10 Considerações sobre Piratas à vista, de Samir Machado de Machado ou ouro, cachaça e confusões

O blog Listas Literárias leu Piratas à vista, de Samir Machado de Machado publicado pela Champagnat Editora e integrante do PNLD Literário - Ensino Médio. Neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:


1 - Às vezes nos esquecemos o quanto de histórias e aventuras podemos ler e escrever a partir das nossas próprias experiências históricas, mas é isso que justamente nos lembra Samir Machado de Machado em nos presentear com uma belíssima e divertida história de piratas, porque, sim, nós podemos elaborar muitas histórias de piratas pela costa brasileira e isso totalmente alinhados com nossa história, caso desse romance histórico carregado de aventura;

2 - Na obra o autor, como pede e também "manda" o gênero, faz uma mescla entre personagens históricos conhecidos e personagens ficcionais que soam como se tivessem existido graças à construção em diferentes camadas de complexidades que pairam ao fundo da primeira superfície do texto. Assim, apresenta-nos três interessantes jovens protagonistas que se revelam mais que aventureiros, também muita inteligência e astúcia em meio a confusão que cria com os piratas (oops, corsários franceses);

3 - Jorge é filho de um Capitão associado a Rodrigo de Freitas e junto com André estudam Colégio dos Jesuítas, cujo grupo será fundamental no conflito maior causado pelo governador "O Vaca". Junto aos dois junta-se Leonor, irmã de André, que além de toda sua inteligência e leitura, acaba dando luz à condição feminina no período, cuja qualquer saída de casa era uma impossibilidade. A ela, ao menos, a invasão pirata possibilitou algo que jamais poderia ter experimentado. Aliás, vale ressaltar que o autor procura alertar de que sua narrativa toma algumas liberdades, mas cabendo de modo geral, certa fidelidade aos detalhes;;

4 - A premissa da narrativa parte do evento histórico dos idos de 1710 quando um pirata francês (oops, corsário) e sua turma cercaram o Rio de Janeiro em busca do ouro português. Numa série de desencontros e confusões na defesa da cidade em virtude das inaptidões do governador cujo povo nomeou "O Vaca", a cidade teve de ser defendida (e salva) pelos estudantes do Colégio dos Jesuítas e moradores, enquanto o exército batia cabeça desorganizadamente;

5 - Nesse sentido, Samir Machado de Machado com grande habilidade insere suas personagens entre esses membros heroicos, pois Jorge e André mostram-se verossímeis nesse contexto, cada qual com suas particularidades, Jorge, um menino fruto da miscigenação entre etnias, um elemento importante de nossa constituição e André, a quem Machado procura pintar seus segredos e mistérios com muita sutileza, às quais o leitor observador compreenderá melhor o personagem;

6 - Agora, partindo para uma abordagem mais centrada na leitura, devemos reforçar que a obra faz jus ao gênero que escolhe por narrar sua jornada. Trata-se de uma jornada tão cativante e envolvente como a lembrança que o autor faz de suas leituras de Robert L. Stevenson, grande marco das aventuras de piratas. O livro de Machado consegue sua própria voz e autenticidade ao mesmo tempo que é capaz de ecoar os grandes clássicos do romance de aventura cuja marca de êxito é prender o leitor, o qual não consegue desprender-se das páginas até o final da leitura. E isso o livro conseguiu conosco;

7 - Além disso, o êxito de uma narrativa de aventura também pode ser medido de algum modo na capacidade imersiva a que atira seus leitores. Nesse casso, mais que um portal para um lugar, temos também uma máquina do tempo que submerge seus leitores no tempo, num Rio de Janeiro de outrora, por isso único, dotado de uma paisagem ao mesmo tempo maravilhosa, mas também cheia de desafios, como descobrirá o pirata (oops, corsário) Duclerc;

8 - Soma-se a isso a habilidade com que o autor é capaz de construir as suas cenas e as transições entre estas. Essa habilidade torna nossa leitura um tanto quanto voraz, pois a ação mesclada na medida certa com as reflexões e construções do cenário histórico e social, tornam a leitura muito fluida ao passo que acompanhamos com certa vertigem a aventura a mesmo passo que uma série de elementos subjacentes vais se apresentando nas mais diferentes camadas aos leitores;

9 - E aqui precisamos falar desse acerto da obra. Trata-se de uma leitura que tem sido distribuída pelo PNLD Literário e nesse quesito a obra cumpre seus objetivos "pedagógicos" e educacionais sem transformar a literatura em algum didatismo. E isso a este leitor é caro. Samir Machado de Machado escreve uma aventura e é uma narrativa de aventura que temos, ao passo que seu olhar para as estruturas históricas, ao passo que uma série de conhecimentos interdisciplinares vêm ao leitor, são todos trazidos como mais uma das qualidades e não como objetivo principal, ao menos, nos possibilita essa sensação. Trata-se pois não de um livro didático que se tinge de literário, mas uma narrativa literária que pode trazer muitos benefícios didáticos e pedagógicos aos seus leitores. Para quem gosta de literatura isso é importante;

10 - Enfim, Piratas à vista é uma divertida narrativa sobre o brilho do ouro capaz de evocar as ambições mais tenebrosas dos homens. E o faz isso com elementos reais de nosso passado histórico e que para além do prazer de uma boa aventura, dos conhecimentos que a obra compartilha conosco, ao fim, em suas páginas finais, Samir Machado de Machado ainda lança seu olhar para o ontem e o hoje, uma ponte que liga brasis onde coisas estranhas ocorrem, como veremos em uma ou outra reflexão do narrador, que, aliás, diga-se, é um grande condutor dessa trama pois tece o tecido literário com muito engenho e bom humor.

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