10 Considerações sobre 172 Horas na Lua, de Johan Harstad ou porque vocês não devem ir à lua

O Blog Listas Literárias leu e avaliou 172 Horas na Lua, de Johan Harstad publicado pela editora Novo Conceito; neste post as 10 considerações do Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Se vocês abstraírem as fragilidades e os defeitos de 172 Horas Na Lua, este será um livro que lhe proporcionará algumas horas de aventura e suspense em que a adrenalina do leitor estará sempre a pique máximo. No entanto, isso não consegue mascarar algumas coisas nas quais me deterei nos próximos itens;

2 - Vamos começar pelos problemas de verossimilhança, e aqui falo tanto verossimilhança interna quanto externa da obra. Tendo como partida de argumento a realização de uma nova expedição à lua e a revelação de existir por lá bases da Nasa, e, ainda a realização de um concurso mundial escolhendo três jovens para participar desta empreitada de forma a popularizar a marca da Nasa tanto quanto a da Coca-Cola tal proposta se torna um tanto descontextualizada, primeiro porque a Nasa já é tão famosa quanto a marca de refrigerantes, e, segundo, porque os projetos atuais já nos apontam para muito mais além da lua, e tanto é que os projetos existentes miram absolutamente em Marte, inclusive com a proposta de se levar civis para colonizar o planeta vermelho. Portanto, numa obra que nos parece num primeiro momento com ficção científica se fragiliza no passo que esta defasada do contexto real. Além disso, as cenas do livro com o avançar da leitura se mostram cada vez mais inverossímeis, em grande parte impossíveis de se realizar mesmo;

3 - E outro problema talvez esteja na gênese do livro, que é justamente sobre que tipo de romance nos temos em mãos. Acontece que a expectativa é por uma provável ficção científica, embora passada num futuro bem próximo, em 2018. No entanto, o leitor perceberá que estamos na verdade de uma obra que pende muito mais para o suspense e o horror sobrenatural do que propriamente uma ficção científica, o que se torna um problema para quem aguarda uma leitura deste tipo, mas que no entanto, não deixa de construir talvez a principal virtude da obra, que como suspense, segura as pontas da narrativa;

4 - É que o livro consegue de fato estabelecer no leitor aquela sensação de medo, inclusive tornando-o reticente em apagar as luzes à noite. Como suspense a obra sobe o tensionamento numa escala gradativa e crescente através de insinuações arrepiantes que quando da revelação, o leitor mais sensível certamente já estaria "cagado de medo". Ou seja, independente de suas fragilidades, o fluxo narrativo de 172 Horas na Lua consegue pregar bons sustos no leitor, principalmente pelas escaladas do suspense e pelas cenas de revelação do tal horror;

5 - E essa mescla entre ficção científica não me parece aleatória, pois será difícil muitos dos leitores não realizarem certa ligação com o seriado Lost, o qual parece ter certa influência neste trabalho, ou no mínimo este livro consegue reunir similaridades que nos faça imaginar isto, começando pelo fato das estranhas mensagens enviadas aos três jovens tripulantes como forma de desestimular a ida à lua. Uma das cenas em que cai um avião é extremamente visual numa descrição que merece elogios, num dos momentos altos do livro. O avião neste caso é quase como a estranheza de um urso polar numa ilha tropical. No entanto, as semelhanças não param por aí, e assim como em Lost temos a Dharma e códigos, em 172 Horas temos a Darlah (cuja sonoridade nos relembra a outra) e também um código tão misterioso quanto os números de loteria de Lost. Além disso, a forma como o autor vai engendrando o suspense e o inimigo antagonista tem bastante semelhança da forma como Ethan é posto entre os sobreviventes, e assim como na série, no livro essa estratégia também é bastante impactante. Mas além de Lost, é possível perceber mais referências a obras de horror ou ficção científica, ou obras cujos fronteiras são mínimas, como no caso de Alien, o Oitavo Passageiro que também parece ter deixado suas heranças nessa obra;

6 - Quanto ao código presente no livro que possui bastante relevância para a trama, este é inspirado numa situação em que o autor usou de um acontecimento real para expandir sua visão e sua ficção sobre o assunto. No livro o autor estabelece uma possibilidade infernal para um sinal captado por astrônomos, e é justamente ao revelar tal acontecimento é que o livro tem seu momento mais sóbrio na voz do astronauta Coleman didaticamente falando sobre tal código;

7 - Portanto, o livro não deixa de ser contraditório, pois se por um lado possui tantas fragilidades que até mesmo o mais permissivo dos leitores ficaria incomodado, por outro, reúne elementos, muito graças à sua ambientação, que nos faz levar a leitura adiante e não desperdiçando-o de um todo;

8 - E dentro destes fatores que nos seguram até o final da obra estão a narrativa fluida, o interesse com que o autor consegue fisgar o leitor para a página seguinte, e porque não a sobrenaturalidade do desfecho final em que o autor apresenta uma solução que escapa da ficção científica mas que ao mergulhar na sobrenaturalidade nos apresenta um fenômeno consistente e tenebroso que torna válida toda a leitura;

9 - Ou seja, este é um livro para se ler de formas distintas, e retirando-se a superficialidade das personagens e o caráter ao melhor estilo dos "filmes B" a ação, ainda que inverossímil, e o suspense nos garantem umas duas ou três horas de sustos e arrepios, o que não deixa de ser interessante;

10 - Enfim, já falei um bocado do livro, e simplificar dizendo gostei ou não gostei não é um caminho. 172 Horas tem uma série de elementos a ser observados pelo leitor, alguns ruins, outros bons, mas que no computo geral, não se atrapalhar o prazer da leitura. É uma obra certamente carregada de influências, mas mantendo uma originalidade até mesmo arriscada. Pra quem é curioso e antenado em cultura pop pode ser uma leitura interessante. É com vocês.



  

3 Comentários

  1. Eu gostei bastante do livro, principalmente nos desfecho final. Porém ainda estou tentando entender como Mia voltou como uma duplicata.

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    1. Eu gostei de muita coisa no livro, porém achei que o final cagou tudo. Queria muito ver a Mia voltando (ela mesmo), lendo a carta que o Sander escreveu para ela, e no fim revelando ao mundo tudo o que aconteceu. Isso abriria, inclusive, possibilidade para mais histórias - interessantes - sobre o tema.

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    2. Acho que é válida uma continuação mesmo com a duplicata na terra. Essa continuação podia contar como o doppelgänger se multiplicava e como diabos a terra conseguiu mandar outra tripulação pra lua, sendo que as duplicatas na terra seriam o "fim" dela, de acordo com o Coleman.

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