10 Considerações sobre A última Carta do Tenente, de William Douglas ou porque russos bebem vodka

O Blog Listas Literárias leu A Última Carta do Tenente, de William Douglas, publicada pela editora Planeta; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 – A última carta do tenente é uma leitura para quem busca especificamente obras de autoajuda ainda que disfarçada de ficção, e que da mesma forma seja capaz de administrar seus conceitos e valores de criticidade, pois no campo literário a publicação sofre de alguns problemas;

2 – A começar pela concepção da própria obra, que nasce segundo introdução e falas do autor ao ele ter sido tocado por uma trágica experiência real em que um submarino russo afunda e seus 118 tripulantes morrem, acontecimento que impulsiona a obra na tentativa de “reescrever” ou imaginar uma das cartas encontradas com o Tenente Dmitri Koleniskov que da partida à ficção de William Douglas e cujas intenções podem ter sido boas, contudo a execução da narrativa literária permeada de problemas;

3 – E dentre estes problemas algo que é obvio para qualquer leitor, independente de seu grau de letramento, que é a voz contida na carta ficcional do livro de Douglas. Em nenhum momento encontraremos ali resquícios de um militar russo despedindo-se, o que dá a impressão de que tudo que ali consta são tão somente valores e ensinamentos do próprio autor;

4 – Além disso, o tom da carta de despedida, e talvez de “acerto de contas” não consegue reproduzir um ambiente tão tenso como o que deveria ser aqueles últimos instantes, além de termos uma voz pretensamente militar russa quase como um pregador religioso, o que sonha estranho para fins de verossimilhança, inclusive com os costumes que vão sendo desvelados ao longo da carta, como as citações ao vinho e não à vodka;

5 – Da mesma forma, há no texto uma série de contradições e pensamentos estranhos, como a própria concepção do olhar deste homem ao tratar ou lembrar da esposa a quem se destina a carta, que fugindo do espiritual, e coberta de palavras físicas e carnais, embora tentasse passar uma mensagem diferente;

6 – Sem falar de que a imaginada carta não traz nada de novo que não tenhamos visto em outras obras semelhantes no cinema e literatura, como aproveite seus bons dias, cuide de sua mãe, enfrente a hora fatal com naturalidade e não se desespere, mesmo sabendo do inevitável em poucas horas;

7 – Então, confesso que por tais motivos tive sérias restrições durante a leitura da obra, pois além de certo pedantismo do tom, a grande quantidade de clichês e mensagens que a mim não cativaram tornam a leitura vazia, especialmente porque se em sua intenção inicial, a autoajuda, ela não traz nada de novo, enquanto no campo literário, observaremos ainda mais fragilidades;

8 – E para um leitor minimamente exigente é o que pode ocorrer, focalizar seu olhar para tais deficiências como a composição do personagem real ficcionalizado, a ausência de menção ao que passa em suas últimas horas, e principalmente porque perceberá o leitor, embora pretenda, esta não parece ser uma carta escrita nos estertores da morte;

9 – Entretanto, é preciso dizer que por não ser uma obra longa, é possível lê-la rapidamente, pouco mais de uma hora, o que é uma boa coisa, além de sua introdução interessante sobre o acidente com o submarino Kursk em que o autor fala desta inspiração para a escrita;

10 – Enfim, A Última Carta do Tenente é uma obra que até pode agradar uma boa parcela de leitores, contudo desde que haja algumas concessões a seus problemas, seja naquilo que está em sua essência seja de suas características literárias.




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