10 Considerações sobre A Morte Tem Final Feliz, de Márcio Paschoal ou “só o senhor mesmo, Seu Plínio”

O Blog Listas Literárias leu A Morte Tem Final Feliz, de Márcio Paschoal publicado pela editora InVerso; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – A Morte Tem Final Feliz é um romance de pretensões literárias deveras interessante com sua narrativa até certo ponto melancólica e pessimista em que o não acontecimento é a própria existência de seus personagens um bocado reais e não menos certeiros quando a questão é questionar a própria razão das coisas;

2 – Nele, numa “autonarração” em terceira pessoa intercalada com as vozes em primeira pessoa basicamente acompanhamos a fútil e sem sentido existência de Plínio, um pretenso escritor que anda a esmo pela vida e de um ego gigante ao mesmo tempo que suas nuances permite-nos pensar nele como um espertalhão que deliberadamente decide não “representar” os papéis estabelecidos pela sociedade;

3 – É que num primeiro instante podemos vê-lo como um personagem quixotesco embebido por seus próprios sonhos delirantes e megalomaníacos a “sonhar” com coisas distantes enquanto o resto das pessoas (ou quase todas) a sua volta seguem a rotina mundana de existência. Contudo, por mais que haja tudo isso nele, é inegável também que o sujeito vive a seu modo de maneira bastante consciente, e seu devanear dá-se portanto porque lhe permite a vida viver de tal modo, amparado e criticado pela família. De certa forma ele escancara “para que passar trabalho se não preciso” algo que dialoga bem com as recentes discussões a cerca da “geração nem nem”.

4 – Todavia este é tão somente um prisma de leitura, pois a narrativa abre outras janelas interpretativas que geralmente buscam pela “validade e razão” da existência, discussões estas em grande parte construídas a partir de muitas referências culturais e principalmente com a influência que questões filosóficas clássicas buscando discutir à sua forma questionamentos intrínsecos à humanidade;

5 – Por isso esta é uma narrativa que demanda leitores ansiosos por conteúdo mas que não assustem-se com o aparente vagar da narrativa visto que a aparência de natureza sem sentido ou então de apenas enfado é para estrutura algo essencial, visto que a busca por sentido, mas principalmente a demonstração de uma geração enfadonha, quase que desesperançosa em que a felicidade e a alegria são ausências lembradas faz com que a obra permita tirar seus leitores de qualquer zona de conforto;

6 – Nesse sentido vale dizer também com dois outros movimentos que podemos perceber na narrativa contemporânea brasileira. O primeiro deles algo que já está praticamente superado, mas que por se tratar de uma obra de 2015 é compreensível. Temos em sua estrutura esta questão de jogar com os limites entre autoria e narração através da existência de um narrador-autor-protagonista que como para solidificar sua presença ainda permite-se a voz em primeira pessoa ampliando ainda mais nossas informações quanto a Plínio. Aliás, não deixa de ser interessante o desafogo que temos então com as inserções em primeira pessoa com a voz de Eleonora, que nos dá uma pausa de Plínio;

7 – Agora, contudo, o elemento a ser observado é algo que vemos avançar ainda mais em Como Se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas, de Elvira Vigna que é a afirmação pela negativa como se ambos os autores nos jogassem na cara que somos justamente aquilo que não somos. É que temos também em A Morte Tem Final Feliz a presença estrutural e estética do advérbio de negação não, utilizado destacadamente a cada abrir de capítulo em frases negativas que justamente buscam afirmar algo a partir do não;

8 – O que não deixa de exemplificar justamente a existência de Plínio, pois o personagem afirma-se justamento através daquilo que ele não é, em afirmações negativas que inclusive comporão as principais personagens da obra de tal forma que todas são justamente aquilo que não são de tal forma que amplia a complexidade do ser visto que esta construção pelo não dá-nos a negativa, mas aquilo que se é torna-se ainda muito ais amplo e cinzento;

9 – Então, temos a partir disso uma narrativa com vertentes da literatura clássica o que a muitos leitores poderá soar pretensioso ou apenas sem sentido para outros, contudo, é uma obra cuja essência está justamente na profundidade de suas águas e mais do que uma trama a respeito de um candidato a escrito meio megalomaníaco, é uma obra que narra buscas, buscas de pessoas que não conseguiram ainda achar seus próprios mundos, suas existências que o existem apenas pelas negativas, como se a grande busca fosse pelas afirmações;

10 – Enfim, A Morte Tem Final Feliz é uma narrativa promissora e de grande qualidade que reforça a diversidade e a qualidade da literatura nacional de compromisso estético e cultural, além de apresentar traços que chamam bastante atenção numa época em que as negativas parecem dizer muito mais que um “sim'.



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