10 Considerações Sobre O Fio da Vida, ou porque “mesmo rio, nova água”

O Blog Listas Literárias leu O Fio da Vida, de Kate Atkinson, publicado pela Globo Livros, e neste post publica suas 10 considerações sobre o livro:

1 – O Fio da Vida é uma trama intrincada e tecida com grande habilidade por Kate Atkinson que brinca e provoca falando de sensações humanas como a sonhada possibilidade em corrigir nossos erros em “novas” oportunidades num ciclo infinito de vida e morte; 

 2 – É o que ocorre com Ursula, uma das personagens mais bem elaborada e complexa da literatura, cujas “vidas” vão se desenrolando numa infinidade de teias que se bifurcam numa série de possibilidades que nos apresentam destinos que podem ser abreviados ou alongados de acordo com “pequenas” ou grandes decisões que tomamos no dia-a-dia; 

 3 – A cada “nova morte” da personagem o leitor é levado a uma destas prováveis existências, mas que, no entanto, não excluem nenhuma das existências, visto que Ursula parece construir-se justamente com a soma de todas as suas vidas, ainda que como dito pela própria personagem “o rio pode ser o mesmo, mas as águas são novas”. 

 4 – E a ambientação da trama no tempo perpassando pelas duas grandes guerras mundiais engrandece o livro colocando diante do leitor toda a opressão e tensão de um cenário em que bombas caem do céu e que as pessoas se entregam aos piores de seus instintos; 

 5 – Além disso, há no livro uma intensão reflexão filosófica sobre a vida e a morte, que vão desde as crenças mais cristãs ao budismo. Nestas reflexões Ursula é uma passageira do tempo, (do mesmo tempo) que entre um Dejá Vu e outros começa a compreender o círculo vicioso no qual está mergulhada; 
















6 – O interessante é que Kate Atkinson revela grande inteligência narrativa já que quanto mais Ursula esta imersa em suas diferentes vivências, o próprio leitor começará a defrontar-se com Dejá Vus na leitura através de passagens com sutilezas mudanças que levam a destinos bem diferentes, que faz do livro um jogo constante; 

 7 – Retomando a questão da guerra, o livro ainda aproveita para jogar com uma pergunta que tornou-se universal que é “e se pudéssemos fazer com que Hitler não chegasse ao ponto de tornar-se o homem poderoso que foi?” O Fio da Vida não responde a isso, mas ainda assim joga com essa possibilidade; 

 8 – Portanto O Fio da Vida com todas essas discussões e reflexões é uma leitura vigorosa e competente que o põe certamente no mesmo campo em que estão as obras tidas como “alta literatura”. É um livro para leitores exigentes que buscam pelo melhor que a literatura pode oferecer; 

9 – Sem falar que o próprio leitor irá dedicar-se à reflexão do tema proposto e para além da leitura inspirado Em Ursula poderá imaginar-se em situação semelhante, cruzando por um mesmo rio, e descobrindo novas águas. Isso é algo que há muito intriga a humanidade, desde filósofos mais antigos a autores mais recentes como Jorge Luis Borges, no fim todos nós desconfiamos estar aprisionados a ciclos infinitos de diversas possibilidades. Será? 

10 – Enfim, O Fio da Vida, é uma leitura inteligente e amarrada com perspicácia diante tão complexa narrativa que certamente exigiu grande habilidade da autora para construir uma história impactante e provocante capaz de interagir de diferentes formas com seus leitores. É uma escrita virtuosa que somente os grandes escritores são capazes de imaginar.



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