10 Considerações sobre A Bandeira do Elefante e da Arara, ou por que fugir do Pai-do-Mato

O Blog Listas Literárias leu A Bandeira do Elefante e da Arara, de Christopher Katensmidt publicado pela editora Devir; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - A Bandeira do Elefante e da Arara é uma obra como poucas vezes vistas nas editoras nacionais, unindo os testosterona e a adrenalina americana com a fantástica e criativa paisagem brasileira de um período colonial rico em lendas e criaturas;

2 - E não tem como falar da obra sem abordar o fato de o autor Christopher Kastensmidt ser um americano radicado no Brasil, pois esse é um detalhe não curioso, mas sim revelador sobre nossa literatura fantástica visto que Kastensmidt traz para o gênero elementos de nossa cultura, muitas vezes renegados pelos autores nacionais, valorizando deste modo nossas lendas e trazendo novas cores e rumos para a literatura brasileira de fantasia;

3 - Nesse sentido poderíamos dizer que tão somente agora a literatura fantástica embrenha-se por um projeto que outrora vimos no romantismo e modernismo em obras como Iracema e Macunaíma, cabendo a um autor vindo de outro país dar o tom da proposta deixando claro que há infinitas possibilidades de contarem-se histórias fantásticas com seus seres nacionais. Aliás, o livro encaixa-se num dos bons exemplos de discussão sobre nacionalidade das literaturas;

4 - E para desenvolver sua proposta o autor nos conta as histórias e as aventuras de Gerard Van Oost e Oludara, um holandês e um africano que em terras brasileiras enfrentam monstros e criam laços com uma terra ainda em construção durante sua colonização num ambiente  carregado de perigos, mas também de promessas e desafios;

5 - Nessa paisagem inóspita e hostil, os dois então, penetram por nossas principais lendas do Saci Pererê ao Pai-do-Mato, além de dialogar com a matriz de cultura africana por meio de Oludar ao mesmo tempo que os protagonistas interagem com bandeirantes e índios nativos construindo uma série de histórias percorrendo os principais endereços do Brasil colonial;

6 - Contudo, o interessante e curioso é justamente o fato de que mesmo voltado às nossas lendas, o livro carrega sua identidade americana com personagens que possuem nuances muitas vezes vistas no cinema, como o perfil de Van Oost o herói que zomba do perigo e tira sarro do inimigo (ainda que moldado pela crença protestante e sendo ele holandês) como se fosse um caubói das antigas. Além disso, Antônio Dias é uma típica nêmesis da cultura pop americana, aquele tipo de vilão que está sempre à espreita, algo como Esqueleto e He-man, Cobra e Comandos e Ação, e por aí vai;

7 - Portanto, temos nesta obra uma publicação bastante peculiar cuja narrativa é capaz de envolver-nos com seu avanço linear carregado de tensão e movimento mantendo a ação sempre em alta do princípio ao fim sendo um prato cheio para os fãs do gênero;

8 - Entretanto, há ainda outra curiosidade e reflexão a ser feita da obra de Van Oost e Oludara, pois ao mesmo tempo dá nova vida à literatura fantástica brasileira, ao mesmo tempo projeta um período de extermínio de nossas criaturas lendárias e da magia retratando o avanço da humanidade sobre as matas e as florestas e com isso exterminando seus monstros, empreitada esta que mesmo de uma forma diferente, é apoiada nas aventuras dos protagonistas que ao mesmo tempo que vivem a fantasia, também a matam haja vista que algumas criaturas ocupam as linhas inimigas;

9 - E não poderia encerrar os itens desta reflexão sem falar que a grande demostração da pujança fantástica tupiniquim confirma-se no ápice que é o encerramento do livro ao mostrar a grande batalha contra o Pai-do-Mato, uma criatura gigantesca que não perde em momento algum para os monstros de Tolkien e Martin numa sequência de cenas de tirar o fôlego que acima de tudo reforçam a estrutura cinematográfica da narrativa, desde a abertura de seus capítulos ao enquadramento e pontos de virada que o texto nos revela;

10 - Enfim, há muitos motivos para se ler A Bandeira do Elefante e da Arara, mas acima de todos eles, é preciso mencionar o prazer e o deleite que o livro nos proporciona numa aventura gigante em diversos sentidos que nos aproxima da leitura ao mesmo tempo que valoriza nossa cultura, e aqui uma valorização trazida pelo olhar de um autor estrangeiro que conseguiu captar para nossa literatura fantástica muitas coisas que às vezes não éramos capazes de perceber.



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