com o próprio leitor, o que, em última instância aumenta nossa imersão no fantástico universo criado por Tolkien;

7 - Sim, os cenários a despeito do fantástico que os impregnam, graças a essa habilidade do contador de estórias, tornam-se muito mais vivos e dinâmicos; também aventurescos e assustadores como determinados momentos e passagens da narrativa que consegue trabalhar com efeito aqueles espaços que ainda nos tiram o ar, como as profundidades cavernosas, as florestas densas e sombrias... na contação de Tolkien a despeito de alguns críticos, essa constituição do espaço também joga com o todo e a imersão que promove durante a leitura;

8 - Então se para Walter Benjamim o narrador apresentava alguma crise, desconfio, Tolkien reabilita-o com grande força numa literatura que, combinemos, encanta qualquer idade. isso porque há também graças a seu aspecto formativo a presença de certa moralidade, não no sentido pejorativo que por vezes se assume a palavra, mas naquela moral que constitui nossa ética pessoal. É uma narrativa de ensinamentos independentemente da idade que tenhamos e além disso, não se pode dizer que não ocorrem infortúnios insolúveis e perdas trágicas como veremos após A Batalha dos Cinco Exércitos;

9 - Sem falar da habilidade do narrador em brincar, mas além disso, de em muitos momentos elogiar o leitor (o narratário/locutário). É estratégia das mais sutis mas que certamente causa seu efeito. Além disso, as palavras não precisam ser vencidas na leitura, já que o texto flui como a correnteza de um rio de modo que a harmonia de todos os elementos tornam palpáveis personagens, cenários e cenas. E não nos faltam cenas e momentos memoráveis no decorrer da narrativa que deixam forte impressão no leitor;

10 - Enfim, ler o Hobbit é sempre uma jornada inesquecível por uma magia e encantamento que apenas os grandes e bons autores são capazes de nos ofertar. Mais que um narrador, em O hobbit temos um habilidoso contador de estórias que nos faz crer estarmos sob frondoso carvalho ouvindo os feitos de um pequeno hobbit, o sr. Bolseiro. Somos transportados à Terra-Média e ninguém convence-nos de que lá não estivemos e voltaremos outras vezes.

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