10 Considerações sobre Até O Fim do Mundo, de Tommy Wallach ou o que você precisa saber sobre vitórias pírricas

O Blog Listas Literárias leu Até O Fim do Mundo, de Tomy Wallach publicado pela editora Verus; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – Pensei diversas formas de começar a falar de Até o Fim do Mundo e a ideia sempre recorrente era a de que o livro consegue te transportar para dentro da trama numa imersão muito interessante em que acompanhamos seus personagens palpáveis e possíveis enquanto nos deparamos com uma trama que de um modo geral não nos é desconhecida, todavia aqui nos surge sob pontos de vistas diferentes do que geralmente encontramos nas obras de entretenimento, seja literatura seja cinema, e o resultado de tudo isso é que não desgrudamos da leitura;

2 – Aparentemente o plano de fundo do livro é o iminente apocalipse terráqueo, no caso desta obra, a ameça fatal de um gigantesco asteroide em rota de colisão com o planeta, no entanto, diferentemente de obras como Impacto Profundo e similares com suas catástrofes naturais, Wallach deixa de lado o ponto geralmente de centralização das obras do gênero, ou seja, os núcleos que correm contra o tempo para salvar nosso planetinha miserável, e conta a história que normalmente não é contada, longe de heróis mas sob o olhar de pessoas comuns que precisam lidar com o fim iminente;

3 – Então, confessadamente e explicitamente permeada pela literatura de Kurt Vonnegut (que por enquanto desconheço), a narrativa focaliza quatro distintos estudantes do ensino médio e outros personagens muito próximos que interligam-se a partir de suas diferenças estabelecendo novos laços ao mesmo passo que avaliam suas ações diante da perspectiva de extinção iminente, colocando todo o mundo e nossas escolhas pequenas do dia a dia em xeque diante de um tema que geralmente fica distante dos jovens: a morte;

4 – Por isso ficamos com a sensação de ser uma obra fruto de fato destes novos tempos de incertezas e escolhas que muitas vezes nos afugentam de nossa humanidade trazendo o perigo às portas da juventude aqui presente na grande metáfora que é o asteroide que leva aos jovens protagonista questionarem quem de fato são, o que querem, e acima de tudo qual seria o sentido de tudo isso? A vida;

5 – Temos, portanto, um olhar dramático de vidas que já carregavam seus próprios dramas, temores e anseios, os quais ficam sob nova ótica a partir do anúncio do provável fim. Porém, tem-se que dizer o livro nos apresenta isso tudo com uma “perigosa” sutileza, já que as coisas ali presentes não nos tocam pelo impacto e pelo choque, mas de uma forma quem sabe mais eficiente, martelando com suavidade a mensagem ali posta;

6 - E o curioso é que mesmo um leitor como este que vos fala, alguém de pouca fé, mesmo uma das principais mensagens do livro tratar dela, a fé, a questão não surge de maneira pedante ou invasiva, pois ali está para compor determinados personagens, além de servir de megafone ao autor que sussurra com muita classe suas concepções na fé, não no sentido estritamente religioso, mas no fato de se precisar acreditar;

7 – Entretanto não podemos negligenciar o desfecho quase que doutrinador e que reflete claramente um conceito e crença popular de que “diante da morte não há ateu”, porém ao deixar questão principal em suspenso Wallach ao meu ver salva-se de colocar uma solução “barata” no seu “fim” e de certa forma faz com que seu leitor escolha entre a fé e a fatalidade para encontrar seu final para o romance;

8 – Além disso, não só pela forma equilibrada como o autor trata os movimentos de seus títeres ficcionais dotando-os de uma presença palpável para os leitores, a parte final em que o leitor até mesmo é pego de surpresa e precisa voltar alguns parágrafos para observar melhor o que ocorreu, acaba dando valor à obra para além do entretenimento, o que aliás, também não falta já que teremos ação e umas boas porradas na narrativa, e, claro, um festão para o fim do mundo o qual chegamos a visualizar aquele cenário de festival;

9 – Mas antes de encerrar, embora quase tudo sejam elogios, há de se mencionar que de início a narrativa e a própria ausência do asteroide quase ao longo do primeiro terço do livro podem dar a sensação de uma trama “mais do mesmo” se passando no universo estudantil americano, porém a crescida é gradual e constante, em determinado momento a narrativa se agiganta e então se terá o cerne do que desejava tratar o autor. Fora isso, e talvez o fato de que a meu ver as coisas tenham se desintegrado mais lentamente do que eu imaginaria, o conjunto geral é de uma obra muito interessante;

10 – Enfim, Até o Fim do Mundo é um livro sobre identidade, sobre formação, sobre juventude, mas também sobre morte e perenidade da vida. É uma obra com indivíduos relativamente complexos e antes e pós asteroide Ardor trata de questões que palpitam na mente de muitas pessoas. Ao fim, é uma obra para reflexões e rica de citações e influências literárias que a compõe e dão forma, mas que acima de tudo é capaz de nos tocar no nos colocar com um sétimo Karass.



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