7 Considerações sobre Voo 606 de 11 de setembro, de Dulce Rodrigues

O Blog Listas Literárias leu Voo 606 de 11 de setembro, de Dulce Rodrigues publicado pela editora Helvetia; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:

1 - Nos enviado pela editora Helvetia, que publica obras em língua portuguesa na Suíça, Voo 606 de 11 de setembro é uma narrativa portuguesa que tem como virtude conseguir abordar algo pouco falado quando se trata daquela data, não centrando a ação diretamente ao World Trade Center, mas sim, por meio de seus protagonistas, revelando vidas que tiveram seus planejamentos alterados em virtude dos acontecimentos cujos voos foram desviados para a cidade canadense de Gander, que acabou recebendo mais de 6 mil pessoas em rotas desviadas;

2 - E aqui temos uma questão relevante a tratar, pois sim, é uma obra no português típico de Portugal, o que nos propicia uma interessante viagem pela questão da linguagem, no que nos aproxima e nos distancia da Patria Mater em termos linguísticos.  E não falo aqui apenas da natureza lexical das diferenças em seus pequenos-almoços e telemóveis, mas mais amplo que isso, nas nuances sintáticas, na mesóclise bem mais presente e especialmente pela presença de algo que na língua de cá morreu faz tempo, a segunda pessoa do plural, que por lá ainda reina. Enquanto observação linguística é um curioso e prazeroso exercício;

3 - Aliás, a leitura do livro, como me parece-me muitas das leituras em português europeu, justamente pelos fatores que nos distanciam, nesse caso específico é como se estivéssemos lendo (judiaria o gerúndio por lá ser um fantasma, acho que ele tem seu valor) uma coisa muito antiga que ao leitor brasileiro de hoje soará como a leitura de uma de nossas narrativas do Século XIX;

4 - Mas deixando a natureza da linguagem de lado, quanto ao livro e sua trama, trata-se de algo simples, bem mais centrado na vontade de narrar outras perspectivas que não apenas a tragédia do 11 de setembro, e, para isso, Dulce Rodrigues escala então Robert, seu protagonista que esta em viagem aos Estados Unidos quando seu voo é desviado para Gander, onde acabará revendo sua própria vida e o estilo desta vida;

5 - Há então certa metáfora ao próprio acontecimento, pois que, desde que as televisões do mundo começaram a transmitir as torres em chamas, todos já sabiam que o mundo não seria mais o mesmo, algo que penetrará na história de Robert em sua viagem e na quebra do seu mundo regrado e planejado de homem bruto nos negócios;

6 - De certo modo, esta pequena e curta novela aproxima-se de Um Conto de Natal, de Dickens, pois o empresário obcecado pelo trabalho e distante de relações humanas afetivas, acabará em meio a esta viagem interagindo com uma jovem miúda que abrir-lhe-á a novas perspectivas humanas, pondo em xeque toda sua sisudez e certa rabugice, para ao final, ainda, levá-lo a entregar-se ao amor;

7 - Enfim, O voo 606 de 11 de setembro é justamente essa busca pelo lado adocicado da existência imprimindo certo valor às coisas tidas banais para muitos, especialmente para autômatos dos negócios. É uma novela curta cujos principais valores abordados são o da disponibilidade aos sentimentos, seja amizade, seja o amor, ambos que no caso do protagonista Robert parecem exercer certo mistério mágico em sua conduta após a experiência.


 

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