10 Considerações sobre Uma Mulher no Escuro, de Raphael Montes ou sobre vítimas

O Blog Listas Literárias leu Uma Mulher no Escuro, de Raphael Montes publicado pela editora Companhia das Letras; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Diferentemente de outras obras de grande relevância em sua carreira como Dias Perfeitos e Jantar Secreto, que embora não raro colocadas entre os romances policiais, tinham suas peculiaridades quanto ao gênero, este Uma Mulher no Escuro parece-nos aquele que melhor se encaixa no formato canônico do romance policial, lembrando que esta era uma das características da narrativa policial, enquadrar-se no gênero. É o que faz Raphael Montes aqui, uma obra típica das narrativas policiais e com todas as demandas dos thrillers que tanto atraem leitores em massa;

2 - Na verdade Uma Mulher no Escuro parece conter um pouco de muitas peças referenciais do gênero em tempos recentes. Numa estrutura que lembra-nos uma Lisa Gardner com a profundidade psicológica dos personagens das narrativas de Mary Kubica, isso tudo numa trama que nos remete aos brutais romances policiais nórdicos como Stieg Larsson ou mais recentemente Erik Axl Sun somados à voracidade e ritmo dos romances de Harlan Cobende modo que temos uma narrativa, digamos, global, bem como uma ação bastante cinematográfica como o são os thrillers contemporâneos;

3 - Se por um lado tais questões apontam para um livro mais reconhecível dentro do seu gênero e semelhante a muita coisa que temos vistos em termos de narrativas policiais, por outro lado, o romance afasta-se das obras anteriores de Raphael Montes, um tanto peculiares quanto aos ditames da narrativa policial e de suspense, o que, não deixava de ser um elemento importante, pois que temos visto em termos de narrativas nacionais diversas tentativas e formas de subversão dos elementos do gênero policial, o que nos dá em algum nível uma identidade bastante própria visto que muitos livros policiais brasileiros buscam justamente romper as fronteiras bem delimitadas deste gênero;

4 - Além disso, talvez seja dos livros aqui citados de Raphael Montes o que curiosamente pareça-nos o mais comprometido com o ritmo do que com as camadas psicológicas dos personagens, ainda que estes possuam suas distintas superfícies neste aspecto, especialmente a protagonista envolta por uma série de episódios traumáticos. O ritmo aqui comanda todas as ações e enquadra-se em tudo aquilo que tem considerado o gênero como leitura de consumo voraz, isso tudo marcado por pistas e despistes que colocam os leitores, especialmente na parte final, numa montanha russa de voltas e reviravoltas;

5 - Entretanto, vale dizer que mesmo jogando com o leitor numa espécie de morde e assopra por meio de pistas falsas e pequenas distrações, no geral, especialmente entre os leitores habituados ao mistério, as alternativas reveladas nos derradeiros capítulos não são de todo uma surpresa, pois que, pelo menos desde a metade da narrativa já podemos ter meio que claro todas as cartas a serem reveladas;

6 - Isso, claro, pode ser um elemento de bastante discussão entre leitores, e não diz-se aqui que a trama é previsível, na verdade ela é tão misteriosa quanto muitas das narrativas e autores aqui citados, mas que a um leitor contumaz de literatura policial, as possibilidades parecem bem definidas, embora o romance não entregue o jogo até o final, mesmo que nos apontando corretamente para as principais suspeições;

7 - Aliás, os mecanismos visuais e estruturais que colocam a narrativa dentro do gênero e como obra a ser adaptada acabam ficando bem aparentes com os mecanismos usados nesse sentido, como as falsas revelações, a gradação do clímax e mesmo a presença do romance amoroso, tudo agindo para por de certo modo a obra dentro de uma caixa bastante popular, é bem verdade, mas um tanto diferente das publicações anteriores do autores;

8 - Mas de longe tais considerações vão no sentido negativo, apenas apontam para sua vocação para o atendimento das massas e o seu caráter menos subversivo se comparada às publicações anteriores do autor, mas que enquanto narrativa policial pura e simples é bom exemplo de obra no gênero justamente por enquadrar-se no molde e usando os elementos deste com grande habilidade, pois é obra que nos garante entretenimento de qualidade;

9 - Assim, o livro com seu ritmo alucinante iniciada a leitura e com sua violência crua como o cinema de Tarantino, somos tragados a personagens misteriosos envoltos por traumas passados e presentes e que acima de tudo, mais do que levar o horror repetidamente à sua protagonista, mostram que a perversidade, a maldade, bem como impulsos e doenças psicológicas estão por toda a parte a produzir um horror bastante real e que pode voltar a qualquer momento;

10 - Enfim, enquanto literatura policial no sentido exato da palavra, Uma Mulher no Escuro reúne as principais características do gênero numa narrativa de tessitura hábil capaz de atirar seus leitores numa gangorra de sensações e sempre mantendo a adrenalina em alta. 


   

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