O Blog Listas Literárias leu O anel do poder, de Jean Shinoda Bolen publicado pela editora Cultrix; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:
1 - Integrante da Biblioteca Junguiana de Psicologia Feminina, O anel do poder se propõe a observar a partir da ópera de Wagner, O Anel dos Nibelungos como o ciclo do anel "penetra as emoções da vida real e reflete diante de nós temas que vivemos". Para isso, a autora se dedica "à descrição de cada ópera" combinando comentários baseados na psicologia arquetípica junguiana, a psicologia dos relacionamentos deficiente e do patriarcado;
2 - De acordo com Bolen, ela, "na qualidade de psiquiatra e analista junguiana" tenta ao longo da obra "reconhecer o que tem sentido em termos psicológicos. É com esse "ouvido", e não com o de um músico, que ouvi O Anel dos Nibelungos". Seu olhar volta-se então para "o poder que tem o mito de ressoar nas camadas mais profundas da nossa psique";
3 - Em síntese o que faz a autora no livro é justamente isto, partindo dos arquétipos junguianos ela nos fornece um estudo psicológico dos diferentes arquétipos presentes no ciclo do anel, observando, especialmente, as relações destes com os sistemas patriarcais. Assim, é também uma obra acerca do poder do patriarcado em nossa sociedade e suas reverberações na psicologia humana;
4 - A autora sustenta sua argumentação partindo da ideia que "os mitos e as metáforas, assim como os sonhos, são valiosos instrumentos que atraem a atenção do ouvinte, do sonhador ou leitor para uma personagem, um símbolo ou uma situação". Para ela "eles causam uma impressão, são lembrados e nos incitam a descobrir o que significam...";
5 - Assim, o livro trata-se portanto de "interpretações psicológicas" que Bolen tece seus "comentários acerca da história são, pois, sugestões, significados potenciais baseados no [seu] conhecimento das pessoas, dos arquétipos..." Isso tudo a própria autora esclarece ao leitor, cabendo talvez preencher a ausência de que por mais que uma produção cultural ou artística possa alegoricamente representar ou significar as atividades humanas, por certo nunca ela será capaz de possuir a mesma profundidade e complexidade do próprio ser humano;
6 - Além do papel do patriarcado, as interpretações da autora desaguarão em questões sempre presentes ao longo de seus comentários, como as relações de poder, especialmente as relações tortuosas da busca por esse poder, que a ela, de modo geral está ligado ao patriarcado, às frustrações, etc...
7 - Aliás, isto fica um tanto mais evidente quando diz ela que "a história da vida de qualquer pessoa para quem o poder conta mais que o amor se passa numa família, numa organização ou nação integrada no patriarcado, uma cultura que enfatiza o domínio de pessoas, de classes ou de nações obre outras pessoas, classes ou nações, que enfatiza supremacia ideológica decidida pela força e religiões... o poder é princípio predominante do patriarcado...";
8 - E é que entra talvez a proposição mais polêmica do livro. Bolen está "convencida de que entramos no mundo procurando ser amados e de que buscamos o poder quando não somos amados". Para ela o poder, então, é espécie de consolo e de vingança daquele sem amor, o que pode levantar concordâncias e refutações. Mas a ela, o amor será sempre o antídoto ao poder, considera-o o puro ouro da psique, e nisso, nos entrega talvez uma psicologia utópica;
9 - Vale dizer ainda que para além das interpretações psicológicas, o livro é ainda um farto material de discussão sobre esta influente obra que é O Anel dos Nibelungos cujos mitos e metáforas impregnam o imaginário coletivo da humanidade, influenciando, inclusive outras grandes narrativas como o caso de O senhor dos anéis;
10 - Enfim, a seu modo Jean Shinoda Bolen não apenas põe em discussão as relações entre patriarcado e poder, neste livro, a partir da observação arquetípica, a autora nos demonstra como os comportamentos presentes no mito se repetem em nossas vivências e experiências, ou seja, a partir das histórias do ciclo do anel ela oferece aos leitores a possibilidade de enxergarem-se numa ou noutra situação.
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