7 Razões porque Bolsonaro é um antagonista dos romances de Philip K. Dick

Ah, já falamos aqui dos "poderes" da literatura, de sua capacidade de nos auxiliar a leitura e interpretação do mundo. Nesse sentido, talvez não tenha autor a melhor dizer do nosso presente que o mestre da ficção científica, Philip K. Dick que nos legou obras e personagens icônicos. No caso do Brasil, a obra de PKD, especialmente seus antagonistas são talvez quem melhor representem a figura de Bolsonaro. Veja 7 razões pelas quais comparamos os antagonistas de das obras de PKD com Jair Bolsonaro:

1 - Saúde como estratégia de poder: Aos que leram Espere Agora Pelo Ano Passado bem sabem o quanto podemos aproximar Bolsonaro de Gino Molinari um dos antagonistas do romance. Não só pelos ideais fascistas de suas políticas, mas pelo uso estratégico da saúde, no caso da fragilidade dela. Como Molinari, Bolsonaro tem usado seus problemas de saúde para fins políticos;

2 - Perdidos no Tempo: Talvez nada sintetize mais o bolsonarismo do que a "existência" em tempos diferentes do tempo real. PKD às vezes nos levava ao futuro, mas também ao passado. O bolsonarismo, todavia leva-nos (leva-nos não, que o vão os insensatos) à décadas, séculos atrás por meio da crença irreal nos retrocessos sociais. Seus adeptos pensam viver num tempo que já foi há muito, muito tempo, e isso acarreta nos tantos ruídos que vimos por aí;

3 - Realidades manipuladas: Nas obras de PKD a realidade não raro é um artefato manipulável pelo poder. Em O Tempo Desconjuntado, por exemplo, a manipulação da realidade é levada ao extremo, algo que nessas eras de Bolsonaro e Trump temos acompanhado algumas e insistentes tentativas de se manipular a realidade ao discurso político e do poder;

4 - Universos alternativos: E nem comecem com "mimimi" de "estão perseguindo meu mito", "o PT roubou mais". Nessa hora é preciso lembrar o que vocês mesmo sabem, "o PT se ferrou babacas" e o vidro agora esta aí. Além disso, é no bolsonarismo e incentivado pelo próprio que insanidades como "o nazismo era de esquerda" ou "a terra é plana" germinam com a força da ignorância. Isso faz-nos lembrar que Bolsonaro bem poderia ser uma das personagens de O Homem do Castelo Alto e a versão alternativa com a vitória nazista;

5 - Poder autoritário e vigilante: O Poder e o Estado nas obras de Dick surgem um tanto autoritários como vigilantes, assim como o próprio presidente que autoriza espionagem naqueles que podem querer falar mal de seus desmandos. Vide a recente vigilância aos bispos. Nos romances de PKD assim como nosso presidente, o antagonismo é opressor e bélico, sempre em busca de algum inimigo contra quem lutar, exista ele ou não;


6 - Fake News: Bem, sabemos que esse mal é bastante ambidestro, mas não podemos negar o quanto a disseminação de notícias falsa é sistemática e coordenada nos campos de batalha do bolsonarismo, especialmente nas redes virtuais. Mais uma vez podemos retomar aqui O Tempo Desconjuntado em que uma intensa rede de notícias e mentiras era mantida pelo poder. PKD talvez mais do que qualquer outro autor tenha se debruçado sobre a relação da produção de mentiras e o poder político;

7 - Produção da paranoia: Seria ingênuo e errôneo pensarmos em Bolsonaro como uma paranoico, embora o jogo de cena contra seus moinhos com a esfinge de Marx, o piroquinhas na mamadeira. A bem da verdade o bolsonarismo como muito dos antagonismos de PKD não está envolvido por uma atmosfera paranoica como pode-se pensar em interpretações apressadas. Pelo contrário, esse antagonismo geralmente produz e espalha a paranoia e a conspiração encontrando nela ótima ferramenta de manipulação e controle das massas, pois que toda paranoia demanda um componente indispensável, o medo, e nada mais eficaz na desestabilização social que o agente medo.   

7 Comentários

  1. Acompanho o blog a vários anos e lamento por atualmente ter se tornado um local de viés político. Penso que nós como leitores devemos sim debater a política e os erros dos governos, mas, temos que ser coerentes. A partir do momento que o blog muda sua linha editorial para falar em posts repetidos sobre o atual governo quando eu não me recordo de ter visto posts sobre os governos anteriores acaba passando a impressão de que o autor está agindo com parcialidade.

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    1. Rafael, este blog sempre será parcial contra ideais autoritários, e o é desde o seu princípio. Neste sentido não temos nenhuma mudança editorial, pois desde sempre estamos do lado das discussões intelectuais, do conhecimento, dos livros e da própria literatura, de modo que se o presente governo insiste sempre em colocar-se contra aquilos que defendemos, nos manifestaremos sempre...

      Creio que nesse caso, talvez fosse-lhe mais produtivo redarguir, contrapor os argumentos aqui expostos. Um bom leitor, e imagino que o sejas, bem saberá o quão alinhado é o atual governo com as práticas e conceitos vistos nos antagonismos distópicos.

      Além disso, não faz sentido cobrar-nos posts sobre governos anteriores (embora os tenha no blog). Apenas moscas e cabeças-vazias são destituídas de conteúdo, de posicionamento, e nisso não nos caberia questionar governos passados se estes tinham um programa diferente para a cultura, para a educação e para a literatura que não ia contra os pensamentos progressistas e libertários deste canal. Todavia, as oposições que o coubessem que o fizessem como fizeram, numa democracia este é o jogo. Complicado é vires queixar-se de que falam mal ou atacam este governo. Apenas neófitos, que não deve ser seu caso, se atiram de tal modo a defesas acríticas. Diga-nos, não se pode falar mal desse governo, por quê? Amigo, desde Collor, pode ter certeza de que não houveram governos que parte das oposições os criticassem desde o início. Essa adesão forçada dá-se apenas em regimes autoritários ou totalitários, mas acho que não sejas isso que defendas!

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  2. Douglas, todo governo seja de esquerda ou de direita vai ter paltas /
    ideais liberais e autoritários, a literatura e a história estão cheias de exemplos para
    os dois lados.

    Justamente por ter lido várias distopias é que sei que assim como o
    governo atual defende certos pontos de tais narrativas outros
    governos já o fizeram e no futuro farão.

    Não disse que não os havia, disse apenas que não me recordava dos
    mesmos. Acredite, não tenho políticos ou partidos de estimação, e
    acredito e defendo que todo governo deva ser criticado naquilo em que
    deva ser criticado, agora, acredito também que nenhum governo consiga
    acabar com as mazelas do nosso país com menos de 2 meses.

    Mazelas pelas quais nós como eleitores temos grande responsabilidade já
    que felizmente vivemos em uma democracia e elegemos nossos
    representantes.

    Penso que a frase que resume a sua resposta seja "não nos caberia questionar governos passados se estes tinham um programa diferente para a cultura, para a educação e para a literatura que não ia contra os pensamentos progressistas e libertários
    deste canal." Acredito que um dos motivos para não irmos para frente é o
    fato de olharmos apenas para o nosso círculo de interesses.

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    1. Acho que você continua não entendendo, Rafa.

      Entre um projeto cheio de problemas e sérios problemas a serem criticados, como o foram, entretanto com uma política social inclusiva e progressista e um projeto excludente, de tons fascistas, de caráter autoritário, e tão corrupto quanto os anteriores, temos posição clara. Vejamos que estamos ás voltas de ver destruídas todas as ferramentas de segurança social, aposentadoria em risco, direitos básicos como décimo terceiro e férias na guilhotina, sem falar na postura de censura adotada pelo novo governo.

      O que temos visto aqui é que na ponta dos radicalismos, as pessoas acabam relativizando o que não se deveria relativizar, como os procedimentos autoritários e totalitários, pois a este blogueiro pouco importa se o autoritarismo seja de direita ou esquerda, nos posicionaremos sempre contra, especialmente contra aqueles que atentam contra as liberdades individuais, especialmente a de expressão. Não podemos pactuar com as mentiras sobre a educação, sobre os ataques a professores sustentados por informações falsas... se ter uma posição dessas é ir de encontro a círculo de interesses que o seja... embora creia que você não tenha entendido a colocação ou tratado-a de forma que coubesse na interpretação...

      A nós, não se pode abraçar Hitler, para atacar Stálin, ou vice-versa. Não se pode apontar o dedo para Duderte, Putin e deixar maduro de lado... repudiamos a todos..

      Deixo links de posts que talvez te interessem aqui no blog:
      http://www.listasliterarias.com/2012/10/10-provaveis-acontecimentos-se-guerra.html
      http://www.listasliterarias.com/2018/03/10-grandes-confrontos-urbanos-da.html
      http://www.listasliterarias.com/2017/11/7-distopias-e-o-alerta-para-o-perigo-de.html

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  3. Sou da turma do TUDO, MENOS O PT. Bolsonaro foi eleito por ser a única alternativa. Essa conversa já cansou...

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    1. Entendo essa colocação, o grande problema é que esse raciocínio nos lega hoje menos democracia, menos transparência, menos direitos - vide PEC previdência, menos transparência - , menos liberdade, menos equilíbrio e sanidade administrativa, menos respeito e tolerância, inclusive menos presidente, pois que ele já não administra mais nada...

      por outro lado temos o mais do mesmo ou mais, como as estranhas relações das milícias com o poder (lembrando que milícia é tanto crime quanto a corrupção); mais pacto do supremo com tudo esvaziando investigações, mais um laranjal interminável, mais incompetentes na política vide a maioria dos novos eleitos para o congresso, temos mais insegurança, mais acobertamento da corrupção como a mudança de Moro e sua opinião sobre caixa 2,

      parabéns para você, fez certinho!

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    2. Ou seja, pode até passar a mão na minha bunda desde que o "malvadão" do PT perca. Raciocínio típico de um bolsominion, sem nexo e desprovido de inteligência.

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