10 Considerações sobre Um vento à porta, de Madeleine L'Engle, ou o que é real?

O Blog Listas Literárias leu Um Vento à Porta, de Madeleine L'Engle publicado pela editora Harper Collins; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Segundo livro da série Uma Dobra do Tempo (que eu ainda não li), Um Vento à Porta é um convite à imaginação numa narrativa que mexe com as concepções de espaço e tempo, e que também por isso demandará dos leitores, assim como demandou do Sr. Jenkis, um voo à criatividade e a novos paradigmas;

2 - Publicado originalmente nos anos sessenta, o livro narra então as curiosas e fantásticas aventuras da família Murry, que talvez como principal característica tenha o fato de estar aberta às mais "impossíveis" possibilidades, e, claro, sua proximidade com a ciência e com elementos que às vezes parecem mágicos;

3 - Assim, nesta publicação, seres peculiares e que de certo modo saltam da perspectiva mitológica e religiosa para a ciência, se encontrarão num enredo ligando a vida do jovem Murry, Charles Wallace, sua irmã Meg e seu amigo Calvin numa estranha viagem cujas dimensões e espaços serão totalmente psicodélicas, tal como os chás de Alice;

4 - Aliás, a observação de contexto de escrita da obra, se não completamente visível aos leitores de hoje, nas camadas mais abaixo do texto, porém, perceberemos algumas peculiaridades, inclusive a forma de tratar o hostil ambiente escolar, no qual Charles Wallace adentra como vítima da incompreensão e do bullying, que no livro é um tanto naturalizado pela perspetiva darwiniana de adaptação;

5 -  Além disso, cumpre-se dizer que na obra, embora nem sempre visível no primeiro plano, a narrativa está bem carregada de valores e ideologias que vão sendo reveladas através da ação de seus personagens, algumas demandando, inclusive, maior atenção ou reflexão, entre elas a concepção de guerra que por horas surge na narrativa;

6 - Contudo, se há uma uma série de gatilhos ideológicos (e diga-se, toda obra os têm), a despeito da aparente e constante ação presente numa obra de seres fantástico, em sua gênese, a narrativa é um convite à diplomacia e ao conhecimento e aprendizado. O conhecimento e aprendizado muito presentes no fato de a estrutura a partir de elementos da jornada do/a herói/na trazer momentos se que se vão adiante tão somente após uma descoberta ou aprendizado realizados/cumpridos, e a diplomacia pelo fato do grande auge da narrativa dar-se pelo elemento retórico e pelo discurso do convencimento, deixando de lado, claro a força;

7 - Isso significa que a obra acaba sendo fiel a sua característica de optar pela ciência (ainda que os limites entre mitologia e ciência se encontrem), pois em seu todo a força é substituída pelo poder do argumento, e além de todo o símbolo presente nisto, vale dizer ainda que não perde nada em sua capacidade de ritmo e impacto visual;

8 - Soma-se a tudo isso a provocação recorrente no livro através da pergunta o que é real? Com esse questionamento temos abertas as portas para novas concepções espaciais acerca de nós mesmos e do universo, de modo que mais uma vez tomado pelo olhar da ciência, somos percebidos pela nossa infimidade perante o universo e a galáxia ao mesmo tempo que somos todos nós, seres humanos, gigantescos universos, representados aqui pela problemática das farândolas;

9 - Por tudo isso, o livro e uma viagem em tons alucinógenos que mistura ciência, cultura e mitos numa jornada em que as perspectivas serão infinitas, mas, claro, demandará dos leitores - jovens e adultos - não só imaginação, mas capacidade de jogar-se às improbabilidades numa trama que tem um quê de O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas logicamente antes mesmo desse clássico;

10 - Enfim, Um Vento à Porta é uma leitura divertida e grandemente curiosa, que você pode jogar-se só pela jornada e pela aventura, mas que nós aqui já avisamos, que sob às imagens fantásticas e surreais da aventura ha sumo para muito suco e debates ao que está subjacente a seu texto.


   

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