Duas coisas que os leitores do blog gostam é dicas de endereços para conseguir boas informações, e também dicas de escrita. Por isso juntei as duas coisas no post de hoje, compartilhando as 10 dicas de escrita de João Barreiros, escritor português licenciado em filosofia e professor do ensino Secundário, é tradutor, autor e (até já foi) editor de ficção científica. As dicas foram publicadas pele excepcional Revista Bang!, gratuita e digital produzida pela editora da Terra Mãe, Saída de Emergência, com o catálogo voltado para a literatura fantástica:
* Ah, vale o aviso que não fiz a tradução do português, para o português!
1 – Antes de começar a escrever uma só linha que seja,leiam pelo menos vinte mil livros do gênero. Isto para
ganhar “calo”.
2 – Isolem-se. No interior de uma montanha, no mais profundo dos oceanos, no recato solitário do vosso
scriptorium, sem familiares, criancinhas ou animais de estimação por perto.
3 – Não se ponham a ouvir música, ou o gorgolejar do
puto, ou as vacuidades da sogra. Silêncio absoluto.
4 – Esqueçam o acesso à Net. Balzac não o tinha. Tolstói
não sabia o que isso era. Se tiverem dúvidas quanto à
investigação, ponham isso entre parênteses, teclem dúvida,
e esperem até chegar ao fi m do livro para as resolver.
5 – Não se ponham a comprar livros sobre dirigíveis ou
física quântica, porque não vão ter oportunidade para os
ler. Perde-se tempo e dinheiro a investigar em demasia.
Vão gastar mais dinheiro neles do que aquilo que vão
receber com os direitos de autor.
6 – Perante o horror de uma página em branco, escrevam
nela qualquer coisa para começar. Tipo “O Zezinho era
nhónhó”. Esta edifi cante frase poderá ser utilizada como
alavanca inspiradora.
7 – Preenchida a primeira página, apaguem a frase acima
citada, pois deixou de ser necessária. Não se esqueçam de
a retirar. Os revisores de provas não querem saber disso,
e ela, para vossa vergonha, irá aparecer escarrapachada no
início da vossa obra-prima. É certo e sabido.
8 – As Musas são vampiras cruéis. Mas vocês não podem
viver sem elas. Invoquem-nas. Façam sacrifícios de sangue.
Ofereçam-lhes a Tia Alzira, que não está a fazer nada neste
mundo. Juro que funciona. E depois fi quem à espera que
alguém se debruce sobre os vossos ombros. Alguém que
aceitou as oferendas.
9 – Deixem que os sonhos vos conduzam. Um impasse
narrativo é geralmente solucionado depois de uma noite
bem sonhada.
10 – Não avancem mais do que a vossa inspiração. Quatro
páginas por dia, todos os dias à mesma hora. Mexam e
remexam no que já escreveram. Declamem o texto em voz
alta. Bebam litros de café. Mastiguem e remastiguem o que
já fi zeram. Como diria Buzzati, “A eternidade chega, mas
chega devagar”...
Obrigada, Douglas. Adorei as dicas :)
ResponderExcluirEspecialmente interessante aquela sobre escrever qualquer coisa (qualquer coisa mesmo) na página em branco, para começar. Foi o mesmo conselho que recebi do meu orientador, quando estava com dificuldade de começar a escrever uma tese.