O blog Listas Literárias leu Atrizes, de Leo Chacra. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre este livro de contos marcados pela arte, pela cultura e pela paixão aos palcos e à arte de representar. Confira:
1 - Atrizes, de Leo Chacra, é a reunião de sete contos que como o próprio título indica, têm em comum a presença em suas narrativas de atrizes e as múltiplas encenações de quem tem os palcos como habitat natural. Aliás, embora, tenhamos atrizes nas narrativas que enveredem-se por outras formas de atuar, é do teatro que aqui se fala, inclusive com a manutenção de certa percepção distintiva entre atuação em palcos ou em telas;
2 - Os textos são marcados por narrativas aparentemente simples, como se se fossem um barco à vela em águas calmas e sem vento. Não quer dizer com isso que façamos aqui uma crítica, pelo contrário, os contos, por estética não tomam o caminho do espalhafatoso, do barulho ou outros elementos digamos, carregados de adrenalina. Soam triviais, resgatam memórias aqui, ali tratam de relacionamentos, alguns desejos, mas sempre em uma aparente tranquilidade. Contudo, é justamente este estilo que nos leva a olhar para as camadas que, parece-nos, ocultas sob esse susposto marasmo. É a tranquilodade que traz certa eloquência às narrativas que nos apresenta;
3 - Assim, embora, como dissemos, tendo o elemento comum a presença de atrizes, cada conto percorre seu próprio caminho e abre-nos a outras temáticas que não apenas os palcos - ainda que a paixão por eles seja a cola que tudo gruda. É o exemplo do conto "Atrizes" que nomeia o título. Nele, uma narrativa em diferentes tempos, migrações, uma dose de suspense constrativo com os elementos históricos que o moldam e ainda, a transmissão geracional da arte de encenar, nem sempre nos palcos;
4 - O livro abre com o conto "A mulher do Hamlet" que para além das referências ao gênero dramático, como a tranquilidade que carecterizam as narrativas, traz disensos, intrigas e o ambiente competitivo que por vezes é o teatro, além, é claro, dos encontros e desencontros das paixões;
5 - Se, como dissemos, de modo geral, os contos apresentam certa tranquilidade, provavelmente o mais intenso, com um final que inclusive busca a tal ma maior impressão sobre o leitor, é o conto "Atriz aos cinquenta". Esse é o que talvez mais carregua a comprensão como a própria vida enquanto uma representação, uma representação com máscaras que nos oprimem a viver diferentemente dos desejos mais íntimos. Um conto performativo e transformativo capaz de talvez se constituir no mais emblemático e significativo da coletânea;
6 - Já o conto "A grande chance" traça paralelos entre a decadência do teatro e a própria decadência do espaço urbano. Trata-se de um conto rápido, curto, mas um conto capaz de retirar o glamour geralmente pensado aos artistas (os famosos) e levar a arte à mundanidade e à sobrevivência dos que dele insistem maneira e modos de vida;
7 - Outro conto curtíssimo é "Ela, a garota da porta ao lado". O conto tem uma pegada um tanto satírica, ao menos pareceu a este leitor e como elemente interessante, mesmo em tão pouco espaço, relembra-nos de que a arte dramática vai além de atrizes e atores, há nesse entorno outras ocupações - claro que com alguma frustração envolvida...
8 - Já em "O filme" a encenação muda, adentra à seara do cinema, mas, diga-se sem deixar no esquecimento o teatro. No conto, fama, traições e pessoas que na lógica do trabalho do ator é arranjar trabalho reproduzem uma espécie de selva das claquetes o que, de cetro modo, expõe algo ques está um tanto oculto sob a tranquilidade: uma espécie de individualismo patológico em grande parte das personas que habitam as narrativas do livro;
9 - O livro encerra com o conto "A montagem" que como o nome indica, um conto muito teatral. Um conto dos palcos. Mais uma vez temos as referências e influências do drama como fundo dos encontros e desencontros de pessoas marcadas pela arte teatral;
10 - Enfim, Atrizes é uma interessante publicação capaz de dar conta das intenções e talento do autor com a escrita. Temos em mãos 7 (não 8 como diz nas orelhas) de leitura emblemática, não por seus mistérios, mas pelo fato de que somos tentados a buscar suas camadas ocultas. Além disso, inegavelmente é uma interessante publicação sobre a multiplicidade do encenar, seja nos palcos, seja na vida.